terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Conto de Romarta


Conto de Maria Romarta.

* * *

SEPARADOS

A chuva brincava de sumir e aparecer, então, Luíde nem se dava ao trabalho de fechar o guarda-chuva. Lílian havia esquecido o dela, por isso se abrigava ali, junto do ex-marido. As malas rente aos pés dos dois também se valiam daquele abrigo.

Eles estavam a passar um final de semana na casa de campo que tinham. Tudo ia muito bem até que Luíde, do filho, se pôs a lembrar.

- Se ele tivesse sobrevivido ia gostar de brincar naquele campinho.

-Com essa chuva toda?

-Não. Nos dias de sol.

-Também gostaria que ele estivesse aqui.

-Mas bem que eu pedi a você, Lilian, não vá ao trabalho, você precisa de repouso, fique em casa! Mas você foi. E lá acabou tropeçando, caindo da escada... Se tivesse me ouvido...

Depois disso, simultaneamente cada um fez as malas, cada um tirou seu carro da garagem e saiu estrada a fora. Foi aí que se tornaram ex. Porém, não foram muito longe, a estrada tentou, até que conseguiu prender os carros ao chão.

Juntos de novo, mas separados e numa ideia conjunta, o casal caminhou até outra estrada que havia mais adiante e cada um ligou pedindo um táxi.

Sob o mesmo guarda chuva os dois mentiam calados, sozinhos. Após uma eternidade, um táxi apontou naquela estrada, ziguezagueando pela lama. Era o que Lílian havia chamado. O taxista, eterno de simpatia, disse qualquer coisa sobre quase não ter conseguido chegar até lá. Ela não deu muita importância, foi guardando as malas, enquanto, Luíde somente observava a chuva ir abraçando o rosto dela.

- Você vem?- O taxista perguntou ao ex.

- Não, estou esperando outro táxi.

Lílian entrou naquele carro pela porta da esquerda e acenou pelo vidro, como quem dizia milhões de coisas.

Nesse momento, Luíde percebeu que despedida tem gosto, não necessariamente bom.

Aquela despedida, aliás, tinha um gosto. Gosto de quando a gente fala o que não deve.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Ata da Feira Solidária - Parte II


ATA DE FEIRA (referente ao dia 11/2/2012)
André Ricardo Aguiar

O artesanato até que funciona, entalhe e madeira, palha que se trança, argila a moldar, costuras e bordados. É quase um bloco de carnaval: em vez de repique e surdo, vai silêncio e prosa. A evolução é sagrada, segue um ritmo de avenida nas alegorias do conto. Nota 10 para todos,

Foram lidos contos de Joana, Beto, Wander, André, Norma e Romarta. Em redor do artesanado, palavras foram costuradas e embaladas como itens turísticos de diversa lavra. Presenças de Valéria e família, Eli, Emilayne, Sérgio Janna e filha, Mariana, Valeska e o povo da feira.

O tema escolhido, Desde o outro carnaval, foi quase unânime. Estão previstos um folheto com os contos do tema Feira Solidária e um cordel com os participantes da feira.

O referido é verdade e dou fé.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ata da Feira Solidária - Parte I


Ata referente ao dia 4 de fevereiro de 2012.

Os dois sorvetes derretiam na areia, o sabor de flocos com limão não era do aprecio de todos, tanto que Jennifer preferiu ir a Marte a ter de dar ouvidos aos contistas reunidos naquela tarde agradável de 04/02/2012. Quer saber? Azar o dela, ela deveria ter ficado como todos que estavam na Feira Solidária em Tambaú, a convite do amigo Lau Siqueira. Parecia que ia ser a feirinha da depressão, tipo, como assim só Wander trouxe conto? Entretanto, aos pouquinhos, foram saindo da toca outros textos, André Aguiar tirou até um velhinho embalsamado de dentro do seu notebook. Betomenezes não deixou por menos e comoveu Joana Belarmino com seus ape.. atrepe... Apetrechos! Até os sorvetes disseram em coral. Laudelino Menezes não trouxe conto, mas dedurou quem tinha e estava escondendo o ouro. Romarta Ferreira, estressada com tanta gente apontando, procurou se acalmar e entrar no embalo dos sorvetes mágicos. Gláucia, Alfredo, Dália, todos ouvindo, deparam-se com outra jóia, o poema de Norma Alves. Jennifer se foi ao fim, perdeu a tapioca, o café e a língua de sogra. Ah, e os apetrechos também. Nem viu, coitada, nosso mestre de cerimônia do dia, Lau, sugerir o tema para nossa segunda ida à feira na semana seguinte. Para homenagear aquele povo que tão bem nos recebeu, feira ficou como tema, aprovado por unanimidade. Que contos sairão dessa loucura toda? Os sorvetes vão derreter outra vez? E Jennifer, a bichinha, voltará ela para prestigiar tal evento? Isso é o que saberemos na parte dois das aventuras do Clube do Conto na Feira Solidária de Tambaú, na semana que vem. Aguardem.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Conto de Joedson Adriano


BOI PRO PALÁCIO


queriam dois jumentos ao cavalo igualar-se
começaram então a praticar em casa
a nobre equitação pra levar à praça
o coxear costumeiro que caçava disfarce


um quanto humilde e nem tanto muar
após muito treinar seus coices ao vento
percebeu que nem pra andar tinha talento
e ainda menos pro altivo cavalgar


entanto o outro mais vaidoso e marrento
além de sem dom nem aí pro treinamento
insistiu em ir contra a sua natureza


e sua vida mais que o comum foi dureza
em cada exposição as vaias e os urros
da sincera platéia a lhe chamar de burro