Olá pessoal, o Clube do Conto está meio que de recesso, final de ano é sempre o mesmo bla bla bla: Natal, trabalho acumulado, Ano Novo e algumas confraternizações, por isso que o blog não está merecendo a devida atenção.
Breve retrospectiva: o ano de 2009 foi excelente para o Clube, novos participantes chegaram com todo um estilo diferente de contos, destaque para os que quase não faltam: Romarta, Luciana e Emerson; a revista ponto chegou para ficar (quatro números até o presente momento); o blog passou a ser atualizado com mais frequência; criamos um twitter e um perfil no orkut; e mudamos de local várias vezes (Escola Aruanda, restaurante Coelho´s).
Previsões para 2010: a tão esperada camisa do Clube; contos, bastante contos; e mudar de local (mais uma vez).
Enfim, feliz Natal para todos e bom ano novo!
J. Laudelino de M. NT
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
Ata Roma(r)ta
Ata referente ao dia 28 de novembro de 2009.
Fomos todos camuflados. Óculos, vestidos, maquiagem e batatinha frita. Em um número reduzido para não levantar suspeitas. E assim tomamos decisões importantes como o tema do conto da próxima semana (A Praia de Copacabana), onde cem palavras ficaram proibidas.
A última a chegar à reunião foi Luciana Silveira, fazia parte da estratégia, assim como o meu não atraso.
Estiveram lá também André Aguiar, Alfredo. Valéria Resende (repleta de idéias) e Vivi Resende que voltaram de uma grande missão. Raoni, Laudelino, Rosilda e Emerson, nosso enviado secreto oficial às missões quase impossíveis.
A idéia de um amigo secreto tornou-se idéia de amigo do conto. Sabe como é? É uma brincadeira onde o contista escreve um conto para o outro- pode ser também uma poesia- só não vale revelar de cara quem é o destinatário. Lógico.
Pra não estragar nosso disfarce ficamos desconcentrados algumas vezes e quem estava a nos espiar caiu direitinho pensando que pairava ali somente mais uma reunião do Clube do Conto.
Por fim uma última façanha. Tornei-me a Ateira da semana. Tudo em nome de um bom disfarce.
Maria Romarta.
Imagens retiradas de
- http://www.flickr.com/photos/mkinsvater/2934310141
- https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWNWAODq3_7kAiomxH5VdjAWeoGXaQSi5RcRHenvJj3CX10xbYG0EHhpzCCnXMAJIXDZto3D4lhMjF9c7XmZdGZXh0Fcb1KUy36RnsqjnH57T1s0HzDdnDTsPeDfksYF8oqbRb/s400/camuflagem-4359.jpg
Fomos todos camuflados. Óculos, vestidos, maquiagem e batatinha frita. Em um número reduzido para não levantar suspeitas. E assim tomamos decisões importantes como o tema do conto da próxima semana (A Praia de Copacabana), onde cem palavras ficaram proibidas.
A última a chegar à reunião foi Luciana Silveira, fazia parte da estratégia, assim como o meu não atraso.
Estiveram lá também André Aguiar, Alfredo. Valéria Resende (repleta de idéias) e Vivi Resende que voltaram de uma grande missão. Raoni, Laudelino, Rosilda e Emerson, nosso enviado secreto oficial às missões quase impossíveis.
A idéia de um amigo secreto tornou-se idéia de amigo do conto. Sabe como é? É uma brincadeira onde o contista escreve um conto para o outro- pode ser também uma poesia- só não vale revelar de cara quem é o destinatário. Lógico.
Pra não estragar nosso disfarce ficamos desconcentrados algumas vezes e quem estava a nos espiar caiu direitinho pensando que pairava ali somente mais uma reunião do Clube do Conto.
Por fim uma última façanha. Tornei-me a Ateira da semana. Tudo em nome de um bom disfarce.
Maria Romarta.
Imagens retiradas de
- http://www.flickr.com/photos/mkinsvater/2934310141
- https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWNWAODq3_7kAiomxH5VdjAWeoGXaQSi5RcRHenvJj3CX10xbYG0EHhpzCCnXMAJIXDZto3D4lhMjF9c7XmZdGZXh0Fcb1KUy36RnsqjnH57T1s0HzDdnDTsPeDfksYF8oqbRb/s400/camuflagem-4359.jpg
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Sessão de Contos (6)
Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.
Esta semana exibiremos um conto de Alfredo Albuquerque, lido no 1.º Luau do Clube do Conto, onde os personagens são os participantes do Clube, a ideia era que cada um interpretasse a sua fala.
***
Luau
O vento uiva tenebroso. O mar repousa majestoso e negro sob a lua quase nova. As ondas chiam delicadamente. A noite chega a seu ponto divisor. O bip de um relógio digital de pulso agride o silêncio.
Ana Virgínia, apoiada no colo de Bonifácio, estreita o abraço e fecha os olhos. A brisa joga-lhe os cabelos sobre o rosto. Bonifácio sussurra em seus ouvidos.
_ Já deu meia noite.
Faz-se silêncio. Então Virgínia indaga.
_ Estou com uma intuição de que o encontro de hoje será diferente. Há algo no ar que só as mulheres percebem. Será que Ela vai aparecer?
_ Ela sempre aparece.
Poucos metros à frente, Laudelino acende uma lanterna. Aponta na direção de Emerson, que luta uma batalha exaustiva contra o implacável vento que tenta apagar seu cigarro. Atingido pela luz, seu rosto adquire um aspecto de fantasma, reforçado pelas distorções de expressão causadas pelo esforço em puxar o difícil trago. Reclama da lanterna.
_ Rapaz, tira essa luz do meu rosto, que está incomodando.
Laudelino aponta para outro lado e encontra Ronaldo, deitado na areia, com os olhos fixos em algum ponto do céu absurdamente estrelado. Parece balbuciar algo para si mesmo enquanto risca no ar linhas que, supõe-se, sejam reproduções das constelações. Laudelino intervém.
_ Descobriu um novo anel em Saturno?
_ Não, mas é possível numa noite como essa, em que o céu está pontilhado de estrelas antigas, estabelecer uma relação entre os arquétipos humanos e pequenos grupos constelacionais. O escorpião, por exemplo, pode ser dividido em três partes, onde podemos discernir as formas do político canalha, da estrela da mídia de entretenimento e do mau poeta.
Dôra Limeira, um pouco afastada do grupo, tenta localizar, no céu, as formações estrelares correspondentes às linhas traçadas por Ronaldo no ar. Roberto a chama.
_ Junte-se a nós, Dôra. Conte-nos novamente o que se sabe a respeito da história dEla.
_ Não quero ficar num círculo. Me agrada mais a estabilidade das formas retangulares, onde tudo se apoia na segurança de uma base firme. Círculos são traiçoeiros e pendem imprevisivelmente para lados inesperados.
_ Podemos nos redistribuir nas arestas de um quadrado, com a vantagem de termos um centro para quem gosta deles e quatro cantos para quem prefere a discrição dos cantos.
Dôra cede e se integra.
_ Diz a lenda que Ela foi afogada pelo noivo após descobrir uma traição. Toda terça à tarde Ela simulava ir ao psicólogo e se encontrava com outro homem em um hotel do centro histórico. Correm boatos de que o casal, ao fazer amor, emitia sons estranhíssimos, como os de gatos no cio. A falta de discrição chamou a atenção de outros frequentadores do hotel e, certo dia, a moça foi reconhecida por um amigo do noivo, cliente de prostitutas baratas. Ao saber da traição o noivo convidou a mulher para ir a Cabo Branco numa noite de domingo, prometendo uma surpresa. Ao chegar à beira do mar, num ponto mais afastado da área de movimento, mostrou-lhe o anel caríssimo, comprado para selar a união eterna. Entraram nus na água e, no primeiro beijo, a moça foi surpreendida pela mão atrevida em sua vagina.
"O que você está fazendo?" - Perguntou ela.
"É a sua aliança. Você vai carregá-la em seu ventre para toda a eternidade."
Regina Behar, ultimamente ausente do grupo e desconhecedora da história, de olhos arregalados pergunta:
_ E o noivo? O que aconteceu a ele depois? Ele foi atrás do amante?
_ Não. Ele deixou um bilhete assumindo o crime e isentando o amante de culpa, dizendo que a traição foi da mulher e não do outro, que nem sequer conhecia. Depois sumiu no mundo. Dizem que tornou-se líder religioso em Moçambique.
_ Que história, hem?
_ É...
E faz-se um longo silêncio.
Emerson dá um trago mal calculado no cigarro e tosse, quebrando o clima de reflexão.
Laudelino lembra-se repentinamente de algo e pergunta para os presentes:
_ Alguém por acaso sabe o resultado do jogo do Sport?
Ninguém responde.
Eli inicia desenhos na areia e, pela concentração que dedica aos detalhes, percebe-se que são desenhos complexos. Faz riscos, ergue montes, cava poços, e depois destrói tudo com as mãos, alisando a areia até planificá-la para novamente recomeçar na nova tela vazia. No meio de uma das obras Roberto estende um canudo retirado do copo plástico de caipirinha. Pergunta.
_ Vai precisar de tubulação?
_ Dessa vez não fiz uma cidade. Estou tentando me lembrar das estampas do vestido que Ela estava usando da última vez. Você se lembra se eram flores?
_ Não... não me lembro. Talvez fossem estrelas do mar.
Raoni também desenha, mas em seu bloco de rascunhos. Faz um retrato de Bonifácio que, por algum motivo, o inspirou a criar um novo personagem para um história em quadrinhos que está desenvolvendo baseada em Alice no País das Maravilhas.
_ Você se importa que eu use seus traços para compor o personagem do coelho filósofo viciado em jogos de computador da década de 80?
_ Sem problema, contando que você mantenha os óculos.
Maria Romarta chega, atrasada.
_ Eu queria pedir mil desculpas pelo minha imperdoável nagligência quanto à pontualidade desse nosso importantíssimo encontro no que se refere ao estreitamento de laços sociais literários e à boa acolhida que devemos à Ela.
André a conforta.
_ Não se preocupe, Romarta, que Ela ainda não apareceu. Inexplicavelmente está atrasada dessa vez.
Luciana, que até então estava em silêncio, concentrada em uma posição impossível da Yoga, sugere:
_ Poderíamos aproveitar que estamos na areia para fazermos uma sessão de alongamento conjugada com um pouco de meditação transcendental e exercícios respiratórios desenvolvidos especialmente para aumentar o desempenho sexual tântrico. Que tal?
Valéria Rezende desaprova.
_ Luciana, se eu me alongar, depois de todo o cansaço de um dia dedicado à reforma de minha casa e à administração de peões, acho que corro o risco de fazer uma postura da qual nunca mais vou conseguir sair. Talvez eu prefira fumar um cigarro.
Viviane, sentada ao lado da irmã, sugere:
_ Eu também acho que prefiro outra coisa. Se vocês quiserem, eu trouxe uma cesta repleta de potes de mousse de chocolate. Seriam para Ela, mas acho que eu comprei uma quantidade exagerada.
_ Pois eu topo a Yoga. - exalta-se Carlos Cartaxo - Será uma excelente oportunidade para a obtenção de novas técnicas que passarei a meu alunos que estão se preparando para encenar uma polêmica peça pseudocontemporânea de cunho socio-filosófico.
André Dias, alheio a tudo e a todos, rabisca um pequeno bloco.
Curioso, Alfredo investiga:
_ Resolveu escrever um conto justamente aqui e a essa hora?
_ Não. É que estou fazendo resenhas dos filmes que comprei daquela locadora de DVDs que fechou recentemente as portas. Vendi meu carro para comprar todo o acervo e agora me comprometi a ver um filme por dia. Hoje de manhã assisti àquele péssimo fime "A dama da água" e agora estou escrevendo sobre ele.
_ Pessoal, - intervém André - estou percebendo uma movimentação na água. Penso que será agora.
Bolhas de sabão sobem das águas escuras de Cabo Branco. Na área da turbulência podem ser vistos sacos plásticos e embalagens de biscoito revirados pela água e expelidos em direção à praia. Dos fones de ouvido de Emerson brota uma música estranha que serve como música de fundo para o espetáculo. Lentamente emerge uma grande bolha que traz dentro de si uma mulher.
Ninguém se assusta. Todos a esperam ansiosos.
Dessa vez Ela está diferente. Sua nudez, antes coberta por plantas aquáticas, agora está explícita. Seu rosto parece mais triste. Ela caminha lentamente até o grupo e senta-se na areia, no centro da roda. Em silêncio, olha para cada um e sorri. Depois espera que, um por um, todos venham até Ela com o presente. Recebe livros de poemas, filmes antigos, uma garrafa de aguardente, enfeites femininos, uma camisa do Sport Club de Recife, uma câmara fotográfica sub-aquática e uma pequena escultura em metal de um jabuti. Em troca, oferece conchas dos mais variados tipos, cada uma com uma pequena pérola embutida. Ao final do ritual Ela se levanta e, para a surpresa de todos, começa a falar.
_ Essa será a última vez que nos veremos. Meu noivo foi morto em Moçambique, na guerra civil e, por isso, estou agora livre de sua maldição. A aliança com a qual ele me presenteou não está mais dentro de mim.
Ao dizer isso, Ela mostra a palma da mão direita. O pequeno aro de metal brilha intensamente e ofusca todos por um momento. Ela deposita o anel na areia e diz:
_ Agora estou livre para amar novamente.
O brilho aumenta. Envolve todos numa cegueira branca. O som dos fones aumenta até um nível insuportável.
Então tudo cessa.
Ela já não está mais lá. O anel despareceu. Tudo, aparentemente, volta à sua calma primordial.
Todos se levantam, como recém acordados de um sono profundo, povoado de sonhos. Caminham em silêncio para longe da praia. Juntam-se novamente, no calçadão, para se despedir. Só então percebem que André Aguiar não voltou.
Alfredo Albuquerque
João Pessoa, 2 de novembro de 2009
Esta semana exibiremos um conto de Alfredo Albuquerque, lido no 1.º Luau do Clube do Conto, onde os personagens são os participantes do Clube, a ideia era que cada um interpretasse a sua fala.
***
Luau
O vento uiva tenebroso. O mar repousa majestoso e negro sob a lua quase nova. As ondas chiam delicadamente. A noite chega a seu ponto divisor. O bip de um relógio digital de pulso agride o silêncio.
Ana Virgínia, apoiada no colo de Bonifácio, estreita o abraço e fecha os olhos. A brisa joga-lhe os cabelos sobre o rosto. Bonifácio sussurra em seus ouvidos.
_ Já deu meia noite.
Faz-se silêncio. Então Virgínia indaga.
_ Estou com uma intuição de que o encontro de hoje será diferente. Há algo no ar que só as mulheres percebem. Será que Ela vai aparecer?
_ Ela sempre aparece.
Poucos metros à frente, Laudelino acende uma lanterna. Aponta na direção de Emerson, que luta uma batalha exaustiva contra o implacável vento que tenta apagar seu cigarro. Atingido pela luz, seu rosto adquire um aspecto de fantasma, reforçado pelas distorções de expressão causadas pelo esforço em puxar o difícil trago. Reclama da lanterna.
_ Rapaz, tira essa luz do meu rosto, que está incomodando.
Laudelino aponta para outro lado e encontra Ronaldo, deitado na areia, com os olhos fixos em algum ponto do céu absurdamente estrelado. Parece balbuciar algo para si mesmo enquanto risca no ar linhas que, supõe-se, sejam reproduções das constelações. Laudelino intervém.
_ Descobriu um novo anel em Saturno?
_ Não, mas é possível numa noite como essa, em que o céu está pontilhado de estrelas antigas, estabelecer uma relação entre os arquétipos humanos e pequenos grupos constelacionais. O escorpião, por exemplo, pode ser dividido em três partes, onde podemos discernir as formas do político canalha, da estrela da mídia de entretenimento e do mau poeta.
Dôra Limeira, um pouco afastada do grupo, tenta localizar, no céu, as formações estrelares correspondentes às linhas traçadas por Ronaldo no ar. Roberto a chama.
_ Junte-se a nós, Dôra. Conte-nos novamente o que se sabe a respeito da história dEla.
_ Não quero ficar num círculo. Me agrada mais a estabilidade das formas retangulares, onde tudo se apoia na segurança de uma base firme. Círculos são traiçoeiros e pendem imprevisivelmente para lados inesperados.
_ Podemos nos redistribuir nas arestas de um quadrado, com a vantagem de termos um centro para quem gosta deles e quatro cantos para quem prefere a discrição dos cantos.
Dôra cede e se integra.
_ Diz a lenda que Ela foi afogada pelo noivo após descobrir uma traição. Toda terça à tarde Ela simulava ir ao psicólogo e se encontrava com outro homem em um hotel do centro histórico. Correm boatos de que o casal, ao fazer amor, emitia sons estranhíssimos, como os de gatos no cio. A falta de discrição chamou a atenção de outros frequentadores do hotel e, certo dia, a moça foi reconhecida por um amigo do noivo, cliente de prostitutas baratas. Ao saber da traição o noivo convidou a mulher para ir a Cabo Branco numa noite de domingo, prometendo uma surpresa. Ao chegar à beira do mar, num ponto mais afastado da área de movimento, mostrou-lhe o anel caríssimo, comprado para selar a união eterna. Entraram nus na água e, no primeiro beijo, a moça foi surpreendida pela mão atrevida em sua vagina.
"O que você está fazendo?" - Perguntou ela.
"É a sua aliança. Você vai carregá-la em seu ventre para toda a eternidade."
Regina Behar, ultimamente ausente do grupo e desconhecedora da história, de olhos arregalados pergunta:
_ E o noivo? O que aconteceu a ele depois? Ele foi atrás do amante?
_ Não. Ele deixou um bilhete assumindo o crime e isentando o amante de culpa, dizendo que a traição foi da mulher e não do outro, que nem sequer conhecia. Depois sumiu no mundo. Dizem que tornou-se líder religioso em Moçambique.
_ Que história, hem?
_ É...
E faz-se um longo silêncio.
Emerson dá um trago mal calculado no cigarro e tosse, quebrando o clima de reflexão.
Laudelino lembra-se repentinamente de algo e pergunta para os presentes:
_ Alguém por acaso sabe o resultado do jogo do Sport?
Ninguém responde.
Eli inicia desenhos na areia e, pela concentração que dedica aos detalhes, percebe-se que são desenhos complexos. Faz riscos, ergue montes, cava poços, e depois destrói tudo com as mãos, alisando a areia até planificá-la para novamente recomeçar na nova tela vazia. No meio de uma das obras Roberto estende um canudo retirado do copo plástico de caipirinha. Pergunta.
_ Vai precisar de tubulação?
_ Dessa vez não fiz uma cidade. Estou tentando me lembrar das estampas do vestido que Ela estava usando da última vez. Você se lembra se eram flores?
_ Não... não me lembro. Talvez fossem estrelas do mar.
Raoni também desenha, mas em seu bloco de rascunhos. Faz um retrato de Bonifácio que, por algum motivo, o inspirou a criar um novo personagem para um história em quadrinhos que está desenvolvendo baseada em Alice no País das Maravilhas.
_ Você se importa que eu use seus traços para compor o personagem do coelho filósofo viciado em jogos de computador da década de 80?
_ Sem problema, contando que você mantenha os óculos.
Maria Romarta chega, atrasada.
_ Eu queria pedir mil desculpas pelo minha imperdoável nagligência quanto à pontualidade desse nosso importantíssimo encontro no que se refere ao estreitamento de laços sociais literários e à boa acolhida que devemos à Ela.
André a conforta.
_ Não se preocupe, Romarta, que Ela ainda não apareceu. Inexplicavelmente está atrasada dessa vez.
Luciana, que até então estava em silêncio, concentrada em uma posição impossível da Yoga, sugere:
_ Poderíamos aproveitar que estamos na areia para fazermos uma sessão de alongamento conjugada com um pouco de meditação transcendental e exercícios respiratórios desenvolvidos especialmente para aumentar o desempenho sexual tântrico. Que tal?
Valéria Rezende desaprova.
_ Luciana, se eu me alongar, depois de todo o cansaço de um dia dedicado à reforma de minha casa e à administração de peões, acho que corro o risco de fazer uma postura da qual nunca mais vou conseguir sair. Talvez eu prefira fumar um cigarro.
Viviane, sentada ao lado da irmã, sugere:
_ Eu também acho que prefiro outra coisa. Se vocês quiserem, eu trouxe uma cesta repleta de potes de mousse de chocolate. Seriam para Ela, mas acho que eu comprei uma quantidade exagerada.
_ Pois eu topo a Yoga. - exalta-se Carlos Cartaxo - Será uma excelente oportunidade para a obtenção de novas técnicas que passarei a meu alunos que estão se preparando para encenar uma polêmica peça pseudocontemporânea de cunho socio-filosófico.
André Dias, alheio a tudo e a todos, rabisca um pequeno bloco.
Curioso, Alfredo investiga:
_ Resolveu escrever um conto justamente aqui e a essa hora?
_ Não. É que estou fazendo resenhas dos filmes que comprei daquela locadora de DVDs que fechou recentemente as portas. Vendi meu carro para comprar todo o acervo e agora me comprometi a ver um filme por dia. Hoje de manhã assisti àquele péssimo fime "A dama da água" e agora estou escrevendo sobre ele.
_ Pessoal, - intervém André - estou percebendo uma movimentação na água. Penso que será agora.
Bolhas de sabão sobem das águas escuras de Cabo Branco. Na área da turbulência podem ser vistos sacos plásticos e embalagens de biscoito revirados pela água e expelidos em direção à praia. Dos fones de ouvido de Emerson brota uma música estranha que serve como música de fundo para o espetáculo. Lentamente emerge uma grande bolha que traz dentro de si uma mulher.
Ninguém se assusta. Todos a esperam ansiosos.
Dessa vez Ela está diferente. Sua nudez, antes coberta por plantas aquáticas, agora está explícita. Seu rosto parece mais triste. Ela caminha lentamente até o grupo e senta-se na areia, no centro da roda. Em silêncio, olha para cada um e sorri. Depois espera que, um por um, todos venham até Ela com o presente. Recebe livros de poemas, filmes antigos, uma garrafa de aguardente, enfeites femininos, uma camisa do Sport Club de Recife, uma câmara fotográfica sub-aquática e uma pequena escultura em metal de um jabuti. Em troca, oferece conchas dos mais variados tipos, cada uma com uma pequena pérola embutida. Ao final do ritual Ela se levanta e, para a surpresa de todos, começa a falar.
_ Essa será a última vez que nos veremos. Meu noivo foi morto em Moçambique, na guerra civil e, por isso, estou agora livre de sua maldição. A aliança com a qual ele me presenteou não está mais dentro de mim.
Ao dizer isso, Ela mostra a palma da mão direita. O pequeno aro de metal brilha intensamente e ofusca todos por um momento. Ela deposita o anel na areia e diz:
_ Agora estou livre para amar novamente.
O brilho aumenta. Envolve todos numa cegueira branca. O som dos fones aumenta até um nível insuportável.
Então tudo cessa.
Ela já não está mais lá. O anel despareceu. Tudo, aparentemente, volta à sua calma primordial.
Todos se levantam, como recém acordados de um sono profundo, povoado de sonhos. Caminham em silêncio para longe da praia. Juntam-se novamente, no calçadão, para se despedir. Só então percebem que André Aguiar não voltou.
Alfredo Albuquerque
João Pessoa, 2 de novembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
revista ponto #3
A revista ponto #3 chega de surpresa, voando desordenadamente pelo céu, dentro de uma bolha de sabão. Estoura justo na sua frente - PLOC! - e cai nas suas mãos com muito material literário para desfrutar.
Esta edição conta com a participação de Ronaldo Monte (Lembrança), André R. Aguiar (Souvenir), Raoni Xavier (Adeus velho amigo), Eli Alves (Uma boa ideia), Alfredo Albuquerque (A paz), Regina Behar (Entre o eclipse e os bandolins), M.ª Romarta (Ritual), M.ª Valéria Rezende (A máscara) e Laudelino Menezes (Labirinto, o livro); quadrinhos de Raoni; o capítulo IV da História do Clube narrada por Dôra; e uma homenagem a recém-vencedora do prêmio Jabuti: Valéria.
Ah, sim! o formato da revista continua o mesmo 10,5cm x 14,5cm, com 32 páginas e capa em papel couché. Para adquirir um exemplar, entre em contato via clubeconto@gmail.com ou deixe um comentário. A tiragem é limitadíssima: 100 exemplares. Coisa de colecionador mesmo!
Esta edição conta com a participação de Ronaldo Monte (Lembrança), André R. Aguiar (Souvenir), Raoni Xavier (Adeus velho amigo), Eli Alves (Uma boa ideia), Alfredo Albuquerque (A paz), Regina Behar (Entre o eclipse e os bandolins), M.ª Romarta (Ritual), M.ª Valéria Rezende (A máscara) e Laudelino Menezes (Labirinto, o livro); quadrinhos de Raoni; o capítulo IV da História do Clube narrada por Dôra; e uma homenagem a recém-vencedora do prêmio Jabuti: Valéria.
Ah, sim! o formato da revista continua o mesmo 10,5cm x 14,5cm, com 32 páginas e capa em papel couché. Para adquirir um exemplar, entre em contato via clubeconto@gmail.com ou deixe um comentário. A tiragem é limitadíssima: 100 exemplares. Coisa de colecionador mesmo!
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
O que foi feito com os contos cegos?
Adendo da ata referente ao dia 21 de novembro de 2009.
O que foi feito com os contos cegos? Realmente, uma pergunta bastante pertinente.
Primeiro, para quem não sabe, conto cego é uma brincadeira do Clube, onde cada participante leva seu conto, mas não assina, os contos são depositados dentro de um envelope, depois são retirados (um de cada vez) e lidos, no final da leitura, os demais participantes tentam adivinhar quem escreveu cada conto.
Para ludibriar a mente dos adversários-adivinhadores, os contistas estão copiando os estilos de outros participantes do Clube, então, no momento da adivinhação, comentava-se: "este conto foi Beto que escreveu, tentando imitar Dôra"; "este aí foi Alfredo, querendo se passar por André". No cômpito geral, quase ninguém enganou, uma frase, palavra ou expressão denunciava o autor.
Vejamos a pontuação de enrolação de cada autor de conto cego. Foram 11 participantes, 9 se arriscaram na adivinhação e apenas 5 escreveram contos.
- Beto enganou apenas duas pessoas (contando com ele mesmo).
- Alfredo enganou três pessoas (contando com ele mesmo).
- Dôra enganou três pessoas.
- Romarta enganou duas pessoas (contando com ela mesma).
- Luciana enganou cinco pessoas (contando com ela mesma).
No final de toda a brincadeira, tiramos duas conclusões: no dia em que tivermos outro conto cego, quem não escrever conto deve levar uma folha em branco para colocar no envelope; não é necessário levar cópias, quem levar deve distribuir no final da brincadeira.
Encerro com outra pergunta pertinente: Quando faremos outro conto cego?
Laudelino Menezes
***
- Professor, tem espaço pra mais um adendo?!
- Tem sim, pode falar.
Dessa vez os contos cegos se transformaram num exercício de disfarces, com todos querendo se fazer passar por outros. Beto quis ser Dôra, eu dei uma de André, Romarta tentou ser Romarta mesmo, só que disfarçada de Rosilda, Luciana denunciou-se com seu conto ecologicamente correto em papel de rascunho e Dôra, deixou-nos seu conto com cenas de escatologia, sem querer disfarçar nada.
Alfredo
O que foi feito com os contos cegos? Realmente, uma pergunta bastante pertinente.
Primeiro, para quem não sabe, conto cego é uma brincadeira do Clube, onde cada participante leva seu conto, mas não assina, os contos são depositados dentro de um envelope, depois são retirados (um de cada vez) e lidos, no final da leitura, os demais participantes tentam adivinhar quem escreveu cada conto.
Para ludibriar a mente dos adversários-adivinhadores, os contistas estão copiando os estilos de outros participantes do Clube, então, no momento da adivinhação, comentava-se: "este conto foi Beto que escreveu, tentando imitar Dôra"; "este aí foi Alfredo, querendo se passar por André". No cômpito geral, quase ninguém enganou, uma frase, palavra ou expressão denunciava o autor.
Vejamos a pontuação de enrolação de cada autor de conto cego. Foram 11 participantes, 9 se arriscaram na adivinhação e apenas 5 escreveram contos.
- Beto enganou apenas duas pessoas (contando com ele mesmo).
- Alfredo enganou três pessoas (contando com ele mesmo).
- Dôra enganou três pessoas.
- Romarta enganou duas pessoas (contando com ela mesma).
- Luciana enganou cinco pessoas (contando com ela mesma).
No final de toda a brincadeira, tiramos duas conclusões: no dia em que tivermos outro conto cego, quem não escrever conto deve levar uma folha em branco para colocar no envelope; não é necessário levar cópias, quem levar deve distribuir no final da brincadeira.
Encerro com outra pergunta pertinente: Quando faremos outro conto cego?
Laudelino Menezes
***
- Professor, tem espaço pra mais um adendo?!
- Tem sim, pode falar.
Dessa vez os contos cegos se transformaram num exercício de disfarces, com todos querendo se fazer passar por outros. Beto quis ser Dôra, eu dei uma de André, Romarta tentou ser Romarta mesmo, só que disfarçada de Rosilda, Luciana denunciou-se com seu conto ecologicamente correto em papel de rascunho e Dôra, deixou-nos seu conto com cenas de escatologia, sem querer disfarçar nada.
Alfredo
domingo, 22 de novembro de 2009
Múltipla escolha
Ata referente ao dia 21 de novembro de 2009.
Alfredo pergunta algo que não ouço, mas finjo entender e aviso ao garçom que traga literatura fatiada sem molhos. Regina entendeu que eu falava de ciclos de natureza subjetiva, mas não foi bem isso: aquadradura quadratura do círculo ocupou boa parte do pensamento patafísico do refratário Roberto (que por uma ilusão de ótica, pode confundir as irmãs Rosilda e Romarta como possíveis projetos de transposição de estilos) que, por algum motivo alheio ao André... Não, não vamos começar isso de novo... me distraio-me com formas quadradas... Vamos às possíveis relatos atas:
Ata fofa) Duas gaitas foram postas na mesa. A primeira reluziu, e de dentro de seus furinhos ansiando por uma soprada, estavam guardadas todas as cantigas de ninar. Enquanto isso, a gaita maior, no alto de sua experiência de variados estilos, só dava gaitada....
Ata suspense) Emerson, alheio a tudo, desejava a mesa redonda. No entanto estava na quadrada. Lá fora a redonda. Mas ele estava na quadrada. A tendência mundial, o apelo, o sedutor momento pedia redondezas. Mas ele estava na quadratura com contistas quadrados enquadrados pela câmera do Alfredo. Olhava fixamente para a bojuda Skol. Descequadrada redonda. Mas Emerson, talheres à mesa, menos a faca afiada, estrangulada em sua mão, engolia uma saliva. Quadrada. E cadê que o André não lia aquele maldito conto?
Ata socialista) Ali no clube todos tinham direito de receber, por igual, sua cota de conto. E também sua cota da revista ponto. Os meios de produção dos temas deveriam tornar o indivíduo parte do processo histórico de mudança. Homens e coelhos deveriam marchar contra o pensamento quadrado do furor capitalista. Os companheiros Eli, Luciana e Dôra discutiam se a barba de Marx ficava bem com dreadlocks ou no tom acaju...
Ata ríspida) Quer saber o que houve, com quem, quando e onde? Ah, trate de ir aos sábados botar sua bunda na cadeira e ouvir calado as histórias, pô! Pra seu governo, Vera, Rosilda e Romarta ficam a maior parte do tempo quietinhas e não reclamam.
Ata matemática) O espaço percorrido por um papel amassado que a mão de Laudelino, obliqua, tenta lançar a Luciana (no espaço de 23 segundos imprimiu força negativa de 7 quilos sobre um comentário ao Sport Club) é de 39 centímetros. Levando em conta que no trajeto, o gesto expansivo de Betomenezes desloca o ar na metade deste percurso, responda:
(A) Os contistas pensam que estão no jardim de infância
(B) Os contistas são o próprio jardim de infância
(C) Coelhos e contistas só sabem se multiplicar
(D) Todas as anteriores.
Ata haicai:
Enfim o tema
Que eles escolhem é dom:
Tomara quevenda renda.
André R Aguiar
Alfredo pergunta algo que não ouço, mas finjo entender e aviso ao garçom que traga literatura fatiada sem molhos. Regina entendeu que eu falava de ciclos de natureza subjetiva, mas não foi bem isso: a
Ata fofa) Duas gaitas foram postas na mesa. A primeira reluziu, e de dentro de seus furinhos ansiando por uma soprada, estavam guardadas todas as cantigas de ninar. Enquanto isso, a gaita maior, no alto de sua experiência de variados estilos, só dava gaitada....
Ata suspense) Emerson, alheio a tudo, desejava a mesa redonda. No entanto estava na quadrada. Lá fora a redonda. Mas ele estava na quadrada. A tendência mundial, o apelo, o sedutor momento pedia redondezas. Mas ele estava na quadratura com contistas quadrados enquadrados pela câmera do Alfredo. Olhava fixamente para a bojuda Skol. Desce
Ata socialista) Ali no clube todos tinham direito de receber, por igual, sua cota de conto. E também sua cota da revista ponto. Os meios de produção dos temas deveriam tornar o indivíduo parte do processo histórico de mudança. Homens e coelhos deveriam marchar contra o pensamento quadrado do furor capitalista. Os companheiros Eli, Luciana e Dôra discutiam se a barba de Marx ficava bem com dreadlocks ou no tom acaju...
Ata ríspida) Quer saber o que houve, com quem, quando e onde? Ah, trate de ir aos sábados botar sua bunda na cadeira e ouvir calado as histórias, pô! Pra seu governo, Vera, Rosilda e Romarta ficam a maior parte do tempo quietinhas e não reclamam.
Ata matemática) O espaço percorrido por um papel amassado que a mão de Laudelino, obliqua, tenta lançar a Luciana (no espaço de 23 segundos imprimiu força negativa de 7 quilos sobre um comentário ao Sport Club) é de 39 centímetros. Levando em conta que no trajeto, o gesto expansivo de Betomenezes desloca o ar na metade deste percurso, responda:
(A) Os contistas pensam que estão no jardim de infância
(B) Os contistas são o próprio jardim de infância
(C) Coelhos e contistas só sabem se multiplicar
(D) Todas as anteriores.
Ata haicai:
Enfim o tema
Que eles escolhem é dom:
Tomara que
André R Aguiar
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Bem-aventurados
Ata referente ao dia 14 de novembro de 2009.
Bem-aventurados os que chegam cansados do fardo do mundo, e sabem se sentar, e pedem um pouco de cerveja e alimento, e estão dispostos a ouvir se não uma oração, uma história, uma parábola, um conto.
Bem-aventurados os que cruzam os portões e lançam um olhar bondoso ante uma mesa de feitura simples, circular, com cadeiras em detalhes sinuosos, e sentam o traseiro e esperam minutos ou horas para chegar o momento de ler ou ouvir, rir ou chorar, refletir ou simplesmente não acreditar na existência de garçons solícitos.
Bem-aventurados os que escrevem sobre um tema, os que escrevem sem tema, os que escrevem porque estão de saco cheio das gavetas, os que rabiscam experiências, os que sonham que determinados temas estejam em pauta, os que gozam por um texto, os que são pelo texto gozados.
Bem-aventurados os que chegam pela primeira vez porque foram guiados por uma estrela, ou pelas luzes do bairro, ou pelo Coelho Suplicante.
Bem-aventurados os temas que esperam anos para serem votados, e quando chegam na reta final, vem um engraçadinho e põe um tema safado que rouba descaradamente os votos do tema tão velhinho e caquético, como o aliás...
Bem-aventurados os contos curtos (dele é o reino dos céus) e os contos médios, e os contos sobre contos curtos ou médios, mas também há salvação para os contos longos, os romances disfarçados de contos, os relatórios metafísicos e a literatura cor-de-rosa.
Bem-aventurados os que pagam as contas sem reclamar, os que trazem convidados, os que riem ou puxam a conversa para outras plagas, os que não doutrinam, os apóstolos do caos, os que trazem escondidos debaixo do sovacos os manuscritos do mar morto.
Bem-aventurados os encontros que propõem desafios, como os contos cegos e os contos inacabados, as propostas de luau e as possíveis camisas do clube do conto.
Bem-aventuradas as reuniões como a de sábado, em que estiveram presentes Romarta, Rosilda, Alfredo, Emerson, Cartaxo, Luciana, Raoni, Laudelino en passant, Regina Behar, além de novos discípulos como a cantora Vera Lima (que presenteou o clube com seu trabalho) e Claudia Samara, relações públicas do Sebo Cultural.
Bem-aventurados os relatos interativos, as possibilidades de troca de livros no blog e as novas parcerias.
Bem-aventuradas as pessoas que se pegam a dispensar o sábado das coisas mundanas e das tentações do mundo para a leitura do evangelho narrativo e satírico. Vinde a mim os contistas, já dizia o bom deusinho.
Dito isto, orem muito e façam um pelo-sinal bem fofo.
André R Aguiar
Bem-aventurados os que chegam cansados do fardo do mundo, e sabem se sentar, e pedem um pouco de cerveja e alimento, e estão dispostos a ouvir se não uma oração, uma história, uma parábola, um conto.
Bem-aventurados os que cruzam os portões e lançam um olhar bondoso ante uma mesa de feitura simples, circular, com cadeiras em detalhes sinuosos, e sentam o traseiro e esperam minutos ou horas para chegar o momento de ler ou ouvir, rir ou chorar, refletir ou simplesmente não acreditar na existência de garçons solícitos.
Bem-aventurados os que escrevem sobre um tema, os que escrevem sem tema, os que escrevem porque estão de saco cheio das gavetas, os que rabiscam experiências, os que sonham que determinados temas estejam em pauta, os que gozam por um texto, os que são pelo texto gozados.
Bem-aventurados os que chegam pela primeira vez porque foram guiados por uma estrela, ou pelas luzes do bairro, ou pelo Coelho Suplicante.
Bem-aventurados os temas que esperam anos para serem votados, e quando chegam na reta final, vem um engraçadinho e põe um tema safado que rouba descaradamente os votos do tema tão velhinho e caquético, como o aliás...
Bem-aventurados os contos curtos (dele é o reino dos céus) e os contos médios, e os contos sobre contos curtos ou médios, mas também há salvação para os contos longos, os romances disfarçados de contos, os relatórios metafísicos e a literatura cor-de-rosa.
Bem-aventurados os que pagam as contas sem reclamar, os que trazem convidados, os que riem ou puxam a conversa para outras plagas, os que não doutrinam, os apóstolos do caos, os que trazem escondidos debaixo do sovacos os manuscritos do mar morto.
Bem-aventurados os encontros que propõem desafios, como os contos cegos e os contos inacabados, as propostas de luau e as possíveis camisas do clube do conto.
Bem-aventuradas as reuniões como a de sábado, em que estiveram presentes Romarta, Rosilda, Alfredo, Emerson, Cartaxo, Luciana, Raoni, Laudelino en passant, Regina Behar, além de novos discípulos como a cantora Vera Lima (que presenteou o clube com seu trabalho) e Claudia Samara, relações públicas do Sebo Cultural.
Bem-aventurados os relatos interativos, as possibilidades de troca de livros no blog e as novas parcerias.
Bem-aventuradas as pessoas que se pegam a dispensar o sábado das coisas mundanas e das tentações do mundo para a leitura do evangelho narrativo e satírico. Vinde a mim os contistas, já dizia o bom deusinho.
Dito isto, orem muito e façam um pelo-sinal bem fofo.
André R Aguiar
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Sessão de Contos (5)
Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.
Pela primeira vez no blog do Clube, um conto da já-não-tão-novata Maria Romarta, lido na reunião do dia 24 de outubro.
***
Fabiano
O pai fez a cena que todos esperam de uma despedida. Abraçou Fabiano, seu filho único, falou que o amava, olhou-o penosamente nos olhos e partiu.
Deixou-lhe além da sua fortuna, apenas pertences particulares que por ser ele, não apegado ao consumismo, resumiam-se em algumas peças de roupa, dois ou três sapatos, um chapéu de cor preta, alguns relógios e um casaco de couro, típico de peão fazendeiro.
Fabiano era um jovem ambicioso de querer sempre mais, então se tratou logo de cuidar das ações empresariais, que agora eram suas tão somente suas.
Pôs-se a trabalhar feito um louco, se já tinha gosto de ter dinheiro, o teve ainda mais.
Sua única causa pessoal era ele próprio, esqueceu que talvez tivesse parente ou algum amigo distante.
Distinto em luxúria, não era, entretanto só um homem milionário, e sim, um homem milionário, inatingível e sozinho.
Tudo o que lhe pertencia, tinha de ser, sem exceção, de puro luxo. E de tão luxuosas que suas coisas eram, acabaram por adotar o “os” e o “as” nos seus adjetivos. E “os” e “as”, tornaram-se de Fabiano, a marca registrada!
Possuía automóveis importados, caros e raros...
E também mansões panorâmicas, desejadas e douradas...
E assim todo o resto.
Certo dia, num grande evento, nomearam a linha das empresas de Fabiano, como, a que mais cresceu, empregou e obteve lucros em todo o país.
Entre flashes e personalidades, subiu ao palco. Recebeu o troféu, acenou para todos e atencionou às perguntas da imprensa.
...
__ Como se sente, agora recebendo um título tão grandioso como este? Feliz? Realizado?
Fabiano sentia-se muito bem com a conquista, porém duas palavras contidas naquela pergunta confundiram-lhe a mente.
“Feliz? Realizado...”. E um risco de pensar trouxe numa nebulosa imagem a feição morta de seu pai. Por que lembrou?
“... Feliz? Realizado?”
Não soube o que dizer, e deixou que evaporasse sem nenhuma resposta a feliz e realizada pergunta, pouco... a pouco.
Maria Romarta
Pela primeira vez no blog do Clube, um conto da já-não-tão-novata Maria Romarta, lido na reunião do dia 24 de outubro.
***
Fabiano
O pai fez a cena que todos esperam de uma despedida. Abraçou Fabiano, seu filho único, falou que o amava, olhou-o penosamente nos olhos e partiu.
Deixou-lhe além da sua fortuna, apenas pertences particulares que por ser ele, não apegado ao consumismo, resumiam-se em algumas peças de roupa, dois ou três sapatos, um chapéu de cor preta, alguns relógios e um casaco de couro, típico de peão fazendeiro.
Fabiano era um jovem ambicioso de querer sempre mais, então se tratou logo de cuidar das ações empresariais, que agora eram suas tão somente suas.
Pôs-se a trabalhar feito um louco, se já tinha gosto de ter dinheiro, o teve ainda mais.
Sua única causa pessoal era ele próprio, esqueceu que talvez tivesse parente ou algum amigo distante.
Distinto em luxúria, não era, entretanto só um homem milionário, e sim, um homem milionário, inatingível e sozinho.
Tudo o que lhe pertencia, tinha de ser, sem exceção, de puro luxo. E de tão luxuosas que suas coisas eram, acabaram por adotar o “os” e o “as” nos seus adjetivos. E “os” e “as”, tornaram-se de Fabiano, a marca registrada!
Possuía automóveis importados, caros e raros...
E também mansões panorâmicas, desejadas e douradas...
E assim todo o resto.
Certo dia, num grande evento, nomearam a linha das empresas de Fabiano, como, a que mais cresceu, empregou e obteve lucros em todo o país.
Entre flashes e personalidades, subiu ao palco. Recebeu o troféu, acenou para todos e atencionou às perguntas da imprensa.
...
__ Como se sente, agora recebendo um título tão grandioso como este? Feliz? Realizado?
Fabiano sentia-se muito bem com a conquista, porém duas palavras contidas naquela pergunta confundiram-lhe a mente.
“Feliz? Realizado...”. E um risco de pensar trouxe numa nebulosa imagem a feição morta de seu pai. Por que lembrou?
“... Feliz? Realizado?”
Não soube o que dizer, e deixou que evaporasse sem nenhuma resposta a feliz e realizada pergunta, pouco... a pouco.
Maria Romarta
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Boletim de ocorrência.
Ata referente a reunião do dia 7 de novembro de MMIX.
Parecem misturados como uma composição química onde histórias se misturam com curiosidade, são leitores e escritores, usam do direito livre e solto de estar ou ausentar-se, mas é ainda uma forma de sociedade com mínimas regras, e nisso podem arcar com o peso da palavra clube e o estilingue da palavra conto.
Dito isto, Beto, Cartaxo, Alfredo, Nadya, Regina Behar (acompanhada do love), Raonix, Bonitfácio & Vivi, Romarta e Ronaldo Monte foram as bolas da vez deste sábado. Uma parte do encontro parecia uma mistura de conversa de café parisiense com reunião da equipe do Cahiers du cinema: falaram de filmes, teses e teorias, enquanto um sisudo Sr. Monte esperava o X da questão: Clube do conto ou do filme? Afora isso, seguimos com os trabalhos. Foram lidos contos do tema, contos fora do tema, contos interativos onde os participantes leram suas próprias vozes como personagens e até um conto estilo radionovela, com narrador, locutor e com um certo terror, escrito pela angelical Romarta.
Depois de acirrada disputa, o tema Fofo levou a melhor pontuação. Enquanto isso, estamos na expectativa do próximo número da revista Ponto. Esta é a crônica de uma noite arredondada no restaurante Coelhos. Avante!
André R. Aguiar
Imagem retirada de http://www.johnehrenfeld.com/scientist-1.jpg
Parecem misturados como uma composição química onde histórias se misturam com curiosidade, são leitores e escritores, usam do direito livre e solto de estar ou ausentar-se, mas é ainda uma forma de sociedade com mínimas regras, e nisso podem arcar com o peso da palavra clube e o estilingue da palavra conto.
Dito isto, Beto, Cartaxo, Alfredo, Nadya, Regina Behar (acompanhada do love), Raonix, Bonitfácio & Vivi, Romarta e Ronaldo Monte foram as bolas da vez deste sábado. Uma parte do encontro parecia uma mistura de conversa de café parisiense com reunião da equipe do Cahiers du cinema: falaram de filmes, teses e teorias, enquanto um sisudo Sr. Monte esperava o X da questão: Clube do conto ou do filme? Afora isso, seguimos com os trabalhos. Foram lidos contos do tema, contos fora do tema, contos interativos onde os participantes leram suas próprias vozes como personagens e até um conto estilo radionovela, com narrador, locutor e com um certo terror, escrito pela angelical Romarta.
Depois de acirrada disputa, o tema Fofo levou a melhor pontuação. Enquanto isso, estamos na expectativa do próximo número da revista Ponto. Esta é a crônica de uma noite arredondada no restaurante Coelhos. Avante!
André R. Aguiar
Imagem retirada de http://www.johnehrenfeld.com/scientist-1.jpg
domingo, 1 de novembro de 2009
Ata Escolar
Ata referente ao dia 31 de outubro de 2009.
A ausência da turma foi pequena, estiveram presentes na aula: Prof. Beto, Joana, Gláucia, Alfredo, Ronaldo, Luciana, Nadya, Jéssica, Bonifácio, Vivi 1 (aniversariante do dia), Valéria, Vivi 2, Laudelino e Romarta. Atenção: aqueles com mais de 75% de faltas, estão reprovados, não venham choramingar.
Aos trancos e barrancos, devido as habituais conversas tranversais que atrapalham a concentração da turma, tivemos a leitura da tarefa de casa de Ronaldo com seu estilo poético, de Alfredo e sua festa a fantasia, de Beto contando as desventuras de Badolé e de Luciana homenageando o dia das bruxas com uma história de zumbis e monstros arruaceiros. Romarta levou cópias do conto da semana passada, aquele que falava dos OS e AS. Pra finalizar as leituras, Beto levou um texto falando sobre entropia, assunto físico que trata do ideal e perfeito. Lembrando que, na próxima reunião, teremos uma prova sobre entropia, estudem tudo!
Saimos para o recreio e partimos para escolha do tema. Concorreram: priapismo, orgasmos, protetor lunar e próstata; aliás, aliás não entrou no páreo. Apesar de todo o lobby de Joana para eleger orgasmos, protetor lunar venceu.
No finalzinho da aula, combinamos o ponto de encontro do 1.º Luau do Clube do Conto, que acontece no dia 1 de novembro, a partir das 18h, próximo ao Hotel Litoral, no Cabo Branco. Vamos agitar a praia com leitura de contos de terror...
Classe dispensada.
PS: O ateiro oficial, André Aguiar, faltou a reunião, por isso, não reclamem desta ata meio meia-boca.
Laudelino
Imagem retirada de http://webpages.scu.edu/ftp/bdonaldson/images/classroom.jpg
A ausência da turma foi pequena, estiveram presentes na aula: Prof. Beto, Joana, Gláucia, Alfredo, Ronaldo, Luciana, Nadya, Jéssica, Bonifácio, Vivi 1 (aniversariante do dia), Valéria, Vivi 2, Laudelino e Romarta. Atenção: aqueles com mais de 75% de faltas, estão reprovados, não venham choramingar.
Aos trancos e barrancos, devido as habituais conversas tranversais que atrapalham a concentração da turma, tivemos a leitura da tarefa de casa de Ronaldo com seu estilo poético, de Alfredo e sua festa a fantasia, de Beto contando as desventuras de Badolé e de Luciana homenageando o dia das bruxas com uma história de zumbis e monstros arruaceiros. Romarta levou cópias do conto da semana passada, aquele que falava dos OS e AS. Pra finalizar as leituras, Beto levou um texto falando sobre entropia, assunto físico que trata do ideal e perfeito. Lembrando que, na próxima reunião, teremos uma prova sobre entropia, estudem tudo!
Saimos para o recreio e partimos para escolha do tema. Concorreram: priapismo, orgasmos, protetor lunar e próstata; aliás, aliás não entrou no páreo. Apesar de todo o lobby de Joana para eleger orgasmos, protetor lunar venceu.
No finalzinho da aula, combinamos o ponto de encontro do 1.º Luau do Clube do Conto, que acontece no dia 1 de novembro, a partir das 18h, próximo ao Hotel Litoral, no Cabo Branco. Vamos agitar a praia com leitura de contos de terror...
Classe dispensada.
PS: O ateiro oficial, André Aguiar, faltou a reunião, por isso, não reclamem desta ata meio meia-boca.
Laudelino
Imagem retirada de http://webpages.scu.edu/ftp/bdonaldson/images/classroom.jpg
sábado, 31 de outubro de 2009
Sessão de Contos (4)
Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.
Hoje temos um conto inédito de Luciana Silveira, o qual foi lido na reunião de 12 de setembro de 2009, veja as duas versões de ata deste dia: versão um; versão dois.
***
FOTOGRAFA-SE SONHOS
Cabia a ele montar a loja, preparar o cenário, checar a iluminação, deixar tudo em ordem para o dia que se iniciava. Para isso acordava cedo, limpava a loja e organizava todo equipamento. Era uma rotina de dias e dias, acordar, limpar e organizar. Ele gostava desse oficio e sonhava com o dia em que seria um profissional como Ede, o fotógrafo.
Ede era experiente, já no ramo há muitos anos, havia começado como ele, limpando e organizando a loja, auxiliando o fotógrafo. Pau pra toda obra, era como se definia.
Vinha todo tipo de gente, adultos, crianças, jovens e casais, famílias; todos com um só intuito, imortalizar a imagem em um pedaço de papel. As fantasias eram as mais diversas: marinheiro, comandante, senhoras e crianças em roupas de época. As moças com seus vestidos de festa e maquiadas, casais em roupas de noivos, tudo era permitido ali. A vida era fantasia como dizia Ede, e todos tem o direito de sonhar e ele, claro, de imortalizar o sonho em imagem.
No estúdio de fotos haviam vários cenários de cores e imagens variadas, era possível estar no mundo todo apenas trocando um painel, mudando a luz era possível transformar o dia em noite e vice versa, sonho e realidade, ali tudo se misturava.
O mais importante era que ali, naquela loja, uma coisa era certa, todos saiam felizes, um sorriso em cada face era a certeza de um serviço bem feito.
Quando Ede chega, já está tudo pronto, estúdio limpo, painéis e iluminação prontos, tudo organizado, os clientes já aguardam na ante sala. Vai começar a fábrica de sonhos.
Sra. Adelaide gosta de ser uma “lady”, tanto na vida real como nas fotos, por isso se esmera nas roupas, sempre escolhe um figurino de época, cada vez um novo e diferente vestido. Coloca a maquiagem com aquele ”rouge” nas bochechas, pra dar impressão de saúde, o saiote enorme das saias, encorpando o tecido mole sobre os arames e gomas, parece uma rainha do século XVII. Ela fica séria, em pose ereta, parece que vai dar ordem a todos no local, fazendo-os de servos e lacaios. Ao fundo Ede prepara um cenário de palácio e jardim, e ela se senta como estivesse em um jardim enorme, com cães brincando em volta, crianças correndo e senhores nobres fazendo-lhe a corte. Tudo calculado milimétricamente para sair perfeito na foto, como se realmente ela estivera lá. Atenção, pose, e “buf”, o flash dispara, uma, duas, três, várias, a pose vai mudando e o flash disparando.
Sra. Adelaide, após se trocar, sai satisfeita e sorrindo. Depois Ede levará as fotos para serem escolhidas em sua casa.
O próximo, e o próximo, a próxima, todo tipo de gente, adultos, crianças, jovens e casais, famílias inteiras, vivendo um sonho, imortalizando a imagem em um pedaço de papel. Uma brincadeira. Diversão para muitos, mas para Ede e para mim aquilo era trabalho e levado muito a sério.
Lá fora a placa em letras grandes: FOTOGRÁFA-SE SONHOS.
Luciana Silveira
Setembro/2009
Hoje temos um conto inédito de Luciana Silveira, o qual foi lido na reunião de 12 de setembro de 2009, veja as duas versões de ata deste dia: versão um; versão dois.
***
FOTOGRAFA-SE SONHOS
Cabia a ele montar a loja, preparar o cenário, checar a iluminação, deixar tudo em ordem para o dia que se iniciava. Para isso acordava cedo, limpava a loja e organizava todo equipamento. Era uma rotina de dias e dias, acordar, limpar e organizar. Ele gostava desse oficio e sonhava com o dia em que seria um profissional como Ede, o fotógrafo.
Ede era experiente, já no ramo há muitos anos, havia começado como ele, limpando e organizando a loja, auxiliando o fotógrafo. Pau pra toda obra, era como se definia.
Vinha todo tipo de gente, adultos, crianças, jovens e casais, famílias; todos com um só intuito, imortalizar a imagem em um pedaço de papel. As fantasias eram as mais diversas: marinheiro, comandante, senhoras e crianças em roupas de época. As moças com seus vestidos de festa e maquiadas, casais em roupas de noivos, tudo era permitido ali. A vida era fantasia como dizia Ede, e todos tem o direito de sonhar e ele, claro, de imortalizar o sonho em imagem.
No estúdio de fotos haviam vários cenários de cores e imagens variadas, era possível estar no mundo todo apenas trocando um painel, mudando a luz era possível transformar o dia em noite e vice versa, sonho e realidade, ali tudo se misturava.
O mais importante era que ali, naquela loja, uma coisa era certa, todos saiam felizes, um sorriso em cada face era a certeza de um serviço bem feito.
Quando Ede chega, já está tudo pronto, estúdio limpo, painéis e iluminação prontos, tudo organizado, os clientes já aguardam na ante sala. Vai começar a fábrica de sonhos.
Sra. Adelaide gosta de ser uma “lady”, tanto na vida real como nas fotos, por isso se esmera nas roupas, sempre escolhe um figurino de época, cada vez um novo e diferente vestido. Coloca a maquiagem com aquele ”rouge” nas bochechas, pra dar impressão de saúde, o saiote enorme das saias, encorpando o tecido mole sobre os arames e gomas, parece uma rainha do século XVII. Ela fica séria, em pose ereta, parece que vai dar ordem a todos no local, fazendo-os de servos e lacaios. Ao fundo Ede prepara um cenário de palácio e jardim, e ela se senta como estivesse em um jardim enorme, com cães brincando em volta, crianças correndo e senhores nobres fazendo-lhe a corte. Tudo calculado milimétricamente para sair perfeito na foto, como se realmente ela estivera lá. Atenção, pose, e “buf”, o flash dispara, uma, duas, três, várias, a pose vai mudando e o flash disparando.
Sra. Adelaide, após se trocar, sai satisfeita e sorrindo. Depois Ede levará as fotos para serem escolhidas em sua casa.
O próximo, e o próximo, a próxima, todo tipo de gente, adultos, crianças, jovens e casais, famílias inteiras, vivendo um sonho, imortalizando a imagem em um pedaço de papel. Uma brincadeira. Diversão para muitos, mas para Ede e para mim aquilo era trabalho e levado muito a sério.
Lá fora a placa em letras grandes: FOTOGRÁFA-SE SONHOS.
Luciana Silveira
Setembro/2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Ata do senhor
Ata referente a reunião do dia 24 de outubro de 2009.
Não te espantes com reuniões; elas são motivos de regozijo. Vê que a cada um, espécie de grão que vinga em terra árida, cabe um destino: a cadeira de madeira ou de ferro, a mesa circular ou o espantoso espaço retangular; muitos não serão ouvidos, porque é do reino deles a surdez. Mas o céu a todos aceita, e aleluia, estaremos juntos ao Grande Coelho para mais preces – e por que não?, mais histórias.
Enquanto a ímpia conta não chegava, tivemos a palavra do Senhor (o deus Borges? o deus Machado?) divulgada. Enquanto Beto nos agraciava com o sermão extenso de sua ficção mais delirante (ou seria projeto de romance disfarçado?), elevamos nossos corações; ao apelo de vinde a mim as criancinhas, a chegada de Romarta; Ronaldo, o pagão, passou seu mínimo evangelho, lido em silêncio. Mais fiéis foram chegando: Regina Behar e filha, Vivi e Nadya, Vivi de Valéria, Lau, Raonix e o bom Alfredo. Contos do tema passado, bolha de sabão, e contos do tema mais recente, o gosto do dinheiro, foram lidos. Também tivemos um momento “radionovela” com o narrador Ronaldo e os atores André, Beto e Nadya numa trama rocambolesca. Depois, com o próximo tema definido (Óculos) e na expectativa da leitura de contos radionovelísticos de terror para o luau no domingo, partimos em peregrinação (os fiéis mais renitentes) à casa de Dora Limeira, que é dura na queda e mais dura ainda em ascensão. Palavra do Senhor!
André Ricardo Aguiar
Imagens retiradas de:
- http://notasaocafe.files.wordpress.com/2007/02/angels.JPG
- http://www.ulustosa.com/Fotos/192-AtoresRadionovela.jpg
Não te espantes com reuniões; elas são motivos de regozijo. Vê que a cada um, espécie de grão que vinga em terra árida, cabe um destino: a cadeira de madeira ou de ferro, a mesa circular ou o espantoso espaço retangular; muitos não serão ouvidos, porque é do reino deles a surdez. Mas o céu a todos aceita, e aleluia, estaremos juntos ao Grande Coelho para mais preces – e por que não?, mais histórias.
Enquanto a ímpia conta não chegava, tivemos a palavra do Senhor (o deus Borges? o deus Machado?) divulgada. Enquanto Beto nos agraciava com o sermão extenso de sua ficção mais delirante (ou seria projeto de romance disfarçado?), elevamos nossos corações; ao apelo de vinde a mim as criancinhas, a chegada de Romarta; Ronaldo, o pagão, passou seu mínimo evangelho, lido em silêncio. Mais fiéis foram chegando: Regina Behar e filha, Vivi e Nadya, Vivi de Valéria, Lau, Raonix e o bom Alfredo. Contos do tema passado, bolha de sabão, e contos do tema mais recente, o gosto do dinheiro, foram lidos. Também tivemos um momento “radionovela” com o narrador Ronaldo e os atores André, Beto e Nadya numa trama rocambolesca. Depois, com o próximo tema definido (Óculos) e na expectativa da leitura de contos radionovelísticos de terror para o luau no domingo, partimos em peregrinação (os fiéis mais renitentes) à casa de Dora Limeira, que é dura na queda e mais dura ainda em ascensão. Palavra do Senhor!
André Ricardo Aguiar
Imagens retiradas de:
- http://notasaocafe.files.wordpress.com/2007/02/angels.JPG
- http://www.ulustosa.com/Fotos/192-AtoresRadionovela.jpg
terça-feira, 20 de outubro de 2009
luau(l), jabuti, caricatura e contos
Ata referente a reunião de 17 de outubro de 2009.
A velha discussão da mesa redonda ou quadrada deu o início dos trabalhos do Clube do Conto nesse sábado, dia 17 de outubro. Enquanto a compa Dôra estava insegura com a falta de luz para a leitura, outros compas ali (Alfredo, Emerson, Beto, Eli e Luciana) remontavam às lembranças da reunião anterior em que, numa grande roda, pudemos nos reencontrar e ler nossas estórias – e escutá-las. Laudelino, numa presença aleijada depois de demonstrar seus des-dotes futebolísticos, veio inicialmente en passant, e passou, voltando apenas no meio da reunião. Também en passant foi a presença de Vivi, trazendo as boas novas, ou antigas não tão boas quanto à obra da casa da irmã Valéria. Presença também marcante do Jabuti em prêmio de Cartaxo, junto ao seu ganhador, cuja enferrujabilidade foi tema de discussão, mas que sentiu visceralmente a falta da compa Valéria para uma sessão fotográfica.
Presentes também estiveram Romarta, a desaparecida que reapareceu cheia de ansiedade e contos, e Raoni, que, num lance de minutos, caricatou o compa Alfredo, numa imagem em se confundiram dentes e boca. Textos lidos de Luciana, Alfredo, Beto e Romarta; se cobraram mais textos de Eli, que, de charminho, ficou dizendo que não escrevia e blábláblá.
Foi comentado sobre o lual, ou luau, da noite do dia 01 de novembro, véspera de Dia de Finados; a praia de cabo branco foi a escolhida, na altura do Litoral Hotel. Outra nova é o lançamento do livro de Dôra no dia 30 desse mês.
A reunião aconteceu na mesa branca e redonda, e alguns textos – de Emerson e Cartaxo – ficaram pendentes para a próxima reunião. Depois de comer um bolinho de bacalhau caro, Dôra comentou ter sentido o gosto de dinheiro, que foi logo aceito como proposta de tema para os contos da próxima semana. Entre aliás, ciúme e outros temas, venceu a votos anárquicos – se é que isso é possível - o gosto do dinheiro.
Abraços!
Emerson
A velha discussão da mesa redonda ou quadrada deu o início dos trabalhos do Clube do Conto nesse sábado, dia 17 de outubro. Enquanto a compa Dôra estava insegura com a falta de luz para a leitura, outros compas ali (Alfredo, Emerson, Beto, Eli e Luciana) remontavam às lembranças da reunião anterior em que, numa grande roda, pudemos nos reencontrar e ler nossas estórias – e escutá-las. Laudelino, numa presença aleijada depois de demonstrar seus des-dotes futebolísticos, veio inicialmente en passant, e passou, voltando apenas no meio da reunião. Também en passant foi a presença de Vivi, trazendo as boas novas, ou antigas não tão boas quanto à obra da casa da irmã Valéria. Presença também marcante do Jabuti em prêmio de Cartaxo, junto ao seu ganhador, cuja enferrujabilidade foi tema de discussão, mas que sentiu visceralmente a falta da compa Valéria para uma sessão fotográfica.
Presentes também estiveram Romarta, a desaparecida que reapareceu cheia de ansiedade e contos, e Raoni, que, num lance de minutos, caricatou o compa Alfredo, numa imagem em se confundiram dentes e boca. Textos lidos de Luciana, Alfredo, Beto e Romarta; se cobraram mais textos de Eli, que, de charminho, ficou dizendo que não escrevia e blábláblá.
Foi comentado sobre o lual, ou luau, da noite do dia 01 de novembro, véspera de Dia de Finados; a praia de cabo branco foi a escolhida, na altura do Litoral Hotel. Outra nova é o lançamento do livro de Dôra no dia 30 desse mês.
A reunião aconteceu na mesa branca e redonda, e alguns textos – de Emerson e Cartaxo – ficaram pendentes para a próxima reunião. Depois de comer um bolinho de bacalhau caro, Dôra comentou ter sentido o gosto de dinheiro, que foi logo aceito como proposta de tema para os contos da próxima semana. Entre aliás, ciúme e outros temas, venceu a votos anárquicos – se é que isso é possível - o gosto do dinheiro.
Abraços!
Emerson
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Autores da Semana (9)
Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número nove: Regina Behar.
***
Regina Behar é professora de história da UFPB e escreve contos mais esporadicamente do que gostaria. Associou-se ao Clube do Conto tempos atrás, sumiu, e agora voltou pra tentar não “perder a mão”. Sempre viu o Clube como espaço de caos e criatividade onde alimenta seu fascínio pelas histórias imaginadas e pela arte da palavra.
***
Entre o eclipse e os bandolins
Eles se conheceram no início da adolescência. A mãe dela mudara para a rua transversal havia seis meses. Se encontravam na escola do bairro diariamente e andaram juntos durante anos. Ela tinha um gato pardo chamado zeca e ele tinha uma cadela vira-lata chamada marilyn. Trocavam selos por moedas antigas. Entre o cuidado com os bichos domésticos e as tarefas escolares andavam ocupados com espinhas e mudanças hormonais.
Ela lhe apresentou a praça do bairro que ele jamais tinha olhado. Ele a iniciou no gosto pela poesia, o mundo das palavras com melodia que ela não conhecia. Então as praças, parques e praias povoaram o universo. Então a poesia, os romances e a musicalidade invadiram a vida. Entre as tarefas escolares e a preocupação com as espinhas, faziam planos de poeta e bailarina.
Ela o considerava a pessoa mais inteligente do mundo e ele não conseguia passar um dia sem lhe falar ao menos qualquer bobagem. Suas almas flutuavam como se andassem de mãos dadas, entretanto, nunca se tocaram. A valsa que dançavam era incompreensível aos mortais. Entre os planos de poeta e bailarina e a concretude do cotidiano, imaginavam-se felizes.
Um dia, depois das espinhas e da crise dos hormônios, ela considerou que estava perigosamente dependente dele. Um dia, depois do aumento do buraco na camada de ozônio e em meio da seca de 1983, ele cismou que ela o considerava um tolo, não levava a sério os seus sentimentos e só queria mantê-lo indefinidamente preso. Entre as divagações sobre o ozônio e a incomunicabilidade dos gestos deixaram de se encontrar.
Ele tomou rumo, casou, e foi morar no alto da rua. Ela mudou de bairro e foi morar longe da praça. Assim ficaram durante anos, apartados pelo espaço e pela fantasia de personagens irreais. O passado se tornou distante e a poesia se dissolveu na fumaça urbana. Fecharam-se em seus carros com vidro fumê. Entre fraldas de crianças e questões profissionais abandonaram o poeta e a bailarina.
Tangenciavam o mesmo lugar do mundo, mas suas almas não mais bailavam juntas. Vez por outra o passado invadia a casa e acordava a memória. Ele lembrava dela quando ouvia “Bandolins” e ela pensava nele quando ouvia “Eclipse Oculto”. Evitavam as praças como se fossem lugares malditos. Entre as lembranças do passado e o medo dos fantasmas, encontraram-se, um dia, a caminho do trabalho.
Já não eram tão jovens. Ele achou que ela estava muito envelhecida e ela admirou-se de sua calvice pronunciada. Passaram-se vinte anos, como se fosse dias, como se fosse um século. O tempo mudara tudo. Ficaram sem saber o que falar. Ela tomou a iniciativa e perguntou pelas crianças. Ele respondeu aparentando tranqüilidade e devolveu a pergunta. Ela disse que deviam sair qualquer dia com os meninos. Ele perguntou irônico: “passear na praça?”. Ela ficou vermelha. Entre a ironia e o medo despediram-se para sempre.
***
Regina Behar é professora de história da UFPB e escreve contos mais esporadicamente do que gostaria. Associou-se ao Clube do Conto tempos atrás, sumiu, e agora voltou pra tentar não “perder a mão”. Sempre viu o Clube como espaço de caos e criatividade onde alimenta seu fascínio pelas histórias imaginadas e pela arte da palavra.
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Entre o eclipse e os bandolins
Eles se conheceram no início da adolescência. A mãe dela mudara para a rua transversal havia seis meses. Se encontravam na escola do bairro diariamente e andaram juntos durante anos. Ela tinha um gato pardo chamado zeca e ele tinha uma cadela vira-lata chamada marilyn. Trocavam selos por moedas antigas. Entre o cuidado com os bichos domésticos e as tarefas escolares andavam ocupados com espinhas e mudanças hormonais.
Ela lhe apresentou a praça do bairro que ele jamais tinha olhado. Ele a iniciou no gosto pela poesia, o mundo das palavras com melodia que ela não conhecia. Então as praças, parques e praias povoaram o universo. Então a poesia, os romances e a musicalidade invadiram a vida. Entre as tarefas escolares e a preocupação com as espinhas, faziam planos de poeta e bailarina.
Ela o considerava a pessoa mais inteligente do mundo e ele não conseguia passar um dia sem lhe falar ao menos qualquer bobagem. Suas almas flutuavam como se andassem de mãos dadas, entretanto, nunca se tocaram. A valsa que dançavam era incompreensível aos mortais. Entre os planos de poeta e bailarina e a concretude do cotidiano, imaginavam-se felizes.
Um dia, depois das espinhas e da crise dos hormônios, ela considerou que estava perigosamente dependente dele. Um dia, depois do aumento do buraco na camada de ozônio e em meio da seca de 1983, ele cismou que ela o considerava um tolo, não levava a sério os seus sentimentos e só queria mantê-lo indefinidamente preso. Entre as divagações sobre o ozônio e a incomunicabilidade dos gestos deixaram de se encontrar.
Ele tomou rumo, casou, e foi morar no alto da rua. Ela mudou de bairro e foi morar longe da praça. Assim ficaram durante anos, apartados pelo espaço e pela fantasia de personagens irreais. O passado se tornou distante e a poesia se dissolveu na fumaça urbana. Fecharam-se em seus carros com vidro fumê. Entre fraldas de crianças e questões profissionais abandonaram o poeta e a bailarina.
Tangenciavam o mesmo lugar do mundo, mas suas almas não mais bailavam juntas. Vez por outra o passado invadia a casa e acordava a memória. Ele lembrava dela quando ouvia “Bandolins” e ela pensava nele quando ouvia “Eclipse Oculto”. Evitavam as praças como se fossem lugares malditos. Entre as lembranças do passado e o medo dos fantasmas, encontraram-se, um dia, a caminho do trabalho.
Já não eram tão jovens. Ele achou que ela estava muito envelhecida e ela admirou-se de sua calvice pronunciada. Passaram-se vinte anos, como se fosse dias, como se fosse um século. O tempo mudara tudo. Ficaram sem saber o que falar. Ela tomou a iniciativa e perguntou pelas crianças. Ele respondeu aparentando tranqüilidade e devolveu a pergunta. Ela disse que deviam sair qualquer dia com os meninos. Ele perguntou irônico: “passear na praça?”. Ela ficou vermelha. Entre a ironia e o medo despediram-se para sempre.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Ata 10/10
Ata referente ao dia 10 de outubro de 2009.
Chego. Os garçons blasés comemoram o dois a um do Flamengo. Valéria fala algo entusiasmada para Alfredo, enquanto Emerson devora Rascunhos. Eli chega. Somos agora cinco e a roda de cadeiras está completa. Vivi Resende grita por trás do coelho de pedra. Luciana alarga a roda. Alfredo diz que dá pra ficar ali. Ficamos. Vivi e Luciana descobrem um passado coincidente. Laudelino entra, assim, de viés e se apodera do computador de Valéria. Quando a musiquinha do Windows toca, surgem Bonifácio, Vivi de Bonifácio e Nadya. A roda original está completamente destroçada. Mas mesmo em ruína, fincamos o pé. Ah, se eu tivesse lá, dirá Dora mais tarde por vias virtuais. Se juntam Regina Behar sorridente – escondendo seu conto de três páginas, Ronaldo inadimplente – se desculpando com Bonifácio por um livro de poesia, e André Aguiar – se explicando por que não faltou a reuinão. No meio dessas chegadas, Luciana já leu Pálido Luar. Alfredo já tentou por duas vezes ler o seu Palidez, na terceira consegue. André, sem xérox, lê também o dele. Alexandre não consegue espaço na roda transformada em elipse torta e fica satélite entre os planetas Valéria e Alfredo. Que pena que ele não chegou a tempo para ouvir o som das gaitas deste segundo. Ronaldo lê o meu, ah esqueci de assinar, Náufrago em um Copo de Leite. Emerson distribui o seu conto; Vivi Resende, chicabons – um pra dois, um pra dois. Alfredo dá som ao conto de Emerson, erótico, por sinal. Alma, corpo e espírito. Conversa diversa entre um conto e outro. Homenagem a André no conto de Ronaldo. Isso dá livro, alguém diz. Regina narra uma morte acadêmica. Valéria sugere um final menos trágico. Alexandre fica em pé e impõe respeito com seu vozeirão ao ler o conto de Romarta, Ritual. Os erros de digitação serão corrigidos no dia seguinte pela autora ausente. Luciana fala de auto-ajuda no último da noite. Uma errante bolha de sabão irrompe a roda e captura as atenções. Quer ver... esse vai ser o tema, digo pros meus botões. E não dá outra, em primeiro turno, sob a contagem da comissão eleitoral composta por André e ele só, ao estilo paquistanês, a vitória é assegurada. Termina a reunião com a parada clássica em frente ao Coelhos e com o não menos clássico vamos-pra-praça-da-paz-tomar-uma. A palidez do tema fez contrapeso com o clima da reunião que pareceu, desde começo, prever que na próxima semana haverá um tema tão iridescente feito bola de sabão. Tragam canudos de mamão!
betomenezes
Imagem retirada de http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d6/Round_Table_Conference.jpg
Chego. Os garçons blasés comemoram o dois a um do Flamengo. Valéria fala algo entusiasmada para Alfredo, enquanto Emerson devora Rascunhos. Eli chega. Somos agora cinco e a roda de cadeiras está completa. Vivi Resende grita por trás do coelho de pedra. Luciana alarga a roda. Alfredo diz que dá pra ficar ali. Ficamos. Vivi e Luciana descobrem um passado coincidente. Laudelino entra, assim, de viés e se apodera do computador de Valéria. Quando a musiquinha do Windows toca, surgem Bonifácio, Vivi de Bonifácio e Nadya. A roda original está completamente destroçada. Mas mesmo em ruína, fincamos o pé. Ah, se eu tivesse lá, dirá Dora mais tarde por vias virtuais. Se juntam Regina Behar sorridente – escondendo seu conto de três páginas, Ronaldo inadimplente – se desculpando com Bonifácio por um livro de poesia, e André Aguiar – se explicando por que não faltou a reuinão. No meio dessas chegadas, Luciana já leu Pálido Luar. Alfredo já tentou por duas vezes ler o seu Palidez, na terceira consegue. André, sem xérox, lê também o dele. Alexandre não consegue espaço na roda transformada em elipse torta e fica satélite entre os planetas Valéria e Alfredo. Que pena que ele não chegou a tempo para ouvir o som das gaitas deste segundo. Ronaldo lê o meu, ah esqueci de assinar, Náufrago em um Copo de Leite. Emerson distribui o seu conto; Vivi Resende, chicabons – um pra dois, um pra dois. Alfredo dá som ao conto de Emerson, erótico, por sinal. Alma, corpo e espírito. Conversa diversa entre um conto e outro. Homenagem a André no conto de Ronaldo. Isso dá livro, alguém diz. Regina narra uma morte acadêmica. Valéria sugere um final menos trágico. Alexandre fica em pé e impõe respeito com seu vozeirão ao ler o conto de Romarta, Ritual. Os erros de digitação serão corrigidos no dia seguinte pela autora ausente. Luciana fala de auto-ajuda no último da noite. Uma errante bolha de sabão irrompe a roda e captura as atenções. Quer ver... esse vai ser o tema, digo pros meus botões. E não dá outra, em primeiro turno, sob a contagem da comissão eleitoral composta por André e ele só, ao estilo paquistanês, a vitória é assegurada. Termina a reunião com a parada clássica em frente ao Coelhos e com o não menos clássico vamos-pra-praça-da-paz-tomar-uma. A palidez do tema fez contrapeso com o clima da reunião que pareceu, desde começo, prever que na próxima semana haverá um tema tão iridescente feito bola de sabão. Tragam canudos de mamão!
betomenezes
Imagem retirada de http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d6/Round_Table_Conference.jpg
domingo, 11 de outubro de 2009
Transcrição das Twittadas ao vivo
O texto a seguir é uma transcrição da transmissão feita ao vivo, via Twitter, da reunião do dia 10 de outubro de 2009.
Começou a "reuinao" do Clube. Presentes: Beto e Eli, Vivi e Boni, Nadya, André, Behar, Vivi, Luciana, Emerson, Alfredo, Laudelino e Valéria. Tema de hoje: PÁLIDO! Nada de contos no momento, apenas discussoes transversais. Trilha sonora: Alfredo toca sua gaita. Luciana tenta ler seu conto: Cálido lunar. Findada a leitura do conto, Luciana recebe as sugestoes. Debate acirrado sobre o conto de Luciana. Está rendendo muito assunto literário. Próximo conto no tema de Alfredo Albuquerque, título Palidez. André incidentalmente corta o conto de Alfredo. Mesmo título Palidez. André nao trouxe cópias, teve de ler o conto em tom alto e claro. Ronaldo chegou causando alvoroço e fazendo suas brincadeiras. Alfredo, finalmente, lerá seu conto. No início da leitura, chegou Alexandre. Alfredo terminou de ler seu conto estilo Sexto Sentido. Comentários acerca do conto. Próxima leitura: Beto e seu conto nao assinado. Naufrago em um Copo de Leite. Beto e demais interrompem a conversa de Valeria e Alfredo para leitura do conto. O leitor do conto de Beto foi Ronaldo Monte. Emerson distribui seu conto no tema. Vivi distribuiu picoles ao inves de contos. Alfredo le o conto de Emerson. Conto de Emerson foi muito erotico. Deve ser censurado na revista ponto. Luciana protesta contra a censura. Ronaldo le seu conto. Ronaldo homenageou Andre Ricardo Aguiar no conto. Beto puxou a discussao sobre a diferença entre alma e espírito. Regina Behar distribuiu seu conto e aguarda o momento de leitura. Surgiu outra discussao: concurso literário. Regina aguarda... Andre lerá o conto de Regina. Findada a leitura do conto de Regina, surgem os comentários. Romarta nao compareceu, mas "trouxe" conto. Alexandre fará a leitura. Findada a leitura dos contos no tema PÁLIDO. Luciana le um conto fora de tema, na verdade, é sobre auto-ajuda, tema da semana passada. Acabou a sessao de contos! Iniciada a polêmica: escolher o tema da outra semana. Bolhas ou bolinhas de sabao animam a reuniao. O eterno tema entra na votaçao: ALIÁS. Beto ensina novos processo de limpeza doméstica utilizando sabao. Beto ensina a lavar cabelo. Curiosidades físicas. Candidatos a tema: aliás, mapas, bolha ou bola de sabao, golpe de sorte, placas e metrô. Golpe de sorte: 6 votos. Bolha de sabao: 7 votos. Mapas: 1 voto. Aliás: 0 votos. Metrô: 1 voto. Placas: 0 votos. Elegemos, sem necessidade de segundo turno, BOLHA DE SABAO! Discussoes alheias... Momento tenso: pedir a conta! Hora do recreio. Mesa redonda foi um sucesso!
FIM DA REUNIÃO
Laudelino
Imagem retirada de http://www.shtetlinks.jewishgen.org/Lyakhovichi/images/artDerFrayndYudaPen.jpg
Começou a "reuinao" do Clube. Presentes: Beto e Eli, Vivi e Boni, Nadya, André, Behar, Vivi, Luciana, Emerson, Alfredo, Laudelino e Valéria. Tema de hoje: PÁLIDO! Nada de contos no momento, apenas discussoes transversais. Trilha sonora: Alfredo toca sua gaita. Luciana tenta ler seu conto: Cálido lunar. Findada a leitura do conto, Luciana recebe as sugestoes. Debate acirrado sobre o conto de Luciana. Está rendendo muito assunto literário. Próximo conto no tema de Alfredo Albuquerque, título Palidez. André incidentalmente corta o conto de Alfredo. Mesmo título Palidez. André nao trouxe cópias, teve de ler o conto em tom alto e claro. Ronaldo chegou causando alvoroço e fazendo suas brincadeiras. Alfredo, finalmente, lerá seu conto. No início da leitura, chegou Alexandre. Alfredo terminou de ler seu conto estilo Sexto Sentido. Comentários acerca do conto. Próxima leitura: Beto e seu conto nao assinado. Naufrago em um Copo de Leite. Beto e demais interrompem a conversa de Valeria e Alfredo para leitura do conto. O leitor do conto de Beto foi Ronaldo Monte. Emerson distribui seu conto no tema. Vivi distribuiu picoles ao inves de contos. Alfredo le o conto de Emerson. Conto de Emerson foi muito erotico. Deve ser censurado na revista ponto. Luciana protesta contra a censura. Ronaldo le seu conto. Ronaldo homenageou Andre Ricardo Aguiar no conto. Beto puxou a discussao sobre a diferença entre alma e espírito. Regina Behar distribuiu seu conto e aguarda o momento de leitura. Surgiu outra discussao: concurso literário. Regina aguarda... Andre lerá o conto de Regina. Findada a leitura do conto de Regina, surgem os comentários. Romarta nao compareceu, mas "trouxe" conto. Alexandre fará a leitura. Findada a leitura dos contos no tema PÁLIDO. Luciana le um conto fora de tema, na verdade, é sobre auto-ajuda, tema da semana passada. Acabou a sessao de contos! Iniciada a polêmica: escolher o tema da outra semana. Bolhas ou bolinhas de sabao animam a reuniao. O eterno tema entra na votaçao: ALIÁS. Beto ensina novos processo de limpeza doméstica utilizando sabao. Beto ensina a lavar cabelo. Curiosidades físicas. Candidatos a tema: aliás, mapas, bolha ou bola de sabao, golpe de sorte, placas e metrô. Golpe de sorte: 6 votos. Bolha de sabao: 7 votos. Mapas: 1 voto. Aliás: 0 votos. Metrô: 1 voto. Placas: 0 votos. Elegemos, sem necessidade de segundo turno, BOLHA DE SABAO! Discussoes alheias... Momento tenso: pedir a conta! Hora do recreio. Mesa redonda foi um sucesso!
FIM DA REUNIÃO
Laudelino
Imagem retirada de http://www.shtetlinks.jewishgen.org/Lyakhovichi/images/artDerFrayndYudaPen.jpg
sábado, 10 de outubro de 2009
Transmissao ao vivo!
Acompanhem o twitter do Clube, estamos transmitindo ao vivo a "reuinao" de hoje, 10 de outubro de 2009! www.twitter.com/clubedoconto
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Estante virtual: ponto #0
A revista ponto #0 está esgotada, por isso, para quem não conseguiu adquirir um exemplar, estamos disponibilizando a versão eletrônica. Leiam!
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
MINIATA
Ata referente ao dia 3 de outubro de 2009.
Existem alguns mitos e teorias a respeito do clube do conto. Existem também outras coisas, questões que tentamos solucionar desde a origem dos tempos narrativos. A távola redonda não é tão redonda assim. A quadratura do círculo, a equalização dos sons, a tribuna abstrata, para ficarmos com algumas. Há contistas que sumiram sem deixar vestígios? Existe vida além do Coelhos? Enquanto nada disso é revelado, eis a reunião de sábado: Laudelino, Alfredo, Bonifácio e Vivi, Valéria, Romarta, Vivi, Carlos Cartaxo, Dôra, Raoni. Como convidados, Fábio e Adelle, amigos que trouxe. Ronaldo assumiu o papel de fantasma, mas trouxe conto e foi lido. E não menos importante, nossa revista Ponto foi distribuída para ganhar o mundo. Os assuntos versaram sobre tudo, desde jabutis ganhos até sistema de votos. E por uma tortuosa forma de votação, ganhou o tema Pálido. Tenho dito!
A.R.A.
Figura retirada de http://bernadete.files.wordpress.com/2009/06/geometria.jpg
Existem alguns mitos e teorias a respeito do clube do conto. Existem também outras coisas, questões que tentamos solucionar desde a origem dos tempos narrativos. A távola redonda não é tão redonda assim. A quadratura do círculo, a equalização dos sons, a tribuna abstrata, para ficarmos com algumas. Há contistas que sumiram sem deixar vestígios? Existe vida além do Coelhos? Enquanto nada disso é revelado, eis a reunião de sábado: Laudelino, Alfredo, Bonifácio e Vivi, Valéria, Romarta, Vivi, Carlos Cartaxo, Dôra, Raoni. Como convidados, Fábio e Adelle, amigos que trouxe. Ronaldo assumiu o papel de fantasma, mas trouxe conto e foi lido. E não menos importante, nossa revista Ponto foi distribuída para ganhar o mundo. Os assuntos versaram sobre tudo, desde jabutis ganhos até sistema de votos. E por uma tortuosa forma de votação, ganhou o tema Pálido. Tenho dito!
A.R.A.
Figura retirada de http://bernadete.files.wordpress.com/2009/06/geometria.jpg
domingo, 4 de outubro de 2009
revista ponto #2
Revista ponto #2 está prontinha e impressa. Tiragem de 100 exemplares, cada exemplar é numerado, formato da revista 10,5cm x 14,5cm, 32 páginas e capa em papel couché. Preço camarada: dois reais.
Nesta edição, além da homenagem a Dôra Limeira, a historiadora oficial do Clube, contém contos de Roberto Menezes, Joana Belarmino, Maria Romarta, Cláudio José, Ronaldo Monte, Luciana Silveira, Emerson Cunha, Maria Valéria Rezende (que acabou de ganhar um prêmio Jabuti), José Benedito (o Bené) e um conto feito a duas mãos por Ramon e Dôra Limeira. A revista pode ser pequena no tamanho, mas ainda cabe tirinhas de Karen Matias e mais um capítulo da história do Clube.
Para adquirir é simples, basta mandar um email (clubeconto@gmail.com) ou entrar em contato via comentário.
Edições antigas: ponto #0, ponto #1.
Nesta edição, além da homenagem a Dôra Limeira, a historiadora oficial do Clube, contém contos de Roberto Menezes, Joana Belarmino, Maria Romarta, Cláudio José, Ronaldo Monte, Luciana Silveira, Emerson Cunha, Maria Valéria Rezende (que acabou de ganhar um prêmio Jabuti), José Benedito (o Bené) e um conto feito a duas mãos por Ramon e Dôra Limeira. A revista pode ser pequena no tamanho, mas ainda cabe tirinhas de Karen Matias e mais um capítulo da história do Clube.
Para adquirir é simples, basta mandar um email (clubeconto@gmail.com) ou entrar em contato via comentário.
Edições antigas: ponto #0, ponto #1.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Autores da Semana (8)
Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número oito: Raoni Xavier.
***
Raoni Xavier nasceu em 1984, é ilustrador free-lancer, está terminando educação artística na UFPB, escreve contos e produz quadrinhos nas horas vagas. Há mais de um ano trabalha na organização do Projeto Calango (www.prac.ufpb.br/ projetocalango) de quadrinhos.
Seu blog: www.ocadonix.blogspot.com
O conto de Raoni foi criado a partir de um exercício de uma das reuniões do Clube do Conto, escrever uma história a partir do desenho feito por Geraldo Maciel, o Barreto. Confiram!
***
Adeus velho amigo
- Coriolano? Você esta ai?
- Por favor homem, deixe eu sair, o que teme dessa velha carcaça? Me diga. Que posso eu fazer além de esperar pelo fim?
Coriolano contorce a face relutante. Pensava que apenas um crápula, sangue frio, prenderia alguém por todo aquele tempo. Por outro lado, ainda não confiava nas palavras de redenção daquele maligno. Coriolano olhava para o objeto cinza-níquel em sua mão como quem procura sombras no breu. Experimentava-o na superfície do cárcere, esboçando uma decisão, quando tudo o que tinha eram dilemas. Como enfrentaria sua própria consciência se deixasse escapar aquele monstro.
É certo que já não era o mesmo monstro do passado. Suas articulações enrijecidas e seu olhar grisalho, escancaravam o fato óbvio de que mal podia pôr-se de pé. Mesmo sendo alguém tão perigoso, o sujeito merecia uma chance. Ao menos a oportunidade de poder ver a morte com dignidade. E no fim das contas, eram duas almas velhas, um prisioneiro, o outro carcereiro, dois resultados de uma vida de dívidas. Ele próprio, Coriolano, também merecia seu descanso, assim como um fiel servo de Deus merece o céu.
Ergueu a mão olhando pro seu prisioneiro, como se visse naqueles olhos os seus, acertou o objeto na superfície suada e disparou, abrindo uma fenda de sangue na parede de seus pensamentos. Pela fenda, um homem velho se rastejou, ergueu-se e rastejou, passos incertos, como se deixasse um velho amigo para trás.
***
Raoni Xavier nasceu em 1984, é ilustrador free-lancer, está terminando educação artística na UFPB, escreve contos e produz quadrinhos nas horas vagas. Há mais de um ano trabalha na organização do Projeto Calango (www.prac.ufpb.br/
Seu blog: www.ocadonix.blogspot.com
O conto de Raoni foi criado a partir de um exercício de uma das reuniões do Clube do Conto, escrever uma história a partir do desenho feito por Geraldo Maciel, o Barreto. Confiram!
***
Adeus velho amigo
- Coriolano? Você esta ai?
- Por favor homem, deixe eu sair, o que teme dessa velha carcaça? Me diga. Que posso eu fazer além de esperar pelo fim?
Coriolano contorce a face relutante. Pensava que apenas um crápula, sangue frio, prenderia alguém por todo aquele tempo. Por outro lado, ainda não confiava nas palavras de redenção daquele maligno. Coriolano olhava para o objeto cinza-níquel em sua mão como quem procura sombras no breu. Experimentava-o na superfície do cárcere, esboçando uma decisão, quando tudo o que tinha eram dilemas. Como enfrentaria sua própria consciência se deixasse escapar aquele monstro.
É certo que já não era o mesmo monstro do passado. Suas articulações enrijecidas e seu olhar grisalho, escancaravam o fato óbvio de que mal podia pôr-se de pé. Mesmo sendo alguém tão perigoso, o sujeito merecia uma chance. Ao menos a oportunidade de poder ver a morte com dignidade. E no fim das contas, eram duas almas velhas, um prisioneiro, o outro carcereiro, dois resultados de uma vida de dívidas. Ele próprio, Coriolano, também merecia seu descanso, assim como um fiel servo de Deus merece o céu.
Ergueu a mão olhando pro seu prisioneiro, como se visse naqueles olhos os seus, acertou o objeto na superfície suada e disparou, abrindo uma fenda de sangue na parede de seus pensamentos. Pela fenda, um homem velho se rastejou, ergueu-se e rastejou, passos incertos, como se deixasse um velho amigo para trás.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Autores da Semana (7)
Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número sete: Laudelino Menezes.
***
Laudelino Menezes é natural de Recife e começou a morar na cidade de João Pessoa em 1995, desde então fica viajando entre estas duas capitais. Passou a escrever contos depois que frequentou uma oficina literária do Fenart, em 2005, local onde teve contato com integrantes do Clube do Conto da Paraíba. Bastou este primeiro contato para se tornar um frequentador assiduo das reuniões do Clube.
Até o momento, Laudelino tem poucos contos publicados, alguns aqui no Blog, outros nas Atas do Clube do Conto (mais especificamente nas edições #4 e #5), um na antologia do Clube e outro na revista ponto #1.
Além de escrever alguns contos, Laudelino estuda e ensina matemática e tem a honra de ser o "blogueiro oficial" do Clube.
***
EM BRANCO
Ficou surpreso, não conseguia escrever nada e assim fez, nada escreveu. Foi uma produção longa, mais de 1698 laudas de puro branco, uma verdadeira história épica, o autor destemido estava orgulhoso. Apresentou os manuscritos e surpreendeu a todos os editores, até os que não conheciam a obra queriam publicá-la a todo custo. Optou pelo editor que lhe ofereceu n regalias, n maior do que 1.
Para promover o seu tão esperado livro, preparou um longo discurso, interpretou, decorou e dramatizou cada palavra e cada gesto, iria encantar a todos da platéia. Chegou o tão esperado dia, nunca havia visto público tão grande em toda sua vida. O apresentador o anunciou, subiu no palco e recebeu a salva de palmas. Preparou-se, tossiu um pouco e principiou o seu longo silêncio, não proferiu uma palavra durante horas e horas, ficou imóvel, suando frio. Todos o olhavam com olhos de lince, atenciosos ao silêncio. Disse um Boa noite inaudível e a platéia o aplaudiu, todos estavam felizes por terem escutado um discurso tão belo.
Já nas livrarias o livro vendeu aos milhares e várias e várias pessoas lotavam o dia, à tarde e a noite de autógrafos. O empurra-empurra era tão grande que o autor não conseguia assinar livro algum. Por outro lado, os fãs ficavam contentes em ter aquela assinatura em branco.
Um belo dia, uma ex-namorada sua, que não via há muito tempo, bateu em sua porta. Ela estava fula da vida, não entendia como o autor pudera escrever tanto da intimidade vivida por eles no livro. Foi difícil, mas conseguiu convencê-la de que não havia tanto do antigo relacionamento deles escrito nas páginas em branco do romance.
Depois de todo esse burburinho, encontro de ex-amores, autógrafos e lançamentos, o livro continua sendo procurado, porém o que é mais esperado é o segundo livro do audacioso escritor. Vagando por sua modesta casa, encontramo-lo debruçado sobre sua escrivaninha, aguardando as idéias surgirem, por enquanto, só existe uma pilha de papéis em branco.
***
Laudelino Menezes é natural de Recife e começou a morar na cidade de João Pessoa em 1995, desde então fica viajando entre estas duas capitais. Passou a escrever contos depois que frequentou uma oficina literária do Fenart, em 2005, local onde teve contato com integrantes do Clube do Conto da Paraíba. Bastou este primeiro contato para se tornar um frequentador assiduo das reuniões do Clube.
Até o momento, Laudelino tem poucos contos publicados, alguns aqui no Blog, outros nas Atas do Clube do Conto (mais especificamente nas edições #4 e #5), um na antologia do Clube e outro na revista ponto #1.
Além de escrever alguns contos, Laudelino estuda e ensina matemática e tem a honra de ser o "blogueiro oficial" do Clube.
***
EM BRANCO
Ficou surpreso, não conseguia escrever nada e assim fez, nada escreveu. Foi uma produção longa, mais de 1698 laudas de puro branco, uma verdadeira história épica, o autor destemido estava orgulhoso. Apresentou os manuscritos e surpreendeu a todos os editores, até os que não conheciam a obra queriam publicá-la a todo custo. Optou pelo editor que lhe ofereceu n regalias, n maior do que 1.
Para promover o seu tão esperado livro, preparou um longo discurso, interpretou, decorou e dramatizou cada palavra e cada gesto, iria encantar a todos da platéia. Chegou o tão esperado dia, nunca havia visto público tão grande em toda sua vida. O apresentador o anunciou, subiu no palco e recebeu a salva de palmas. Preparou-se, tossiu um pouco e principiou o seu longo silêncio, não proferiu uma palavra durante horas e horas, ficou imóvel, suando frio. Todos o olhavam com olhos de lince, atenciosos ao silêncio. Disse um Boa noite inaudível e a platéia o aplaudiu, todos estavam felizes por terem escutado um discurso tão belo.
Já nas livrarias o livro vendeu aos milhares e várias e várias pessoas lotavam o dia, à tarde e a noite de autógrafos. O empurra-empurra era tão grande que o autor não conseguia assinar livro algum. Por outro lado, os fãs ficavam contentes em ter aquela assinatura em branco.
Um belo dia, uma ex-namorada sua, que não via há muito tempo, bateu em sua porta. Ela estava fula da vida, não entendia como o autor pudera escrever tanto da intimidade vivida por eles no livro. Foi difícil, mas conseguiu convencê-la de que não havia tanto do antigo relacionamento deles escrito nas páginas em branco do romance.
Depois de todo esse burburinho, encontro de ex-amores, autógrafos e lançamentos, o livro continua sendo procurado, porém o que é mais esperado é o segundo livro do audacioso escritor. Vagando por sua modesta casa, encontramo-lo debruçado sobre sua escrivaninha, aguardando as idéias surgirem, por enquanto, só existe uma pilha de papéis em branco.
domingo, 20 de setembro de 2009
Ata pronta para uso e abuso
Ata referente ao dia 19 de setembro de 2009.
E existe uma mesa. Uma mesa enorme. Enormíssima mesa.
E existem comensais. Comensais demais. Tantos quantos você puder acomodar na imaginação.
Existem povos nativos de fala arrevesada, senhores que perderam a sisudez, navegantes de outros ofícios que nem dão bola para El-rei.
Existem os fracos por bebida. Os latifundiários da narrativa. Os cupins de mesa e os grilos de jardim.
Senhoras e senhores, binoculistas e telescopistas, ladies and gentlemen. O Clube do Conto é nômade mas tem raízes fortes. E uma delas é a ata. Um gênero pé-no-chão (um chão movediço, diga-se de passagem).
Para este sábado que passou tivemos as leituras de Romarta, Alfredo, Beto, Ronaldo e a estréia de Eli. Em dado momento, pedimos silêncio e em outro dado momento, não fomos atendidos. Estiveram presentes Laudelino (que chegou e foi embora), Bonifácio e Vivi, Valéria, Alfredo, Cartaxo, Emerson, três ou quatro xícaras de café, Regina Behar, Raoni, Vivi, a outra, André, o outro. Mirem-se no exemplo. Também foram sugeridos a volta dos contos cegos e a possibilidade de usarmos poemas que gerassem contos. Nada mais justo. Para sugestões, temas como vermelho, ilha, conto erótico e viatura deram as caras. Mas a escolha recaiu sobre souvenir.
No mais, estamos na reta final para o terceiro número da revista Ponto,
E quem sabe um dia, não estaremos nos coçando para uma antologia chamada: O grande livro dos contos sobre alergias, micoses, medos e fobias? Pura invencionice.
Até a ata seguinte.
André Ricardo Aguiar
Imagens retiradas de
- http://ww-success.com/blog/wp-includes/images/Coffee.jpg
- http://cdn2.libsyn.com/astronomy/hevelius_telescope.gif
E existe uma mesa. Uma mesa enorme. Enormíssima mesa.
E existem comensais. Comensais demais. Tantos quantos você puder acomodar na imaginação.
Existem povos nativos de fala arrevesada, senhores que perderam a sisudez, navegantes de outros ofícios que nem dão bola para El-rei.
Existem os fracos por bebida. Os latifundiários da narrativa. Os cupins de mesa e os grilos de jardim.
Senhoras e senhores, binoculistas e telescopistas, ladies and gentlemen. O Clube do Conto é nômade mas tem raízes fortes. E uma delas é a ata. Um gênero pé-no-chão (um chão movediço, diga-se de passagem).
Para este sábado que passou tivemos as leituras de Romarta, Alfredo, Beto, Ronaldo e a estréia de Eli. Em dado momento, pedimos silêncio e em outro dado momento, não fomos atendidos. Estiveram presentes Laudelino (que chegou e foi embora), Bonifácio e Vivi, Valéria, Alfredo, Cartaxo, Emerson, três ou quatro xícaras de café, Regina Behar, Raoni, Vivi, a outra, André, o outro. Mirem-se no exemplo. Também foram sugeridos a volta dos contos cegos e a possibilidade de usarmos poemas que gerassem contos. Nada mais justo. Para sugestões, temas como vermelho, ilha, conto erótico e viatura deram as caras. Mas a escolha recaiu sobre souvenir.
No mais, estamos na reta final para o terceiro número da revista Ponto,
E quem sabe um dia, não estaremos nos coçando para uma antologia chamada: O grande livro dos contos sobre alergias, micoses, medos e fobias? Pura invencionice.
Até a ata seguinte.
André Ricardo Aguiar
Imagens retiradas de
- http://ww-success.com/blog/wp-includes/images/Coffee.jpg
- http://cdn2.libsyn.com/astronomy/hevelius_telescope.gif
sábado, 19 de setembro de 2009
Ata apressada
Não é a primeira vez que acontece, também não será a última, a ata da reunião do último sábado demorou pra aparecer e, quando apareceu, apareceu em dose dupla. Quase que simultâneamente (veja os horários das postagens), Laudelino e Alfredo relataram, cada um a sua maneira, o que se passou no último encontro.
***
Ata referente ao dia 12 de setembro de 2009, segundo Alfredo Albuquerque.
Aí eu cheguei e a Dôra tava lá, sentada naqueles bancos na entrada do Coelho’s, e eu me sentei também e a gente conversou um pouco e aí chegou alguém, eu acho que foi o Emerson, sem saber que a gente tinha marcado a reunião para as 18h, achando que estava era atrasado mesmo, e depois disso foi chegando todo mundo, a Vivi com o Boni II, o Beto com a Ely (é com Ypsilone mesmo?), o Lau, a Valéria com a Vivi II, o Cartaxo, a Luciana e o André, que tinha prometido chegar no horário mas já descambou para um atraso de 15 minutos. Bem, eu li meu texto que foi, na verdade, uma enrolação danada porque eu fiquei com preguiça de escrever um conto e fiz um parágrafo pequeno só prá enganar, aí a Valéria leu seu conto que eu não lembro o nome mas que de cara me lembrou o filme Blow Up, o que me deu muita nostalgia de quando eu assisti esse filme massa. Depois o Beto leu seu conto que eu já conhecia de outros carnavais, mas isso não tem importância porque o Beto sempre escreve muito e sempre leva um conto novo, a não ser dessa vez. E aí o Emerson leu o conto dele, mas eu não me lembro qual era porque ele teve problemas prá imprimir e não levou cópias prá gente e aí na hora de fazer a ata eu não pude consultar seu conto, e aí a Luciana leu seu conto que a Valéria comentou depois dando umas dicas superimportantíssimas pois tinha um cenário armado mas faltava um pouco de história no conto dela. Depois foi o André que leu seu conto do equilibrista que acaba com o cara morando em cima da corda mas sem esse lance de ser desequilibrado, e aí veio o Beto com seu conto de três páginas que é uma espécie de fábula sobre o envelhecimento e aí a reunião meio que se acabou e o Laudelino escreveu no Twitter que a gente discutiu novela, mas eu não me lembro disso, e depois vieram as sugestões de tema e aí foram eleitos dois temas que empataram na votação que foram Piromania e Crime. E eu acho que vou escrever um conto que tem as duas coisas e é isso aí.
Alfredo
Imagem retirada de http://www.ima.org.au/media/news/flight.jpg
***
Ata referente ao dia 12 de setembro de 2009, segundo Alfredo Albuquerque.
Aí eu cheguei e a Dôra tava lá, sentada naqueles bancos na entrada do Coelho’s, e eu me sentei também e a gente conversou um pouco e aí chegou alguém, eu acho que foi o Emerson, sem saber que a gente tinha marcado a reunião para as 18h, achando que estava era atrasado mesmo, e depois disso foi chegando todo mundo, a Vivi com o Boni II, o Beto com a Ely (é com Ypsilone mesmo?), o Lau, a Valéria com a Vivi II, o Cartaxo, a Luciana e o André, que tinha prometido chegar no horário mas já descambou para um atraso de 15 minutos. Bem, eu li meu texto que foi, na verdade, uma enrolação danada porque eu fiquei com preguiça de escrever um conto e fiz um parágrafo pequeno só prá enganar, aí a Valéria leu seu conto que eu não lembro o nome mas que de cara me lembrou o filme Blow Up, o que me deu muita nostalgia de quando eu assisti esse filme massa. Depois o Beto leu seu conto que eu já conhecia de outros carnavais, mas isso não tem importância porque o Beto sempre escreve muito e sempre leva um conto novo, a não ser dessa vez. E aí o Emerson leu o conto dele, mas eu não me lembro qual era porque ele teve problemas prá imprimir e não levou cópias prá gente e aí na hora de fazer a ata eu não pude consultar seu conto, e aí a Luciana leu seu conto que a Valéria comentou depois dando umas dicas superimportantíssimas pois tinha um cenário armado mas faltava um pouco de história no conto dela. Depois foi o André que leu seu conto do equilibrista que acaba com o cara morando em cima da corda mas sem esse lance de ser desequilibrado, e aí veio o Beto com seu conto de três páginas que é uma espécie de fábula sobre o envelhecimento e aí a reunião meio que se acabou e o Laudelino escreveu no Twitter que a gente discutiu novela, mas eu não me lembro disso, e depois vieram as sugestões de tema e aí foram eleitos dois temas que empataram na votação que foram Piromania e Crime. E eu acho que vou escrever um conto que tem as duas coisas e é isso aí.
Alfredo
Imagem retirada de http://www.ima.org.au/media/news/flight.jpg
Retratistas ou Clube do Conto da meia-noite
Não é a primeira vez que acontece, também não será a última, a ata da reunião do último sábado demorou pra aparecer e, quando apareceu, apareceu em dose dupla. Quase que simultâneamente (veja os horários das postagens), Laudelino e Alfredo relataram, cada um a sua maneira, o que se passou no último encontro.
***
Ata referente ao dia 12 de setembro de 2009, segundo Laudelino Menezes.
A ata chega um pouco atrasada, mas chega. Pois bem, no último sábado compareceram os que chegaram na hora, 18 horas em ponto: Valéria, Vivi e Bonifácio, Dôra, Emerson, Vivi 2, Beto e Eli e Caio, Alfredo e Laudelino; e os que chegaram atrasados: André, Luciana e Cartaxo.
A leitura de contos começou mesmo por volta das 18h30. Daqui a pouco, a reunião do Clube acontecerá a meia-noite, ou então domingo às 14h, tudo isso porque a cada semana o horário atrasa meia hora para ver se conseguimos nos reunir todos na hora marcada. Passaremos a nos chamar Clube do Conto da meia-noite ou Clube do Conto do domingo...
Pela ordem, foram lidos os contos no tema do dia: Fotografa-se. Alfredo leu seu mini-ensaio; Valéria leu sua versão do filme BLOW-UP; Beto leu o seu conto com direito a correção simultânea; Valéria leu o conto de Emerson e, logo em seguida, teceu comentários acerca da escrita; e Luciana leu o seu conto impresso em cores diferentes para, depois, escutar que faltou um desfecho no enredo.
Os contos do tema esgotaram-se, então André leu um conto no tema da semana passada (Equilibistra) e Beto leu um outro conto, meio fora do tema, que mais parece um roteiro de filme francês.
Findada a leitura de contos, chegou o momento tenso da reunião, decidir o tema da próxima semana. Por um momento discutimos o último capítulo da novela das 8, depois voltamos ao fio da meada e Valéria sugeriu o exercício da sinopse, que, por hora, não vingou, pois os temas escolhidos foram Piromania e Crime.
E assim termina mais uma reunião do Clube do Conto da Paraíba.
No próximo capítulo iremos saber quem fez o dever de casa... André chegara no horário marcado? Eli levará o conto prometido? Só saberá quem comparecer na reunião a partir das 18h (em ponto) com transmissão ao vivo pelo Twitter (ou não).
Laudelino
Imagens retiradas de:
- http://babado.ig.com.br/images/189/189/88/6117399.caminho_das_indias_1gente___fotos_300_460.jpg
- http://jaeh.files.wordpress.com/2008/09/ate-meia-noite-hoje.jpg
- http://img406.imageshack.us/img406/8584/alaminuteqi9.jpg
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Ata referente ao dia 12 de setembro de 2009, segundo Laudelino Menezes.
A ata chega um pouco atrasada, mas chega. Pois bem, no último sábado compareceram os que chegaram na hora, 18 horas em ponto: Valéria, Vivi e Bonifácio, Dôra, Emerson, Vivi 2, Beto e Eli e Caio, Alfredo e Laudelino; e os que chegaram atrasados: André, Luciana e Cartaxo.
A leitura de contos começou mesmo por volta das 18h30. Daqui a pouco, a reunião do Clube acontecerá a meia-noite, ou então domingo às 14h, tudo isso porque a cada semana o horário atrasa meia hora para ver se conseguimos nos reunir todos na hora marcada. Passaremos a nos chamar Clube do Conto da meia-noite ou Clube do Conto do domingo...
Pela ordem, foram lidos os contos no tema do dia: Fotografa-se. Alfredo leu seu mini-ensaio; Valéria leu sua versão do filme BLOW-UP; Beto leu o seu conto com direito a correção simultânea; Valéria leu o conto de Emerson e, logo em seguida, teceu comentários acerca da escrita; e Luciana leu o seu conto impresso em cores diferentes para, depois, escutar que faltou um desfecho no enredo.
Os contos do tema esgotaram-se, então André leu um conto no tema da semana passada (Equilibistra) e Beto leu um outro conto, meio fora do tema, que mais parece um roteiro de filme francês.
Findada a leitura de contos, chegou o momento tenso da reunião, decidir o tema da próxima semana. Por um momento discutimos o último capítulo da novela das 8, depois voltamos ao fio da meada e Valéria sugeriu o exercício da sinopse, que, por hora, não vingou, pois os temas escolhidos foram Piromania e Crime.
E assim termina mais uma reunião do Clube do Conto da Paraíba.
No próximo capítulo iremos saber quem fez o dever de casa... André chegara no horário marcado? Eli levará o conto prometido? Só saberá quem comparecer na reunião a partir das 18h (em ponto) com transmissão ao vivo pelo Twitter (ou não).
Laudelino
Imagens retiradas de:
- http://babado.ig.com.br/images/189/189/88/6117399.caminho_das_indias_1gente___fotos_300_460.jpg
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sábado, 12 de setembro de 2009
Saudosas Atas do Clube do Conto (5)
As antigas Atas do Clube do Conto não são mais produzidas, por isso, para aqueles que não tiveram oportunidade de adquirir um exemplar, estamos disponibilizando eletronicamente esta antiga publicação do Clube.
Chegamos ao último número, a Ata de número 6. Parece até que sabiamos que esta seria a última, pois é a edição que contém mais páginas, vinte. Consequentemente, é a publicação com maior índice de participantes: João Batista de Brito (Incendiário), Antônio Mariano (O sol das bibliotecas não nasce para todos), Dôra Limeira (Tantos livros), Ronaldo Monte (A condição e o exercício que transformaram a vida do Sr. Quijada), Maria Valéria Rezende (O perfeito bibliotecário), Cláudio José (Eficiência), Raoni Xavier (Os revolucionários), Waldir Pedrosa (Biblioteca), Mercedes Cavalcanti (A biblioteca) e Joana Belarmino (A biblioteca de Titã).
Pelo título dos contos, dá para notar que os temas centrais são livro e biblioteca. O patrono desta edição é Jorge Luiz Borges.
Para quem não gosta de ler na tela do computador, existe a opção de impressão.
Boa leitura!
PS: continuamos devendo a edição número 1.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Ata(R)
Ata referente ao dia 5 de setembro de 2009.
Romarta e Rosilda
EmeRson
RobeRto
Antonio MaRiano
AlfRedo
Luciana SilveiRa
AndRé R. AguiaR
AndRé Dias
Vivi Rezende
ValéRia Rezende (via TwitteR)
Laudelino, que fez um chuRrasco dia desses...
Reunião rápida e recorrente, o ramerrão rendeu reiteradas risadas, rútilas, rasteiras. Rumamos ao repasto: reunimos com rondas raramente restritas ao reino da rescritura renovada. Rendemos rápidos rascunhos e refutamos riscos de reaparecer roucos ou ralos. Rimos, rugimos, refletimos, redescobrimos. Reiteramos renovada reunião com rumor de rumos: reparem:
FotogRafa-se!
AndRé AguiaR
***
Adendo: Esta foi a primeira reunião do Clube do Conto com transmissão ao vivo via Twitter, o Twitteiro oficial foi Beto Menezes. Transcrevo os principais lances ditos:
Laudelino
Figura retirada de http://mobmg.photobucket.com/albums/v691/GrimmyDee/Blog%20Pics/LetterR.jpg?t=1242302645
Romarta e Rosilda
EmeRson
RobeRto
Antonio MaRiano
AlfRedo
Luciana SilveiRa
AndRé R. AguiaR
AndRé Dias
Vivi Rezende
ValéRia Rezende (via TwitteR)
Laudelino, que fez um chuRrasco dia desses...
Reunião rápida e recorrente, o ramerrão rendeu reiteradas risadas, rútilas, rasteiras. Rumamos ao repasto: reunimos com rondas raramente restritas ao reino da rescritura renovada. Rendemos rápidos rascunhos e refutamos riscos de reaparecer roucos ou ralos. Rimos, rugimos, refletimos, redescobrimos. Reiteramos renovada reunião com rumor de rumos: reparem:
FotogRafa-se!
AndRé AguiaR
***
Adendo: Esta foi a primeira reunião do Clube do Conto com transmissão ao vivo via Twitter, o Twitteiro oficial foi Beto Menezes. Transcrevo os principais lances ditos:
- Reunião prestes a começar... ou começou? Três integrantes pedem uma cerveja... Skol, antartica, boemia?
- Tema de hoje: Equilibrista
- Ata em tempo real: Chegaram Beto, Luciana, Laudelino, Alfredo, Mariano e André Dias... nessa ordem. André Aguiar está vindo de busão.
- André Aguiar e Emerson chegam... Laudelino lê o seu conto.
- Romarta e Rosilda chegam transversais. Laudelino segue pro jogo... os contos do tema vão começar a ser lido.
- Conto de Romarta: Mirna, a menina de rua. Estréia no Clube do Conto.
- Conto de Luciana Silveira: O equilibrista. Profissional de yoga falando de equilíbrio, como será?
- Conto de Beto Menezes: O equilibrista de dezenove dedos: O espetáculo do Crescimento. Título de enredo de escola de samba.
- Conto de Alfredo Albuquerque: O desequilibrista. Ele coloca o primeiro...
- Resumo do conto de Alfredo: O equilíbrista quer quase perder a guerra pois essa é a essência do risco.
- Conto de Emerson Cunha: À beira de um equilíbrio. Politicamente correto trouxe o conto impresso em um papel rascunho.
- Esgotaram-se os contos. Conversaria diversa.
- Temas em votação: Fotografa-se, R, Picardia, Aliás, Manchete do Já.
- E o grande vencedor... é ... é ... Fotografa-se.
- A reunião termina... continue seguindo... [o Twitter do Clube]
Laudelino
Figura retirada de http://mobmg.photobucket.com/albums/v691/GrimmyDee/Blog%20Pics/LetterR.jpg?t=1242302645
Autores da Semana (6)
Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número meia-duzia: Dôra Limeira.
***
Dôra Limeira tenta trazer a lume realidades que, por se esconderem atrás do óbvio, pouco são percebidas. Ruídos do cotidiano, gemidos de carências alimentares, de necessidades sexuais e afetivas. Sussurros de pessoas velhas, doentes terminais, pessoas desagasalhadas. Em seus escritos, esta contista tenta ouvir e expressar murmúrios escatológicos, religiosos, libidinosos, murmúrios domésticos. No ato de criação, todos os gemidos valem a pena.
Dôra Limeira é paraibana, nascida em João Pessoa, bairro de Cruz das Armas.
Fez os primeiros estudos em escola pública. Na seqüência, estudou em colégio particular religioso, de onde saiu para a Universidade Federal da Paraiba. Graduou-se e especializou-se em Historia. Ministrou aulas em escolas particulares e públicas. Também lecionou na Universidade Federal da Paraíba. Como professora/pesquisadora, desenvolveu projetos de pesquisa sobre Historia Regional do Nordeste. Como parte da vida acadêmica, escreveu e publicou textos técnicos restritos à sua área profissional.
Depois que se aposentou, Dôra Limeira passou a dispor de tempo e espaço onde colocar em prática uma atividade que sempre a fascinara desde criança e que não desenvolvera até então por falta de oportunidades: literatura. A internet foi seu primeiro canal de expressão e divulgação literária. Participou de sites literários, escrevendo contos, comentando, interagindo com outros escritores. Estimulada pela satisfação de escrever e incentivada por amigos, recolheu todo o material acumulado e publicou seu primeiro livro - Arquitetura de um Abandono que lhe valeu um destaque: foi considerada a Revelação Literária de 2003 pelo Correio das Artes, suplemento do jornal local A União.
Dôra Limeira é uma das pessoas fundadoras do Clube do Conto da Paraíba, que existe desde junho de 2004.
Livros de contos publicados até o momento: Arquitetura de um Abandono (2003), Preces e Orgasmos dos Desvalidos (2005), O Beijo de Deus (2007), todos editados pela Editora Manufatura, com ilustrações de Vant. Está prestes a ser publicado o “Os gemidos da rua”.
Dôra Limeira tem projetos para um próximo livro que, certamente, não será de contos, segundo ela mesma adiantou.
O e-mail válido para contatos é doralims@bol.com.br.
***
EU QUERO COMER BRIGADEIRO
Preto, traje roto, sandálias de dedo, ele morava num aglomerado habitacional de taipa, na periferia. Era menino ainda, mas suspeitaram que fosse bandido. Seu corpo amiúde fazia mogangas sobre um monte de barro, no arruado onde morava, equilibrando-se com agilidade. Brincava de ser cristo redentor, braços esticados, mãos estendidas sobre um corcovado de brasilites e isopores rasgados. Vadiava sob os aplausos da meninada e dos adultos desocupados. De tanto repetir a brincadeira, ganhou um apelido: “Cristo Redentor”, Cristim na intimidade. Era franzino, comprido e não tinha medo de nada. Nos horários da escola, ora estendia seus braços em cruz sobre o arruado, ora se postava junto aos semáforos. Fazia malabarismos e virava cambalhotas diante dos carros parados no sinal vermelho. Comia fogo, canivetes, tesouras. Assim, ganhava uns trocados e entregava, em casa, à sua mãe que também tinha apelido – Dona Maria de Cristim. Um dia, final de tarde, parou junto à vitrine de uma lanchonete. Foi quando suspeitaram que fosse bandido. Imóvel, avistou os doces e brigadeiros, bolos confeitados, empadas e pastéis. As glândulas salivaram. Com a fome nos olhos e a boca babando, Cristim apalpou os bolsos rasos da bermuda. Ouviu o tilintar das moedas que arrecadara comendo tesouras no último semáforo. Retirou as moedas do bolso e pensou eu quero comer brigadeiro. Mas não houve tempo. Um jato de sangue jorrou-lhe das entranhas e as moedas tilintaram no chão. Rolaram ladeira abaixo, alegres. Para Cristim, já não valiam nada. Seu corpo deu entrada no IML, sem sinais especiais que o identificassem, sem dono. Serviu de exemplo nos noticiários de televisão. O rosto morto foi capa de revista policial. Tarjas pretas cobriram-lhe os olhos desbotados, envergonhados. Cristo Redentor era menor de idade, um menino ainda, mas pensaram que fosse bandido. Em casa, sua mãe esperou a noite inteira. Volta para casa, Cristim, pensava. E chorava feito uma pietá. Dona Maria não sabia que, rígido e frio, Cristo jazia numa gaveta de frigorífico, sem túnica.
***
Dôra Limeira tenta trazer a lume realidades que, por se esconderem atrás do óbvio, pouco são percebidas. Ruídos do cotidiano, gemidos de carências alimentares, de necessidades sexuais e afetivas. Sussurros de pessoas velhas, doentes terminais, pessoas desagasalhadas. Em seus escritos, esta contista tenta ouvir e expressar murmúrios escatológicos, religiosos, libidinosos, murmúrios domésticos. No ato de criação, todos os gemidos valem a pena.
Dôra Limeira é paraibana, nascida em João Pessoa, bairro de Cruz das Armas.
Fez os primeiros estudos em escola pública. Na seqüência, estudou em colégio particular religioso, de onde saiu para a Universidade Federal da Paraiba. Graduou-se e especializou-se em Historia. Ministrou aulas em escolas particulares e públicas. Também lecionou na Universidade Federal da Paraíba. Como professora/pesquisadora, desenvolveu projetos de pesquisa sobre Historia Regional do Nordeste. Como parte da vida acadêmica, escreveu e publicou textos técnicos restritos à sua área profissional.
Depois que se aposentou, Dôra Limeira passou a dispor de tempo e espaço onde colocar em prática uma atividade que sempre a fascinara desde criança e que não desenvolvera até então por falta de oportunidades: literatura. A internet foi seu primeiro canal de expressão e divulgação literária. Participou de sites literários, escrevendo contos, comentando, interagindo com outros escritores. Estimulada pela satisfação de escrever e incentivada por amigos, recolheu todo o material acumulado e publicou seu primeiro livro - Arquitetura de um Abandono que lhe valeu um destaque: foi considerada a Revelação Literária de 2003 pelo Correio das Artes, suplemento do jornal local A União.
Dôra Limeira é uma das pessoas fundadoras do Clube do Conto da Paraíba, que existe desde junho de 2004.
Livros de contos publicados até o momento: Arquitetura de um Abandono (2003), Preces e Orgasmos dos Desvalidos (2005), O Beijo de Deus (2007), todos editados pela Editora Manufatura, com ilustrações de Vant. Está prestes a ser publicado o “Os gemidos da rua”.
Dôra Limeira tem projetos para um próximo livro que, certamente, não será de contos, segundo ela mesma adiantou.
O e-mail válido para contatos é doralims@bol.com.br.
***
EU QUERO COMER BRIGADEIRO
Preto, traje roto, sandálias de dedo, ele morava num aglomerado habitacional de taipa, na periferia. Era menino ainda, mas suspeitaram que fosse bandido. Seu corpo amiúde fazia mogangas sobre um monte de barro, no arruado onde morava, equilibrando-se com agilidade. Brincava de ser cristo redentor, braços esticados, mãos estendidas sobre um corcovado de brasilites e isopores rasgados. Vadiava sob os aplausos da meninada e dos adultos desocupados. De tanto repetir a brincadeira, ganhou um apelido: “Cristo Redentor”, Cristim na intimidade. Era franzino, comprido e não tinha medo de nada. Nos horários da escola, ora estendia seus braços em cruz sobre o arruado, ora se postava junto aos semáforos. Fazia malabarismos e virava cambalhotas diante dos carros parados no sinal vermelho. Comia fogo, canivetes, tesouras. Assim, ganhava uns trocados e entregava, em casa, à sua mãe que também tinha apelido – Dona Maria de Cristim. Um dia, final de tarde, parou junto à vitrine de uma lanchonete. Foi quando suspeitaram que fosse bandido. Imóvel, avistou os doces e brigadeiros, bolos confeitados, empadas e pastéis. As glândulas salivaram. Com a fome nos olhos e a boca babando, Cristim apalpou os bolsos rasos da bermuda. Ouviu o tilintar das moedas que arrecadara comendo tesouras no último semáforo. Retirou as moedas do bolso e pensou eu quero comer brigadeiro. Mas não houve tempo. Um jato de sangue jorrou-lhe das entranhas e as moedas tilintaram no chão. Rolaram ladeira abaixo, alegres. Para Cristim, já não valiam nada. Seu corpo deu entrada no IML, sem sinais especiais que o identificassem, sem dono. Serviu de exemplo nos noticiários de televisão. O rosto morto foi capa de revista policial. Tarjas pretas cobriram-lhe os olhos desbotados, envergonhados. Cristo Redentor era menor de idade, um menino ainda, mas pensaram que fosse bandido. Em casa, sua mãe esperou a noite inteira. Volta para casa, Cristim, pensava. E chorava feito uma pietá. Dona Maria não sabia que, rígido e frio, Cristo jazia numa gaveta de frigorífico, sem túnica.
sábado, 5 de setembro de 2009
Sessão de Contos (3)
Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.
Hoje exibiremos um conto inédito, dirigido por Alfredo Albuquerque. O conto, no tema Super-Herói, foi lido na reunião de 22/08/2009.
***
Superego
Comecei por matar o Super Homem. Atirei-o da janela do terceiro andar de modo que ele não pudesse reagir. Espatifou-se no gramado, quebrou um braço, arranhou o joelho e, ao ser levado ao hospital, morreu.
O Homem Aranha teve um fim parecido. Ao tentar equilibrar-se em uma de suas teias, presa no puxador do armário e na cabeceira da cama, desequilibrou-se e foi ter com a cara no chão, provocando sangramento na boca e um dente quebrado. Eu o matei na primeira sessão de tratamento dentário.
O Príncipe Submarino morreu afogado na piscina do condomínio quando o levei ao lado mais fundo e o fiz pular sob ameaças de chamá-lo de covarde caso não o fizesse. O Homem Invisível não conseguiu atravessar a parede do banheiro, quando o empurrei, e morreu ali mesmo, no vaso sanitário, sentado, sem entender o porquê de não ter sido capaz de acionar seus poderes. A Mulher Maravilha também não foi poupada, vindo a falecer após levar uma surra humilhante de minha mãe que não havia gostado de vê-la calçada com seus sapatos de festa. A surra a debilitou e eu acabei por matá-la sufocada em lágrimas.
Houve também um Deus a quem neguei comida, matando-o de fome, e em seguida meu pai, que se desintegrou diante dos meus olhos após ser pego em flagrante cometendo contradições entre o que dizia e o que fazia.
E assim fui matando todos, um por um, deixando seus corpos estendidos no passado, como um lembrete à minha memória de que heróis são melhores mortos.
Restou um.
Hoje exibiremos um conto inédito, dirigido por Alfredo Albuquerque. O conto, no tema Super-Herói, foi lido na reunião de 22/08/2009.
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Superego
Comecei por matar o Super Homem. Atirei-o da janela do terceiro andar de modo que ele não pudesse reagir. Espatifou-se no gramado, quebrou um braço, arranhou o joelho e, ao ser levado ao hospital, morreu.
O Homem Aranha teve um fim parecido. Ao tentar equilibrar-se em uma de suas teias, presa no puxador do armário e na cabeceira da cama, desequilibrou-se e foi ter com a cara no chão, provocando sangramento na boca e um dente quebrado. Eu o matei na primeira sessão de tratamento dentário.
O Príncipe Submarino morreu afogado na piscina do condomínio quando o levei ao lado mais fundo e o fiz pular sob ameaças de chamá-lo de covarde caso não o fizesse. O Homem Invisível não conseguiu atravessar a parede do banheiro, quando o empurrei, e morreu ali mesmo, no vaso sanitário, sentado, sem entender o porquê de não ter sido capaz de acionar seus poderes. A Mulher Maravilha também não foi poupada, vindo a falecer após levar uma surra humilhante de minha mãe que não havia gostado de vê-la calçada com seus sapatos de festa. A surra a debilitou e eu acabei por matá-la sufocada em lágrimas.
Houve também um Deus a quem neguei comida, matando-o de fome, e em seguida meu pai, que se desintegrou diante dos meus olhos após ser pego em flagrante cometendo contradições entre o que dizia e o que fazia.
E assim fui matando todos, um por um, deixando seus corpos estendidos no passado, como um lembrete à minha memória de que heróis são melhores mortos.
Restou um.
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