quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Autores da Semana (7)

Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número sete: Laudelino Menezes.

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Laudelino Menezes é natural de Recife e começou a morar na cidade de João Pessoa em 1995, desde então fica viajando entre estas duas capitais. Passou a escrever contos depois que frequentou uma oficina literária do Fenart, em 2005, local onde teve contato com integrantes do Clube do Conto da Paraíba. Bastou este primeiro contato para se tornar um frequentador assiduo das reuniões do Clube.

Até o momento, Laudelino tem poucos contos publicados, alguns aqui no Blog, outros nas Atas do Clube do Conto (mais especificamente nas edições #4 e #5), um na antologia do Clube e outro na revista ponto #1.

Além de escrever alguns contos, Laudelino estuda e ensina matemática e tem a honra de ser o "blogueiro oficial" do Clube.

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EM BRANCO

Ficou surpreso, não conseguia escrever nada e assim fez, nada escreveu. Foi uma produção longa, mais de 1698 laudas de puro branco, uma verdadeira história épica, o autor destemido estava orgulhoso. Apresentou os manuscritos e surpreendeu a todos os editores, até os que não conheciam a obra queriam publicá-la a todo custo. Optou pelo editor que lhe ofereceu n regalias, n maior do que 1.

Para promover o seu tão esperado livro, preparou um longo discurso, interpretou, decorou e dramatizou cada palavra e cada gesto, iria encantar a todos da platéia. Chegou o tão esperado dia, nunca havia visto público tão grande em toda sua vida. O apresentador o anunciou, subiu no palco e recebeu a salva de palmas. Preparou-se, tossiu um pouco e principiou o seu longo silêncio, não proferiu uma palavra durante horas e horas, ficou imóvel, suando frio. Todos o olhavam com olhos de lince, atenciosos ao silêncio. Disse um Boa noite inaudível e a platéia o aplaudiu, todos estavam felizes por terem escutado um discurso tão belo.

Já nas livrarias o livro vendeu aos milhares e várias e várias pessoas lotavam o dia, à tarde e a noite de autógrafos. O empurra-empurra era tão grande que o autor não conseguia assinar livro algum. Por outro lado, os fãs ficavam contentes em ter aquela assinatura em branco.

Um belo dia, uma ex-namorada sua, que não via há muito tempo, bateu em sua porta. Ela estava fula da vida, não entendia como o autor pudera escrever tanto da intimidade vivida por eles no livro. Foi difícil, mas conseguiu convencê-la de que não havia tanto do antigo relacionamento deles escrito nas páginas em branco do romance.

Depois de todo esse burburinho, encontro de ex-amores, autógrafos e lançamentos, o livro continua sendo procurado, porém o que é mais esperado é o segundo livro do audacioso escritor. Vagando por sua modesta casa, encontramo-lo debruçado sobre sua escrivaninha, aguardando as idéias surgirem, por enquanto, só existe uma pilha de papéis em branco.

5 comentários:

Valéria disse...

Muito bom, Lau... juntando este seu conto com "O Escritor" do nosso querido e saudoso Barreto, corremos o risco de ser um dia, no futuuuuuuuro, acusados de ser os ideólogos do fim da literatura... ou de sua transformação em eterno silêncio... perga de haver até tese de doutorado provando essa ligtação... !!!

Laudelino disse...

Pois é Valéria, escrevi este conto sem ter lido o de Barreto e, mesmo assim, as histórias se complementam. Daqui a uns anos, os livros terão limites de letras, feito o Twitter.

André disse...

Beleza, redondo como uma skol...e como sempre, de parabéns aos que cuidam do blog mais ativo do pedaço...Lau, seus textos sempre respiram essa caraterística de eterna provocação. Até o próximo post. Abraços!

Anônimo disse...

Lau,

Sou Jandira Costa, mas o pessoal do Clube me conhece por "Jan".
Estive aí no mês de junho e tive a sorte de participar do Clube do Conto e conhecer a Valéria, o Alfredo e rever alguns amigos muito queridos: o André, Mariano e o Cartaxo. Foi uma tarde alegre e inesquecível. Espero encontrá-lo na próxima visita a João Pessoa.Enquanto isto vou lendo os seus textos e concordo com o André:
você está de parabéns!
Abraços,
Jan

Laudelino disse...

Valeu pelos comentários galera! Sempre tento fazer contos divertidos, se tiver algum drama, não foi intencional.