Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.
Hoje exibiremos um conto inédito, dirigido por Alfredo Albuquerque. O conto, no tema Super-Herói, foi lido na reunião de 22/08/2009.
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Superego
Comecei por matar o Super Homem. Atirei-o da janela do terceiro andar de modo que ele não pudesse reagir. Espatifou-se no gramado, quebrou um braço, arranhou o joelho e, ao ser levado ao hospital, morreu.
O Homem Aranha teve um fim parecido. Ao tentar equilibrar-se em uma de suas teias, presa no puxador do armário e na cabeceira da cama, desequilibrou-se e foi ter com a cara no chão, provocando sangramento na boca e um dente quebrado. Eu o matei na primeira sessão de tratamento dentário.
O Príncipe Submarino morreu afogado na piscina do condomínio quando o levei ao lado mais fundo e o fiz pular sob ameaças de chamá-lo de covarde caso não o fizesse. O Homem Invisível não conseguiu atravessar a parede do banheiro, quando o empurrei, e morreu ali mesmo, no vaso sanitário, sentado, sem entender o porquê de não ter sido capaz de acionar seus poderes. A Mulher Maravilha também não foi poupada, vindo a falecer após levar uma surra humilhante de minha mãe que não havia gostado de vê-la calçada com seus sapatos de festa. A surra a debilitou e eu acabei por matá-la sufocada em lágrimas.
Houve também um Deus a quem neguei comida, matando-o de fome, e em seguida meu pai, que se desintegrou diante dos meus olhos após ser pego em flagrante cometendo contradições entre o que dizia e o que fazia.
E assim fui matando todos, um por um, deixando seus corpos estendidos no passado, como um lembrete à minha memória de que heróis são melhores mortos.
Restou um.
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