terça-feira, 10 de novembro de 2009

Sessão de Contos (5)

Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.

Pela primeira vez no blog do Clube, um conto da já-não-tão-novata Maria Romarta, lido na reunião do dia 24 de outubro.

***

Fabiano

O pai fez a cena que todos esperam de uma despedida. Abraçou Fabiano, seu filho único, falou que o amava, olhou-o penosamente nos olhos e partiu.

Deixou-lhe além da sua fortuna, apenas pertences particulares que por ser ele, não apegado ao consumismo, resumiam-se em algumas peças de roupa, dois ou três sapatos, um chapéu de cor preta, alguns relógios e um casaco de couro, típico de peão fazendeiro.

Fabiano era um jovem ambicioso de querer sempre mais, então se tratou logo de cuidar das ações empresariais, que agora eram suas tão somente suas.

Pôs-se a trabalhar feito um louco, se já tinha gosto de ter dinheiro, o teve ainda mais.

Sua única causa pessoal era ele próprio, esqueceu que talvez tivesse parente ou algum amigo distante.

Distinto em luxúria, não era, entretanto só um homem milionário, e sim, um homem milionário, inatingível e sozinho.

Tudo o que lhe pertencia, tinha de ser, sem exceção, de puro luxo. E de tão luxuosas que suas coisas eram, acabaram por adotar o “os” e o “as” nos seus adjetivos. E “os” e “as”, tornaram-se de Fabiano, a marca registrada!

Possuía automóveis importados, caros e raros...

E também mansões panorâmicas, desejadas e douradas...

E assim todo o resto.

Certo dia, num grande evento, nomearam a linha das empresas de Fabiano, como, a que mais cresceu, empregou e obteve lucros em todo o país.

Entre flashes e personalidades, subiu ao palco. Recebeu o troféu, acenou para todos e atencionou às perguntas da imprensa.

...

__ Como se sente, agora recebendo um título tão grandioso como este? Feliz? Realizado?

Fabiano sentia-se muito bem com a conquista, porém duas palavras contidas naquela pergunta confundiram-lhe a mente.

“Feliz? Realizado...”. E um risco de pensar trouxe numa nebulosa imagem a feição morta de seu pai. Por que lembrou?

“... Feliz? Realizado?”

Não soube o que dizer, e deixou que evaporasse sem nenhuma resposta a feliz e realizada pergunta, pouco... a pouco.

Maria Romarta

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