quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Autores da Semana (8)

Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número oito: Raoni Xavier.

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Raoni Xavier nasceu em 1984, é ilustrador free-lancer, está terminando educação artística na UFPB, escreve contos e produz quadrinhos nas horas vagas. Há mais de um ano trabalha na organização do Projeto Calango (www.prac.ufpb.br/projetocalango) de quadrinhos.

Seu blog: www.ocadonix.blogspot.com

O conto de Raoni foi criado a partir de um exercício de uma das reuniões do Clube do Conto, escrever uma história a partir do desenho feito por Geraldo Maciel, o Barreto. Confiram!

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Adeus velho amigo

- Coriolano? Você esta ai?

- Por favor homem, deixe eu sair, o que teme dessa velha carcaça? Me diga. Que posso eu fazer além de esperar pelo fim?

Coriolano contorce a face relutante. Pensava que apenas um crápula, sangue frio, prenderia alguém por todo aquele tempo. Por outro lado, ainda não confiava nas palavras de redenção daquele maligno. Coriolano olhava para o objeto cinza-níquel em sua mão como quem procura sombras no breu. Experimentava-o na superfície do cárcere, esboçando uma decisão, quando tudo o que tinha eram dilemas. Como enfrentaria sua própria consciência se deixasse escapar aquele monstro.

É certo que já não era o mesmo monstro do passado. Suas articulações enrijecidas e seu olhar grisalho, escancaravam o fato óbvio de que mal podia pôr-se de pé. Mesmo sendo alguém tão perigoso, o sujeito merecia uma chance. Ao menos a oportunidade de poder ver a morte com dignidade. E no fim das contas, eram duas almas velhas, um prisioneiro, o outro carcereiro, dois resultados de uma vida de dívidas. Ele próprio, Coriolano, também merecia seu descanso, assim como um fiel servo de Deus merece o céu.

Ergueu a mão olhando pro seu prisioneiro, como se visse naqueles olhos os seus, acertou o objeto na superfície suada e disparou, abrindo uma fenda de sangue na parede de seus pensamentos. Pela fenda, um homem velho se rastejou, ergueu-se e rastejou, passos incertos, como se deixasse um velho amigo para trás.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Autores da Semana (7)

Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número sete: Laudelino Menezes.

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Laudelino Menezes é natural de Recife e começou a morar na cidade de João Pessoa em 1995, desde então fica viajando entre estas duas capitais. Passou a escrever contos depois que frequentou uma oficina literária do Fenart, em 2005, local onde teve contato com integrantes do Clube do Conto da Paraíba. Bastou este primeiro contato para se tornar um frequentador assiduo das reuniões do Clube.

Até o momento, Laudelino tem poucos contos publicados, alguns aqui no Blog, outros nas Atas do Clube do Conto (mais especificamente nas edições #4 e #5), um na antologia do Clube e outro na revista ponto #1.

Além de escrever alguns contos, Laudelino estuda e ensina matemática e tem a honra de ser o "blogueiro oficial" do Clube.

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EM BRANCO

Ficou surpreso, não conseguia escrever nada e assim fez, nada escreveu. Foi uma produção longa, mais de 1698 laudas de puro branco, uma verdadeira história épica, o autor destemido estava orgulhoso. Apresentou os manuscritos e surpreendeu a todos os editores, até os que não conheciam a obra queriam publicá-la a todo custo. Optou pelo editor que lhe ofereceu n regalias, n maior do que 1.

Para promover o seu tão esperado livro, preparou um longo discurso, interpretou, decorou e dramatizou cada palavra e cada gesto, iria encantar a todos da platéia. Chegou o tão esperado dia, nunca havia visto público tão grande em toda sua vida. O apresentador o anunciou, subiu no palco e recebeu a salva de palmas. Preparou-se, tossiu um pouco e principiou o seu longo silêncio, não proferiu uma palavra durante horas e horas, ficou imóvel, suando frio. Todos o olhavam com olhos de lince, atenciosos ao silêncio. Disse um Boa noite inaudível e a platéia o aplaudiu, todos estavam felizes por terem escutado um discurso tão belo.

Já nas livrarias o livro vendeu aos milhares e várias e várias pessoas lotavam o dia, à tarde e a noite de autógrafos. O empurra-empurra era tão grande que o autor não conseguia assinar livro algum. Por outro lado, os fãs ficavam contentes em ter aquela assinatura em branco.

Um belo dia, uma ex-namorada sua, que não via há muito tempo, bateu em sua porta. Ela estava fula da vida, não entendia como o autor pudera escrever tanto da intimidade vivida por eles no livro. Foi difícil, mas conseguiu convencê-la de que não havia tanto do antigo relacionamento deles escrito nas páginas em branco do romance.

Depois de todo esse burburinho, encontro de ex-amores, autógrafos e lançamentos, o livro continua sendo procurado, porém o que é mais esperado é o segundo livro do audacioso escritor. Vagando por sua modesta casa, encontramo-lo debruçado sobre sua escrivaninha, aguardando as idéias surgirem, por enquanto, só existe uma pilha de papéis em branco.

domingo, 20 de setembro de 2009

Ata pronta para uso e abuso

Ata referente ao dia 19 de setembro de 2009.

E existe uma mesa. Uma mesa enorme. Enormíssima mesa.

E existem comensais. Comensais demais. Tantos quantos você puder acomodar na imaginação.

Existem povos nativos de fala arrevesada, senhores que perderam a sisudez, navegantes de outros ofícios que nem dão bola para El-rei.

Existem os fracos por bebida. Os latifundiários da narrativa. Os cupins de mesa e os grilos de jardim.

Senhoras e senhores, binoculistas e telescopistas, ladies and gentlemen. O Clube do Conto é nômade mas tem raízes fortes. E uma delas é a ata. Um gênero pé-no-chão (um chão movediço, diga-se de passagem).

Para este sábado que passou tivemos as leituras de Romarta, Alfredo, Beto, Ronaldo e a estréia de Eli. Em dado momento, pedimos silêncio e em outro dado momento, não fomos atendidos. Estiveram presentes Laudelino (que chegou e foi embora), Bonifácio e Vivi, Valéria, Alfredo, Cartaxo, Emerson, três ou quatro xícaras de café, Regina Behar, Raoni, Vivi, a outra, André, o outro. Mirem-se no exemplo. Também foram sugeridos a volta dos contos cegos e a possibilidade de usarmos poemas que gerassem contos. Nada mais justo. Para sugestões, temas como vermelho, ilha, conto erótico e viatura deram as caras. Mas a escolha recaiu sobre souvenir.

No mais, estamos na reta final para o terceiro número da revista Ponto,

E quem sabe um dia, não estaremos nos coçando para uma antologia chamada: O grande livro dos contos sobre alergias, micoses, medos e fobias? Pura invencionice.

Até a ata seguinte.

André Ricardo Aguiar

Imagens retiradas de
- http://ww-success.com/blog/wp-includes/images/Coffee.jpg
- http://cdn2.libsyn.com/astronomy/hevelius_telescope.gif

sábado, 19 de setembro de 2009

Ata apressada

Não é a primeira vez que acontece, também não será a última, a ata da reunião do último sábado demorou pra aparecer e, quando apareceu, apareceu em dose dupla. Quase que simultâneamente (veja os horários das postagens), Laudelino e Alfredo relataram, cada um a sua maneira, o que se passou no último encontro.

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Ata referente ao dia 12 de setembro de 2009, segundo Alfredo Albuquerque.


Aí eu cheguei e a Dôra tava lá, sentada naqueles bancos na entrada do Coelho’s, e eu me sentei também e a gente conversou um pouco e aí chegou alguém, eu acho que foi o Emerson, sem saber que a gente tinha marcado a reunião para as 18h, achando que estava era atrasado mesmo, e depois disso foi chegando todo mundo, a Vivi com o Boni II, o Beto com a Ely (é com Ypsilone mesmo?), o Lau, a Valéria com a Vivi II, o Cartaxo, a Luciana e o André, que tinha prometido chegar no horário mas já descambou para um atraso de 15 minutos. Bem, eu li meu texto que foi, na verdade, uma enrolação danada porque eu fiquei com preguiça de escrever um conto e fiz um parágrafo pequeno só prá enganar, aí a Valéria leu seu conto que eu não lembro o nome mas que de cara me lembrou o filme Blow Up, o que me deu muita nostalgia de quando eu assisti esse filme massa. Depois o Beto leu seu conto que eu já conhecia de outros carnavais, mas isso não tem importância porque o Beto sempre escreve muito e sempre leva um conto novo, a não ser dessa vez. E aí o Emerson leu o conto dele, mas eu não me lembro qual era porque ele teve problemas prá imprimir e não levou cópias prá gente e aí na hora de fazer a ata eu não pude consultar seu conto, e aí a Luciana leu seu conto que a Valéria comentou depois dando umas dicas superimportantíssimas pois tinha um cenário armado mas faltava um pouco de história no conto dela. Depois foi o André que leu seu conto do equilibrista que acaba com o cara morando em cima da corda mas sem esse lance de ser desequilibrado, e aí veio o Beto com seu conto de três páginas que é uma espécie de fábula sobre o envelhecimento e aí a reunião meio que se acabou e o Laudelino escreveu no Twitter que a gente discutiu novela, mas eu não me lembro disso, e depois vieram as sugestões de tema e aí foram eleitos dois temas que empataram na votação que foram Piromania e Crime. E eu acho que vou escrever um conto que tem as duas coisas e é isso aí.

Alfredo

Imagem retirada de http://www.ima.org.au/media/news/flight.jpg

Retratistas ou Clube do Conto da meia-noite

Não é a primeira vez que acontece, também não será a última, a ata da reunião do último sábado demorou pra aparecer e, quando apareceu, apareceu em dose dupla. Quase que simultâneamente (veja os horários das postagens), Laudelino e Alfredo relataram, cada um a sua maneira, o que se passou no último encontro.

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Ata referente ao dia 12 de setembro de 2009, segundo Laudelino Menezes.

A ata chega um pouco atrasada, mas chega. Pois bem, no último sábado compareceram os que chegaram na hora, 18 horas em ponto: Valéria, Vivi e Bonifácio, Dôra, Emerson, Vivi 2, Beto e Eli e Caio, Alfredo e Laudelino; e os que chegaram atrasados: André, Luciana e Cartaxo.

A leitura de contos começou mesmo por volta das 18h30. Daqui a pouco, a reunião do Clube acontecerá a meia-noite, ou então domingo às 14h, tudo isso porque a cada semana o horário atrasa meia hora para ver se conseguimos nos reunir todos na hora marcada. Passaremos a nos chamar Clube do Conto da meia-noite ou Clube do Conto do domingo...

Pela ordem, foram lidos os contos no tema do dia: Fotografa-se. Alfredo leu seu mini-ensaio; Valéria leu sua versão do filme BLOW-UP; Beto leu o seu conto com direito a correção simultânea; Valéria leu o conto de Emerson e, logo em seguida, teceu comentários acerca da escrita; e Luciana leu o seu conto impresso em cores diferentes para, depois, escutar que faltou um desfecho no enredo.

Os contos do tema esgotaram-se, então André leu um conto no tema da semana passada (Equilibistra) e Beto leu um outro conto, meio fora do tema, que mais parece um roteiro de filme francês.

Findada a leitura de contos, chegou o momento tenso da reunião, decidir o tema da próxima semana. Por um momento discutimos o último capítulo da novela das 8, depois voltamos ao fio da meada e Valéria sugeriu o exercício da sinopse, que, por hora, não vingou, pois os temas escolhidos foram Piromania e Crime.

E assim termina mais uma reunião do Clube do Conto da Paraíba.

No próximo capítulo iremos saber quem fez o dever de casa... André chegara no horário marcado? Eli levará o conto prometido? Só saberá quem comparecer na reunião a partir das 18h (em ponto) com transmissão ao vivo pelo Twitter (ou não).

Laudelino

Imagens retiradas de:
- http://babado.ig.com.br/images/189/189/88/6117399.caminho_das_indias_1gente___fotos_300_460.jpg
- http://jaeh.files.wordpress.com/2008/09/ate-meia-noite-hoje.jpg
- http://img406.imageshack.us/img406/8584/alaminuteqi9.jpg

sábado, 12 de setembro de 2009

Saudosas Atas do Clube do Conto (5)



As antigas Atas do Clube do Conto não são mais produzidas, por isso, para aqueles que não tiveram oportunidade de adquirir um exemplar, estamos disponibilizando eletronicamente esta antiga publicação do Clube.

Chegamos ao último número, a Ata de número 6. Parece até que sabiamos que esta seria a última, pois é a edição que contém mais páginas, vinte. Consequentemente, é a publicação com maior índice de participantes: João Batista de Brito (Incendiário), Antônio Mariano (O sol das bibliotecas não nasce para todos), Dôra Limeira (Tantos livros), Ronaldo Monte (A condição e o exercício que transformaram a vida do Sr. Quijada), Maria Valéria Rezende (O perfeito bibliotecário), Cláudio José (Eficiência), Raoni Xavier (Os revolucionários), Waldir Pedrosa (Biblioteca), Mercedes Cavalcanti (A biblioteca) e Joana Belarmino (A biblioteca de Titã).

Pelo título dos contos, dá para notar que os temas centrais são livro e biblioteca. O patrono desta edição é Jorge Luiz Borges.

Para quem não gosta de ler na tela do computador, existe a opção de impressão.

Boa leitura!

PS: continuamos devendo a edição número 1.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ata(R)

Ata referente ao dia 5 de setembro de 2009.

Romarta e Rosilda
EmeRson
RobeRto
Antonio MaRiano
AlfRedo
Luciana SilveiRa
AndRé R. AguiaR
AndRé Dias
Vivi Rezende
ValéRia Rezende (via TwitteR)
Laudelino, que fez um chuRrasco dia desses...

Reunião rápida e recorrente, o ramerrão rendeu reiteradas risadas, rútilas, rasteiras. Rumamos ao repasto: reunimos com rondas raramente restritas ao reino da rescritura renovada. Rendemos rápidos rascunhos e refutamos riscos de reaparecer roucos ou ralos. Rimos, rugimos, refletimos, redescobrimos. Reiteramos renovada reunião com rumor de rumos: reparem:

FotogRafa-se!

AndRé AguiaR

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Adendo: Esta foi a primeira reunião do Clube do Conto com transmissão ao vivo via Twitter, o Twitteiro oficial foi Beto Menezes. Transcrevo os principais lances ditos:
  • Reunião prestes a começar... ou começou? Três integrantes pedem uma cerveja... Skol, antartica, boemia?
  • Tema de hoje: Equilibrista
  • Ata em tempo real: Chegaram Beto, Luciana, Laudelino, Alfredo, Mariano e André Dias... nessa ordem. André Aguiar está vindo de busão.
  • André Aguiar e Emerson chegam... Laudelino lê o seu conto.
  • Romarta e Rosilda chegam transversais. Laudelino segue pro jogo... os contos do tema vão começar a ser lido.
  • Conto de Romarta: Mirna, a menina de rua. Estréia no Clube do Conto.
  • Conto de Luciana Silveira: O equilibrista. Profissional de yoga falando de equilíbrio, como será?
  • Conto de Beto Menezes: O equilibrista de dezenove dedos: O espetáculo do Crescimento. Título de enredo de escola de samba.
  • Conto de Alfredo Albuquerque: O desequilibrista. Ele coloca o primeiro...
  • Resumo do conto de Alfredo: O equilíbrista quer quase perder a guerra pois essa é a essência do risco.
  • Conto de Emerson Cunha: À beira de um equilíbrio. Politicamente correto trouxe o conto impresso em um papel rascunho.
  • Esgotaram-se os contos. Conversaria diversa.
  • Temas em votação: Fotografa-se, R, Picardia, Aliás, Manchete do Já.
  • E o grande vencedor... é ... é ... Fotografa-se.
  • A reunião termina... continue seguindo... [o Twitter do Clube]
Será que no próximo sábado teremos mais uma transmissão ao vivo? Será?!

Laudelino

Figura retirada de http://mobmg.photobucket.com/albums/v691/GrimmyDee/Blog%20Pics/LetterR.jpg?t=1242302645

Autores da Semana (6)

Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número meia-duzia: Dôra Limeira.

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Dôra Limeira tenta trazer a lume realidades que, por se esconderem atrás do óbvio, pouco são percebidas. Ruídos do cotidiano, gemidos de carências alimentares, de necessidades sexuais e afetivas. Sussurros de pessoas velhas, doentes terminais, pessoas desagasalhadas. Em seus escritos, esta contista tenta ouvir e expressar murmúrios escatológicos, religiosos, libidinosos, murmúrios domésticos. No ato de criação, todos os gemidos valem a pena.

Dôra Limeira é paraibana, nascida em João Pessoa, bairro de Cruz das Armas.

Fez os primeiros estudos em escola pública. Na seqüência, estudou em colégio particular religioso, de onde saiu para a Universidade Federal da Paraiba. Graduou-se e especializou-se em Historia. Ministrou aulas em escolas particulares e públicas. Também lecionou na Universidade Federal da Paraíba. Como professora/pesquisadora, desenvolveu projetos de pesquisa sobre Historia Regional do Nordeste. Como parte da vida acadêmica, escreveu e publicou textos técnicos restritos à sua área profissional.

Depois que se aposentou, Dôra Limeira passou a dispor de tempo e espaço onde colocar em prática uma atividade que sempre a fascinara desde criança e que não desenvolvera até então por falta de oportunidades: literatura. A internet foi seu primeiro canal de expressão e divulgação literária. Participou de sites literários, escrevendo contos, comentando, interagindo com outros escritores. Estimulada pela satisfação de escrever e incentivada por amigos, recolheu todo o material acumulado e publicou seu primeiro livro - Arquitetura de um Abandono que lhe valeu um destaque: foi considerada a Revelação Literária de 2003 pelo Correio das Artes, suplemento do jornal local A União.

Dôra Limeira é uma das pessoas fundadoras do Clube do Conto da Paraíba, que existe desde junho de 2004.

Livros de contos publicados até o momento: Arquitetura de um Abandono (2003), Preces e Orgasmos dos Desvalidos (2005), O Beijo de Deus (2007), todos editados pela Editora Manufatura, com ilustrações de Vant. Está prestes a ser publicado o “Os gemidos da rua”.

Dôra Limeira tem projetos para um próximo livro que, certamente, não será de contos, segundo ela mesma adiantou.

O e-mail válido para contatos é doralims@bol.com.br.

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EU QUERO COMER BRIGADEIRO

Preto, traje roto, sandálias de dedo, ele morava num aglomerado habitacional de taipa, na periferia. Era menino ainda, mas suspeitaram que fosse bandido. Seu corpo amiúde fazia mogangas sobre um monte de barro, no arruado onde morava, equilibrando-se com agilidade. Brincava de ser cristo redentor, braços esticados, mãos estendidas sobre um corcovado de brasilites e isopores rasgados. Vadiava sob os aplausos da meninada e dos adultos desocupados. De tanto repetir a brincadeira, ganhou um apelido: “Cristo Redentor”, Cristim na intimidade. Era franzino, comprido e não tinha medo de nada. Nos horários da escola, ora estendia seus braços em cruz sobre o arruado, ora se postava junto aos semáforos. Fazia malabarismos e virava cambalhotas diante dos carros parados no sinal vermelho. Comia fogo, canivetes, tesouras. Assim, ganhava uns trocados e entregava, em casa, à sua mãe que também tinha apelido – Dona Maria de Cristim. Um dia, final de tarde, parou junto à vitrine de uma lanchonete. Foi quando suspeitaram que fosse bandido. Imóvel, avistou os doces e brigadeiros, bolos confeitados, empadas e pastéis. As glândulas salivaram. Com a fome nos olhos e a boca babando, Cristim apalpou os bolsos rasos da bermuda. Ouviu o tilintar das moedas que arrecadara comendo tesouras no último semáforo. Retirou as moedas do bolso e pensou eu quero comer brigadeiro. Mas não houve tempo. Um jato de sangue jorrou-lhe das entranhas e as moedas tilintaram no chão. Rolaram ladeira abaixo, alegres. Para Cristim, já não valiam nada. Seu corpo deu entrada no IML, sem sinais especiais que o identificassem, sem dono. Serviu de exemplo nos noticiários de televisão. O rosto morto foi capa de revista policial. Tarjas pretas cobriram-lhe os olhos desbotados, envergonhados. Cristo Redentor era menor de idade, um menino ainda, mas pensaram que fosse bandido. Em casa, sua mãe esperou a noite inteira. Volta para casa, Cristim, pensava. E chorava feito uma pietá. Dona Maria não sabia que, rígido e frio, Cristo jazia numa gaveta de frigorífico, sem túnica.

sábado, 5 de setembro de 2009

Sessão de Contos (3)

Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.

Hoje exibiremos um conto inédito, dirigido por Alfredo Albuquerque. O conto, no tema Super-Herói, foi lido na reunião de 22/08/2009.

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Superego

Comecei por matar o Super Homem. Atirei-o da janela do terceiro andar de modo que ele não pudesse reagir. Espatifou-se no gramado, quebrou um braço, arranhou o joelho e, ao ser levado ao hospital, morreu.

O Homem Aranha teve um fim parecido. Ao tentar equilibrar-se em uma de suas teias, presa no puxador do armário e na cabeceira da cama, desequilibrou-se e foi ter com a cara no chão, provocando sangramento na boca e um dente quebrado. Eu o matei na primeira sessão de tratamento dentário.

O Príncipe Submarino morreu afogado na piscina do condomínio quando o levei ao lado mais fundo e o fiz pular sob ameaças de chamá-lo de covarde caso não o fizesse. O Homem Invisível não conseguiu atravessar a parede do banheiro, quando o empurrei, e morreu ali mesmo, no vaso sanitário, sentado, sem entender o porquê de não ter sido capaz de acionar seus poderes. A Mulher Maravilha também não foi poupada, vindo a falecer após levar uma surra humilhante de minha mãe que não havia gostado de vê-la calçada com seus sapatos de festa. A surra a debilitou e eu acabei por matá-la sufocada em lágrimas.

Houve também um Deus a quem neguei comida, matando-o de fome, e em seguida meu pai, que se desintegrou diante dos meus olhos após ser pego em flagrante cometendo contradições entre o que dizia e o que fazia.

E assim fui matando todos, um por um, deixando seus corpos estendidos no passado, como um lembrete à minha memória de que heróis são melhores mortos.

Restou um.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Poucas palavras

O Clube do Conto também está no Twitter, tipo de blog pra quem escreve pouco. Venha nos seguir, é só acessar http://twitter.com/clubedoconto.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Ata por um fio

Ata referente ao dia 29 de agosto de 2009.

Reuniões são flores sociais. É um ajuntamento com sentido, estendido por um espaço de tempo que, de alguma forma, não é o mesmo para quem acompanha de fora.

Restaurantes foram criados pela necessidade do homem em comer de uma forma descontraída e desligada do contexto de subserviências aos ditames do íntimo da tribo. Mas não é de estranhar que reuniões onde pouco se consome, onde se perfilam seres sem muita fome, dêem nos nervos de profissionais que vivem de servir, e ato contínuo, esperam resultados para o mesmo ato de servir. O Clube do Conto consome mais energia lendo que comendo. O Clube é uma reunião com sentido. E restaurantes, sim, também servem histórias. De graça. Para quem quiser.

Dito isto, a reunião foi um sucesso, com os sempre bem-vindos e esperados (rotineiros) imprevistos. Neste sábado marcaram presença criaturas estranhas, de concordada periculosidade. Eis o espécime homo commodus, nosso Ronaldo do pé amadeirado que, graças, com verve e indisciplina, ocupou lugar de destaque na mesa. Digo, na cadeira. Um pouco a bombordo, Bonifácio e Vivi, contistas de fusos horários levemente alterados que primam pela jovialidade arcaica. Depois, Laudelino que trincha bem tanto uma carne quanto uma história mitológica; também Alfredo, ciente do que faz com o texto e do que produz para que textos do clube ganhem permanência; Dôra, contista e historiadora do conto; Emerson, ganhando foros de assiduidade; Luciana, autora de histórias e divulgadora de filosofia corporal, entre tantas. De quebra, e não menos importante, a convite de Vivi 2, a já bem-vinda Romarta, que escolhida entre tantos Rss, veio abrilhantar a reunião com seu jeito alagoano, sua simpatia e vivacidade, morando tão perto do centro caótico do Coelhos. Contos foram lidos (inclusive um belo exemplo da literatura do lado de lá, Gonçalo M. Tavares, via R.M) e outros tantos foram calados. O Clube está todo prosa e tentando equilibrar permanência e novidade, garimpamos este paradigma leopardiano: é preciso mudar para que as coisas continuem como estão. Qualidade acima de tudo, amparados num tripé de amizade, consistência e fome. A propósito, o tema esteve insinuado em toda esta ata. O equilibrista. Garçom, pode trazer a conta.

Saudosas Atas do Clube do Conto (4)



As antigas Atas do Clube do Conto não são mais produzidas, por isso, para aqueles que não tiveram oportunidade de adquirir um exemplar, estamos disponibilizando eletronicamente esta antiga publicação do Clube.

Nesta edição #5, baixamos a resolução do arquivo para facilitar a abertura da Ata, mas sem perder a qualidade. Participam deste número Regina Behar (As palavras, a combinação, o equivoco), Dôra Limeira (Em ritmo de baião brega), Laudelino Menezes (O dinheiro), Ronaldo Monte (O choque), Valéria Rezende (Fumaça), Antônio Mariano (Ansiedade móvel) e André Aguiar (Labirinto). Patrono da edição: Julio Cortázar.

Comentem se, com esta nova resolução, melhorou ou piorou na hora da leitura. Lembrando que existe a opção de ZOOM.