domingo, 25 de novembro de 2012

Modo de apanhar contistas à mão


Ata referente ao dia 24 de novembro de 2012.

E lá vão eles, em formato de livro
dizer que são livres – e são.
Como Sansão indo ao cabeleireiro.
Como Tristão dizendo: me larga Isolda!
Como João, não o Guimarães, mas qualquer João.
O leitor, ah o leitor!
Assim foi o sábado, dia do Senhor
(mpb de um lado, na praça, procissão à véspera
Do barulho, na rua). 
Entre uma coisa e outra,
Deus há-de. O Sertão são os contos, os causos,
O redemoinho. 
Contistas à mão cheia.
Como o canto da sereia, só que no seco.
No piso do shopping em vão. Todos de esguelha.
Pé de conto nasce a todo instante. Colher é que são elas.
O tema é orelha.

André Ricardo Aguiar

domingo, 11 de novembro de 2012

FALTA DE UM ATA DE OUTRO


Ata referente ao dia 10 de novembro de 2012.

os sonhos são vida e a vida imprecisa
carece de arte e assim contamos
Sérgio arrombando um cofre desumano
humanamente prosaico e prolixo se analisa
Norma arrombando um cofre humano
desumanamente poética e precisa não alisa
Gabryelle preciso me concentrar na missa
e acho um coração partido no fim do ano
Eu de mendigo à média à monarca quero
ser coroado como Calderón de La barca
Gilmar nordestinado a não impresso lasca
protesto e esperança ao mercado fero
tudo escrito a não ser a calada Romarta
e a falante Valéria papa ao baixo clero
que ensina vida e arte por isso espero
e ela o paradoxo de Tchecov arremata  

Laudelino
a ata acaba em "arremata"
e o tema da próxima semana é paradoxo

Joedson Adriano

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Antes de Esquecer

Ata referente ao dia 3 de novembro de 2012.


Ah, tava calor? Tava. Calor-rola-rola-calor... Lorca foi? Nem seu avatar tava. Rá! Sem ventania no litoral, o calor que abundava dava dó. André parecia de outro mundo mais infernal que este bebendo um suposto café quente sem ligar para o calor e muito menos em aparecer entre nós escribas pra começar a reunião sabática. Laudelino não levou nem conto nem lauda e só queria sortear-se como ganhador do tal livro preso pelo O Fio da Palavra. Usou de vis tramoias de lograr êxito neste jogo de azar, onde só ganha a casa. Registro esses atos, pois eu era quem queria me livrar do tal livro. E todas as rezas de informes introdutórios não faziam André Pilintra subir. Já há muito tempo acomodado, li meu conto temático revisto e requentado rechamado de Solidão Acomodada, título adequado ao tema Cômodo da Casa (ou algo parecido). Regina Behar antipatizou. Não gostou do título e de nada. De nada adiantou eu ter advogado em favor do tal e voltou-se, então, tal e qual ao original Tela da Solidão. Como tinha só mais um conto a ser lido, traçamos antes considerações em torno da Srª Morte. Antes dela e após ela, concluiu-se que a Vida não pode ser vivida se não vier a Morte ou coisa parecida. Suênia chegou uma semana de atraso com seu miniconto Vinte e três minutos. Nele ela nos conta sobre uma das maiores questões femininas em divergentes posturas de duas personagens. Seja ela, uma mulher-acadêmica (leia-se malhada em academia de formar músculos) versus mulher-normal. Trama: dilema ético-estético das mulheres: tomar ou não sorvetes. Contos lidos e idos, enquanto seguro por um café André não subia, chegando-se a nós apenas para o concursado sorteio cantado em nomes afinados pela tinta da caneta de Romarta que não escreveu conto, mas escreveu os nomes nos papeizinhos pelas mãos de Laudelino. Presentes na disputa do presente estavam Manuela, André, Suênia, Romarta, Regina Behar, Laudelino, Adriano e Larissa. E no ínterim de escrever nomes e rasgar papeis, votou-se o tema do próximo sábado. Por Suênia ter esquecido que a semana já havia passado, por André ter se esquecido de sair de casa com o dinheiro pra pagar a impressão de seu conto, por esse calor da moléstia queimar nossos miolos... Há, lembrei! Roberto Denser também não se lembrou de sair mais cedo de casa e chegou ao término da reunião. Mas como ele trouxe-nos uma rosa em conto, reabriu-se a reunião já atada pra que ele lesse em um só fôlego a sua A Rosa Adoecida – Parte 3. Adoecida e suicida a tal Rosa só não morreu por causa de uma dedicatória do Van Gogh. E minha dedicatória escrita foi pra Manuela, por ter vencido o sorteio do livro, apesar dos empecilhos de um José. Antes que esqueça, o tema eleito para o próximo sábado é Esquecimento... eu já não tinha dito isso antes?!

Sérgio Janma

terça-feira, 30 de outubro de 2012

AH TÁ BOM


Ata referente ao dia 27 de outubro de 2012

numa noite que deu quórum o quórum que deu
deu no côro com várias versões pra nossa alegria
até no tema e além dele com pornografia
causando um certo incômodo pois ninguém alguém comeu
o que não desvaloriza o esforço de Himeneu
e entre um boquete e outro apareciam luzias
como se do Canadá o vento frio que fazia
entanto a vontade de contar não arrefeceu
mesmo senhoravós e cegas e suicida
ou psicopata mantando freira puta da vida
a despeito da freira não ter vindo pra ver
e deixado livre o vídeo diferente do habitué
mas ao final de fuder a foda se acomodaram
nos cômodos que serão os contos que virão

tá bom
tenho que fazer o do tema do sábado que vem
mas eu não vou pois lembrei que estarei trabalhando

Joedson Adriano

domingo, 21 de outubro de 2012

23 minutos: uma ata de relógio


Ata referente ao dia 20 de outubro de 2012.


Com o clube do conto não há quem troça. E não há quem força. Feito marchinha de carnaval, passeata do Solidaridad, ritual de acasalamento das tribos massai, estamos nem aí, mas o nem-aí fica no shopping plantado em pleno bairro. Fomos apresentados, não há o que discutir: conto e contistas dão as mãos. Este sábado não é exceção (vasto, vasto, vasto mundo, mais fácil é Drummond pedindo a rosa do povo). Vamos ao novo: Então vamos furar! disse um conto, a certa altura, do Betomenezes. Prontamente, pode dizer...

Às 18 horas e pouco ou mais ou menos este horário uma ruma de contistas rumaram para os costados do SS e com certa dificuldade exigiram as tais ditas cadeiras de plástico e assentaram bundas. Norma em bordado, Déa em ponto, Dôra em primazia, Gilmar e Glícia, renovados, Beto e Lau, jograis em cena, Sergio em degrau, Regina em Behar, André e Manuela em banco. O tabuleiro de contos teve algumas casas preenchidas, as jogadas foram ficcionais e os ausentes não foram baixados em download, a conexão estava péssima, menos para os presentes (wi-fi). Foram lidos contos e outros tantos sonhados. Um fato pitoresco foi a distribuição da obra de Maria José Limeira para os presentes. Caixa-surpresa do encontro. 

Esta ata faz um pequeno recesso para as notícias futuras. Votação dos temas com direito a segundo turno, acabou, por um nariz, o tema dos 23 minutos, tempo mais que suficiente para que uma ata seja feita com esmero e distinção (não esta, que ainda é candidata a estes cargos).

Por fim, já é tempo de acabá-la. O referido é verdade, etc, etc, etc.

André Ricardo Aguiar

domingo, 14 de outubro de 2012

Ata Quintal Mágico


Ata referente ao dia 13 de outubro de 2012.

Em pleno Quintal Mágico.
É certo que um quintal é um espaço que, conforme o uso, o expande. Mesmo que um grupo como o Clube do Conto, também acostumado a um aperto, consiga variar em tamanho, assim é o espaço de Dora Limeira, senhora da comarca do conto. O encontro foi estabelecido com o tema apropriado ao lugar: quintal. O clima foi de festa de são João sem fogueira, ano-novo sem  réveillon, carnaval sem marchinhas. Os fogos de artifício foram os contos. Estiveram presentes as  filhas de Dora, Nara e Déa, os contistas da vez Cartaxo, Beto (ipadiano), Suenia, Norma, Joana (rainha do twitter), Laudelino (entre sonolento e engraçadinho) e eu.

De acordo com os trabalhos executados (corte de bolo, preenchimento de copos de café) nos revezamos nas histórias e fofocas. Com a fera da casa, um pastor no cio, tivemos um momento de caracterização genuína do pânico (Beto, melhor representante da categoria). Depois dos contos lidos, optamos, sem muitas oposições, pelo tema Necrofilia. Sim, Clube do Conto engorda, mas não mata. Oremos.

Abraços!

André Aguiar

domingo, 30 de setembro de 2012

ATA ERRATA

Ata referente ao dia 29/09/2012.

Presentes na reunião
Eu tenho uma ata aqui para ser dispensada porque estou com preguiça feita com esmero e certo pudor. O Clube do Conto resolveu fazer uma revolução só escrevendo contos com vogais se reunir com propósitos bem definidos: ler bulas de remédio contos, combinar estratégias da edição da antologia, estabelecer novos temas. Estiveram irritados presentes Suenia, Gabryelle, Gilmar, Gandhi e Sidarta, Romarta, André e Manuela, Beto, Cartaxo, Joedson, Laudelino e Sérgio.

Ata feita, vamos aos fatos. O Clube do Conto está prestes a fechar o ano com dois shows de rock pauleira-progressivo-punk duas apresentações na Boate Sexxxus Estação Ciência. E a antologia já na ponta da faca. Estabelecidos estes critérios de calendário, damos por encerrada a aula sobre Como desmontar uma granada a ata.

Tema pra próxima semana: perna olho braço boca cabeça ORELHA.

André Ricardo Aguiar

domingo, 16 de setembro de 2012

Ata do dia 15/09/2012


Ata referente ao dia 15 de setembro de 2012.

A ata está sendo lida neste exato momento.

A reunião já estava no meio quando orelhas entraram em pauta. As orelhas no caso pertenciam ao livro do nosso grupo que ainda será lançado. Queriam que na capa viesse a foto de todos, "como são muitos, não cabem nas orelhas", muitos brincos, acessórios que nem cacique suporta.

Antes disso, no começo, houve um primeiro encontro de membros perdidos no café, do primeiro andar. Pensou-se não haver número de participantes necessário para a reunião, nem contos. Ledo engano. Começou a aparecer gente. Os de sempre, e uns outros que chegaram pela primeira vez. Como é de lei, faltaram cadeiras e organização. Uma porta de vidro tentou impedir a passagem, sorte dela não estar trancada, entramos.

Lá, acolhidos e encolhidos, em pé, em cadeiras, encostados em escadas, foram debulhados os contos. Suênia, Beto e Gabryelle nessa ordem leram. Comentários brotaram. Traço, hífen, hímen, barra, travessão. Na contramão do tempo, foram chegando mais gente. E a contento, na justa medida, todos ficaram contentes com a reunião.

O tema NUVEM foi dissolvendo e virando o novo, o espetacular, o magnífico. tema RELEITURA.

Betomenezes

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ata - Sobre universos novos e antigos


Ata referente ao dia 1 de setembro de 2012.


É impressionante como um passo pode te levar para um universo totalmente novo. Universo, às vezes, de poucas cadeiras e de alguns breves contos, mas que te abraça com a mesma graça com que o criador — nada divino — teve ao criá-lo. E é o que somos: desbravadores de um universo finito, mas que não tem tamanho em nosso coração.

Quando saí de casa, meu universo natural, não tinha grandes perspectivas de encontro para aquela noite de sábado. Talvez alguns rostos novos, alguns talentos maiores que o meu. Nada realmente capaz de me animar, nada que me tirasse a dúvida de porque sair de casa. De inicio fiquei abalado, estava sozinho. Possuía meus cigarros e um punhado de dúvidas. Isso eu já tinha em casa. Uma ou outra estrela brilhava ao meu redor, não vou mentir, mas eu não tinha força suficiente para me mover até ela, eram luzes distantes demais. Isso, porém, não tardou a mudar. Encontrei um rosto desconhecido, mas que, por um momento, me soou como algo extremamente familiar. Era o Laudelino.

“Opa, está aqui para o clube do conto?”
“Estou.”

E daí por diante, uma pequena explosão deu inicio a um pequeno universo que eu não esperava encontrar. Diversos astros se juntaram a dança, um círculo imperfeito sobre algumas cadeiras brancas. Eu era parte daquilo? Não sei. Mais seis astros saltitavam euforicamente ao meu redor, alguns eram planetas, outros eram estrelas, mas todos eram algo. E por que não ser? Eles se construíam e se destruíam sobre a desordem — ordem, para os mais conservadores — da literatura. Houve um planeta em que uma árvore de ângulos perfeitos brotou. Mas houve poucas testemunhas de tal feito, e ela acabou virando pó. Do pó ao pó. Outro foi habitado por monstros antiquados, daqueles que diminuem. Certo ele, que orbitou sobre monstros consistentes, sem máscaras ou outros adereços. Monstros não choram, planetinha. E no fim, não existiu fim. E eu era matéria prima para um novo corpo celeste. É engraçado como encontramos universos, simplesmente virando a esquina ou atravessando a cidade.

Rogério Murdoc

Adendo: Lista dos presentes na reunião: André, Manuela, Norma, Rogério, Romarta, Laudelino e Regina Behar. Próximo tema (pro dia 8/9): SONHO.

domingo, 29 de julho de 2012

Avestruz e uma ata

Ata referente ao dia 28 de julho de 2012.


Não queria revelar aos integrantes do clube que os meus motivos para indicar o avestruz como tema são obscuros. Eu o sonhei, este tema, em todas as suas penas, em sua turva estranheza. Por isso, ave boba e grandalhona, o avestruz se justificou sábado passado. No entanto, os dias correram e ninguém se dispôs a relatar qualquer experiência com um avestruz. Não quis relacionar o dia a dia ao estrutionídeo, nem tecer considerações beckettianas sobre a ideia de que um avestruz também podia esperar Godot – ou ser o próprio, na véspera de carnaval. Não, caros senhores visitantes do clube mais longevo na área da contística. Preferimos matar o avestruz antes de fazê-lo correr pelos lisos pisos do Shopping Sul – o que seria um problema para a direção, para os consumidores, para a fila do banco. Não se põe um avestruz impunemente da imaginação torpe de um dos integrantes para a realidade – também caótica, vá lá, das terras tabajaras. Da pena para o papel não houve sequer uma continuidade. Os contistas, poucos, preferiram evitar o assunto e ficar no mero cafezinho com algum resquício de partida de xadrez. Norma, Regina e Gabryelle sugeriram o tema da ausência. Meu debelado avestruz recolheu-se em penas e enfiou o bico num silêncio atado. Oremos.

André Ricardo Aguiar

terça-feira, 19 de junho de 2012

ATA EM TESE – Ou: Como orientar contistas?


Ata referente ao dia 16 de junho de 2012.

Variação pequeníssima do universo em expansão, devemos analisar nesta tese as implicações contingentes da entrada das cadeiras (E aqui cito Schilling, “as disposições não ferem o caos, apenas o reordena”) com os agentes em atual estado de partilha (contistas) que, imbuídos de indesejados meios em celuloides e copiados para um fim, se notabilizam pela expansão do teor narrativo através de um modus operandi chamado ar versus barulho, com clara desvantagem do último.

É preciso citar, no entanto, que a presença de uma força integradora gera o grupo

como um dínamo não-previsto, onde a raiva de existir pode virar matéria factual e necessária aos mecanismos líricos (Menezes, Laudelino, p. 235)”

De outro modo, a presença de uma autora como Gabryelle justifica, em fartos exemplos, este caráter aglutinador do grupo. Ou, como na definição cartaxiana de teatro da inclusão, “num tem o que discutir, entrou, tá dentro”. (sic)

As referidas normas de conduta – ou na verdade, só uma, de cara inchada, pode ser balizada por n fatores, n exemplos:

a) Contos podem ser lidos, mas jamais encenados por pandas;
b) Contos são inflamáveis, portanto, não faremos reuniões em paiol ou barracas de fogos;
c) Contos não existem sem contistas.

Em resumo, uma reunião que decida, por quase voto unânime, o tema TÚNEL, não pode ser de todo relegada a uma teoria behaviorista de bolso. O comportamento é explicitamente reelaborado para um momento posterior, traduzido ou não, numa forma marcadamente moderada, como no exemplo da chamada ata, e que segundo o filósofo franco-atirador, Michel Teló, diz em tom universalista “Nossa, nossa, assim você me ata / ai se eu te cito, ai ai, se eu te cito”.

AGUIAR, André  Conto e Sociedade em Prol de Clubes ou O Shopping não é Aqui, Idiota! – João Pessoa, 2012, p. 13.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ata em três atos

Ata referente ao dia 9 de junho de 2012.

1. André achou que eu não existia...

Durante uma aula de Tópicos Especiais em Literatura que nada tinha de teoria literária, que pouco continha de alunos, que não possuía tempo determinado; o professor Sérgio sugere que os “gatos pingados” da turma conhecessem os novos e os velhos autores paraibanos, entre eles: Antônio Mariano, Leo Barbosa, Rinaldo de Fernandes, Astier Basílio... A empolgação da turma foi agradável até que foi solicitado um relatório semanal da produção dos escritores. Detalhe: eles não estão no Wikipédia.  Num desses dias, sem a mínima criatividade, devolvi meu relatório com um poema:

O que me amedronta
não é o desvario que é içado 
por minhas fantasias,
mas, a incompletude
das inconstâncias.

Apavora-me a confiança inerte 
que alimenta de fastio 
o dia seguinte,
por conta do arrebatador que se ausenta
no tempo perdido.

Não temo a vida 
E o seu montante bravio.
Mas, o cuidado desmedido
com a miudeza que permite 
a sentença negada.

Não me intimida o delírio
que sugestiona a medida do insólito.
Insulso o trajeto delineado,
os passos seguros,
por caminhos alinhados.
Roubando as cores do prisma,
Dos minutos do dia...

Eu escolho o inusitado perigo das curvas,
Que no segundo seguinte,
Tudo muda.

Título: indelével.
No outro dia, o professor me chama:
Entre alguns comentários: “- Você conhece o Clube do Conto?”

* * *

2. André achou que eu era mentira...

- Oi André, eu vi seu nome no blog do Clube e queria saber se sábado vai ter encontro, consegui seu número!
- Oi Gabriela, tudo bem? Vai sim, nos encontramos no Shopping Sul às 18h. Você vai!?
- Estarei lá! 

Primeira tentativa: A chuva na cidade deixa milhares de desabrigados. Ônibus parados, impedindo cerca de mil mangabeirenses de sair de suas casas. Previsão de chuva em toda a região até passar a frente fria. Cuidado: possíveis granitos na região dos Bancários.

Segunda tentativa: -Como que eu vou aparecer lá?! – Oi, eu me chamo Gaby... Vocês são do clube do conto? É que eu vi um bocado de cadernos e canecas de café!!! Desculpe foi engano, parecia... Naquele dia, fizera a mais alta maré nos últimos 7 anos e 5 estrelas alinharam-se no céu. Soube dias depois, que o grupo havia se reunido às 17:30 e se dispersaram às 19:00 horas. 

Terceira tentativa: Tive preguiça!

* * *

3. Eu fui e André faltou.

Subi a rampa o mais rápido possível, já passavam das 17:45h, dei uma volta e nada... Passei os olhos pela praça de alimentação e lá estava um grupo: óculos, livros, folhas...Suspeitei, em princípio,  que eram aqueles a quem eu procurava. GEO, verifiquei na farda. Voltei para frente do banheiro e esperei qualquer um que tivesse em mãos um livro. Enfim, um senhor com folhas... Não era bem um livro, mas eu ia tentar. Questionei-o: - Oi, és do clube do conto? – O senhor respondeu: - Clube, que clube?! – entre sorrisos – somos um grupo anárquico. Encontrei! - Suspirei aliviada. Carlos Cartaxo era o seu nome. Aos poucos, outros sujeitos anárquicos surgiram, conheci: Sérgio, Jéssica, Norma e Romarta (fiquei com uma imensa curiosidade de saber se ela jogava bem futebol). Laudelino estava em Recife e achei que André não existia. 

Foram lidos dois contos, o início de outro e um texto que não sabíamos se era fábula ou crônica mais que começava assim: “Sempre tive medo de vaca...” Apresentei-me e contei esta epopeia (agora, sem acento), fiquei encarregada de ajudar Vivi (que ainda não existia) com a correção do livro a ser publicado, outros se apresentaram... Discutimos os contos, rimos e ri de novo da mesma piada do Frei. Lembrei agorinha, ri novamente.

Tema do próximo sábado: Humor

Foi aniversário de Norma dias passados, então, fomos ao Açaí e o assunto ficou mais sério: trabalho infantil, política, greve na UFPB e eu pensando como danado ia fazer essa ata. Até então, eu só havia feito ata de fiscalização e o tal do Nada consta. Pagamos a conta, subimos a rua e aos poucos, os poucos sumiram...

Gabryelle Leal

segunda-feira, 28 de maio de 2012

4 cadeiras


Ata (minimalista) referente a reunião de 25 de maio de 2012.

4 contistas de cantos diferentes
1 paraibano + 1 recifense + 1 carioca + 1 gaúcho = 4 contistas
Foram 4 mesmo? Ou deveríamos recontar?
Laudelino diria: “Reconte”
Próximo tema: Tatuagem

Jéssica Mouzinho

* * *

Ata

Sábado passado, 26/05/2012, o Clube do Conto da Paraíba (CCP) se reuniu no Shopping Sul, sob a brisa da noitinha e a sonoridade passante de criaturas de subiam e desciam a rampa de acesso ao primeiro andar, como se deslizassem no tempo. Estiveram presentes Laudelino, Sérgio, a engenheira escritora Jéssica e esse que vos escreve. Depois do prelúdio que atualizou a todos nós com informações gerais e pessoais, debatemos sobre o livro do CCP, surgiu então a dúvida: quem fará a revisáo final? Em seguida, Lau leu um conto para romper com o intervalo silencioso de seus escritos. Por fim, foi feito uma leitura visual das tatuagens de Sérgio, o que motivou o tema do próximo sábado: tatuagem.

Sem mais para acrescentar, deixo a ata em aberto para que algum(a) colega, escritor, fuxiqueiro ou colaborador possa contribuir...

Até sábado.

Carlos Cartaxo

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Cordel Atado


Ata referente ao dia 5 de maio de 2012.
Aqui então nesta ata
Vou recontar um encontro
Desses que posso lembrar:
Um tal de Clube do Conto,
reunião lá num shopping
próximo ao café do ponto.

Pode-se contar história
Verdadeira ou inventada
Nem precisa de ingresso
Pra contar a sua toada
E chegar e se largar
Numa cadeira escanchada.

Também por aceitação
Se convida o povo alheio
Passarinho curioso,
Mosquinha de entremeio
Tudo muito escandido
Para contar sem receio.

Na contagem deste sábado
Veio o povo costumeiro
E uma tal de Janaina
De talento por inteiro
E demos o pontapé
Que tempo custa dinheiro.

Foi conto pra todo lado
E risadagem também:
Pequena grande Romarta
Deu-nos conto de vintém,
Beto até jogou trocado
Nos despoemas que tem.

Valéria quis desafio,
Norma ficou no padrão,
Laudelino ficou ao lado
Costurando a contação
Era este o tal do ritmo
Do nosso conto-baião.

Ainda Jéssica e Sergio
Na emenda o fio de prosa
Parecíamos um fieis
Gritando em polvorosa
As histórias de calibre
Do Clube que nos entrosa.

Assim eu fecho esta ata
De pavão misterioso
E assino e dou fé
Como quem bota um ovo
Online e redondinho;
Quem quiser conte de novo.

André Ricardo Aguiar

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ata Unificada


Ata referente as reuniões dos dias 17, 24 e 31 de março de 2012.

Três reuniões do Clube sem ata. A resistência dos membros em fazê-la tem apenas um único motivo: livros lançados e a serem lançados. Então, Romarta decretou: Sérgio faça a ata! Disse-lhe que não. Também não tenho tempo. Escrevo no momento uma peça e etc, etc... Mas houve mensagens dela pra meu cel. “Ei Sérgio, cadê a ata?” Como hoje é sexta-feira da paixão, este milagre tinha que acontecer. (A propósito, qual dos apóstolos fazia a ata das reuniões deles com Jesus?) Traduzi o irrecusável decreto pra versão pedido... (como ser resistente a qualquer pedido, vindo com um belo sorriso hipnótico e de um olhar verde de quem vive admiravelmente seus verdes anos?!) e aqui estou, começando por tentar lembrar os presentes, bem como de quem levou conto.

Regressando ao recente passado, lembro que no sábado dia 17 do mês de março passado, estavam Cartaxo, Laudelino, Wander, eu e mais os que vão ter que me perdoar por não lembrá-los. Só eu levei conto, cujo tema era “cheiro”. 

Sábado, 24/03, celebrou-se o lançamento do livro “Rapunzel e outros poemas da infância”, de Jairo Cézar, na Livraria Leitura. Por esse justo motivo não houve a reunião. Estávamos dispensados pra comparecer e prestigiar o poeta. Quem compareceu? Lembro-me de eu ter ido. Por lá estavam Jairo Cézar, o tempo todo sentado com cara de dor na mão que empunhava a caneta, além de Norma, Romarta, Lau Siqueira e... fora os ausentes que não compareceram, outros do clube não foram porque estavam enchendo a cara em Boqueirão. Que inveja!

Último sábado, 31 de março, dia no qual quem compareceu comentou o Golpe. O Clube do Conto está sendo duramente golpeado pelas insistentes ausências. Temos que nos armarmos pra resistência! Presentes estavam Carlos Cartaxo, Norma, Thiago, Laudelino, eu e Luciana que não ficou pra reunião, só deu as caras pra dizer que ainda nos tá devendo o conto sobre “sapatão”. Na espera por vir mais gente, teve os informes de Cartaxo sobre o projeto do livro do Clube no FMC. No segundo informe de Cartaxo ele implora textualmente: 

“Pessoal: Lembro que no dia 21 de abril, sábado, pouco mais de uma dezena de jovens escritores de Nova Palmeira virão participar de uma reunião do Clube do Conto da Paraíba. Sugiro que o tema do dia 21 seja algo como Palmeira para fazermos uma recepção surpresa para os visitantes. É bom nos programarmos antecipadamente para termos um bom público nesse dia. Lembro que ficamos de realizar uma oficina para eles das 15 às 17 horas lá no Núcleo de Teatro Universitário. O tema da oficina somos nós que definimos. Wander se prontificou pra ministrar algo. Alguém mais se propõe?”

Depois de exposto este desafio, veio o melhor momento: Piadas. ÉÉÉ... agora na reunião dos contistas tem-se a seção Piadas. Os contistas mais espirituosos... atrevidos mesmo, podem contar piadas. Regra única: Será permitido apenas gargalhadas, risos e sorrisos, nada de críticas, tais como “não teve graça”, “desista, você não sabe contar piada” e coisas do gênero. A única manifestação aceita é de achar graça. Então, vieram as piadas contadas por Norma e por, teatralmente, Cartaxo. Só os dois foram corajosos em enfrentar o risco da situação iminente de não haver risos. Contos só tiveram dois. Ninguém sabia do tema, se é que havia. Norma, com o conto A Queda, interpretada pela voz marcante de Cartaxo, expõe o fatal destino dos seres no Reino Vegetal. Thiago apresentou-nos um texto cursando pelo frenético verbo metafórico. Entenderam? Texto que divaga em torno de uma faca sobre a mesa, cujo título explica tudo: Almir. Laudelino, quando está diante de textos complexos e surreais (viajadões mesmo), disse o que sempre diz: “Gostei, mas preciso ler de novo, com calma, pra dar minha opinião”.

Então tá. Findo, por fim, esta longa ata pensando estar pondo em dia nossas atividades.

PS: Terceiro sábado que não há açaí. Viu Romarta!

Sérgio Janma, cansado e sem nenhuma inspiração.

sábado, 10 de março de 2012

Gráfico e reunião


Ata referente ao dia 3 de março de 2012.

O gráfico da reunião foi assim:
              . . . 
            .      .
          .         .
        .             .
   .....                .
...                       .

Em matéria de número de participantes. É isso, o eixo x diz respeito ao tempo, e o eixo y, ao número de participantes . Como eu só apareço próximo ao cume, cheguei atrasado, porque, nunca fiz uma ata do clube do conto, justifica-se o atraso nela? Minha barra de espaço tá foda, antifoda, meu tecladoquerqueasletrassaiamentremcheguemtodasjuntaspregadinhasassimtãosexualquantooprópriocontoquebetoliaempolgadamente. Lia, um pretérito imperfeito, não Lia, um segundo nome estranhamente feminino de beto, mas eu já conheci um Carol, inspirado no papa, nem aquela menina maravilhosa, Lia, que, não ela que não estava na reunião, mas que se estivesse teria sido melhor ainda, ou não, quem sabe?, quem sabe aquela energia, aquela presença-ralo dela não teria tirado todas as nossas forças,  as forças de, um bom momento pra inserir os presentes, que ambíguo, os presentes, as forças de!: João Adolfo, visita que eu levei, Mabel Dias, visita, Laudelino Menezes, de casa e irmão de Beto Menezes, como se pode constatar a olho nu, André Ricardo que não deveria constar aqui porque aquilo não são horas, não são, às 2h50 ou às 9h12 qualquer relógio sensato riria da cara dele por tamanho não ser horas, e ele ainda me diz que eu só vou de vez em quando, mas eu expliquei, expliquei que tou fodido com essa porra toda, que tá foda, Sérgio Janma, Norma Alves, que me lembra que eu fiz direito, Maria Romarta, todos pessoas da melhor índole, ou seja, velhas o suficientes nessas reuniões que fazem d'um shopping o que ele não é. 

Pois a reunião parecia fadada a não acontecer, parecia que não havia com quem se contar para contar algo, um conto, quando Beto apareceu com um excesso de conto, um contão, e aí isso também poderia render um bom gráfico, quantidade de conto ao longo do tempo, sairíamos do eixo x para um violento salto quase inteiramente vertical, ereto como os paus do conto, desculpa mas não vou apagar, rumo ao eixo y. Quando eu cheguei beto Lia empaugadamente seu contão, e até os erros de leitura estavam encaixando bem com aquela leitura sedenta e esfomeada e seca que avançava sobre as palavras devorando-as e engasgando-as e às vezes até cospindo-as e vomitando-as, foi bom. Vieram observações, no sentido de comentários, pra ficar claro, do tipo, isso não se anotou... Alguém disse que era a sina das atas, sua forma consagrada, o fluxo de consciência. Alguém disse que alguém disse. Mas não era a minha intenção. Deve ser porque, esse alguém, esse último alguém, um alguém superior, transcendente, esse espírito domina os ateiros, na minha terra ata é o que vocês chamam de pinha. Assim sem me lembrar, eu me sinto com as mão atadas, eu já pensava nesse trocadilho desde lá em cima. Hora de ser objetivo, 01h40 é a hora universal de ser objetivo, essa hora em que o relógio está com as pernas bem abertas em diagonal, parece uma dançarina extremamente flexível, uma ginasta, é a hora Dayane dos Santos. É essa a hora também em que, merda, essa geladeira começa a apitar, parece uma criança chorando, até que alguém aperte aquele botão, crianças são mais difíceis de serem caladas, ainda não inventaram um botão, graças ao bom pai. Respira. 

Aos três dias do mês de. 
Vai demorar muito, já é quinta.

Todos apreciaram o conto de Beto. Beto explicitou que se trata da sua leitura de Lolita. Comentou-se que, mesmo se tratando de uma longa narrativa, o texto é capaz de prender a atenção do leitor. Foi discutido ainda que as personagens devem refletir experiências reais do autor. Laudelino apontou que esse conto já havia sido lido; Beto expôs que sim, em uma versão simplificada.

Hum, acho que foi isso.

Em seguida (após um breve silêncio que dá ensejo para que o próximo contista, se não for tímido demais, possa se colocar), foi lido o conto de Thiago Arruda. Naquele dia, esses eram os dois únicos contos disponíveis (ficou claro que o outro conto era o de Beto? Não é possível...) O conto de Thiago Arruda, que era bem mais curto, em fluxo de consciência, gerou duas discussões: a primeira se referia à possibilidade de compreensão dos textos nesse formato; a segunda, ao porquê de o texto não estar justificado (Word etc.).

Deixa essa parte assim porque se tu for detalhar as discussões vai ficar grande demais. É, eu também acho. Reviso? Não, não, tá de boa. Era isso que eu queria ouvir. 

Adendo: o tema do próximo encontro é. 
(A assistente de palco puxa aos poucos o envelope. É possível ver um R, um E, um HLUM, quem consegue ler ao contrário?)

Mulher, e cada um subtematiza livremente.

Thiago Arruda

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Conto de Romarta


Conto de Maria Romarta.

* * *

SEPARADOS

A chuva brincava de sumir e aparecer, então, Luíde nem se dava ao trabalho de fechar o guarda-chuva. Lílian havia esquecido o dela, por isso se abrigava ali, junto do ex-marido. As malas rente aos pés dos dois também se valiam daquele abrigo.

Eles estavam a passar um final de semana na casa de campo que tinham. Tudo ia muito bem até que Luíde, do filho, se pôs a lembrar.

- Se ele tivesse sobrevivido ia gostar de brincar naquele campinho.

-Com essa chuva toda?

-Não. Nos dias de sol.

-Também gostaria que ele estivesse aqui.

-Mas bem que eu pedi a você, Lilian, não vá ao trabalho, você precisa de repouso, fique em casa! Mas você foi. E lá acabou tropeçando, caindo da escada... Se tivesse me ouvido...

Depois disso, simultaneamente cada um fez as malas, cada um tirou seu carro da garagem e saiu estrada a fora. Foi aí que se tornaram ex. Porém, não foram muito longe, a estrada tentou, até que conseguiu prender os carros ao chão.

Juntos de novo, mas separados e numa ideia conjunta, o casal caminhou até outra estrada que havia mais adiante e cada um ligou pedindo um táxi.

Sob o mesmo guarda chuva os dois mentiam calados, sozinhos. Após uma eternidade, um táxi apontou naquela estrada, ziguezagueando pela lama. Era o que Lílian havia chamado. O taxista, eterno de simpatia, disse qualquer coisa sobre quase não ter conseguido chegar até lá. Ela não deu muita importância, foi guardando as malas, enquanto, Luíde somente observava a chuva ir abraçando o rosto dela.

- Você vem?- O taxista perguntou ao ex.

- Não, estou esperando outro táxi.

Lílian entrou naquele carro pela porta da esquerda e acenou pelo vidro, como quem dizia milhões de coisas.

Nesse momento, Luíde percebeu que despedida tem gosto, não necessariamente bom.

Aquela despedida, aliás, tinha um gosto. Gosto de quando a gente fala o que não deve.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Ata da Feira Solidária - Parte II


ATA DE FEIRA (referente ao dia 11/2/2012)
André Ricardo Aguiar

O artesanato até que funciona, entalhe e madeira, palha que se trança, argila a moldar, costuras e bordados. É quase um bloco de carnaval: em vez de repique e surdo, vai silêncio e prosa. A evolução é sagrada, segue um ritmo de avenida nas alegorias do conto. Nota 10 para todos,

Foram lidos contos de Joana, Beto, Wander, André, Norma e Romarta. Em redor do artesanado, palavras foram costuradas e embaladas como itens turísticos de diversa lavra. Presenças de Valéria e família, Eli, Emilayne, Sérgio Janna e filha, Mariana, Valeska e o povo da feira.

O tema escolhido, Desde o outro carnaval, foi quase unânime. Estão previstos um folheto com os contos do tema Feira Solidária e um cordel com os participantes da feira.

O referido é verdade e dou fé.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ata da Feira Solidária - Parte I


Ata referente ao dia 4 de fevereiro de 2012.

Os dois sorvetes derretiam na areia, o sabor de flocos com limão não era do aprecio de todos, tanto que Jennifer preferiu ir a Marte a ter de dar ouvidos aos contistas reunidos naquela tarde agradável de 04/02/2012. Quer saber? Azar o dela, ela deveria ter ficado como todos que estavam na Feira Solidária em Tambaú, a convite do amigo Lau Siqueira. Parecia que ia ser a feirinha da depressão, tipo, como assim só Wander trouxe conto? Entretanto, aos pouquinhos, foram saindo da toca outros textos, André Aguiar tirou até um velhinho embalsamado de dentro do seu notebook. Betomenezes não deixou por menos e comoveu Joana Belarmino com seus ape.. atrepe... Apetrechos! Até os sorvetes disseram em coral. Laudelino Menezes não trouxe conto, mas dedurou quem tinha e estava escondendo o ouro. Romarta Ferreira, estressada com tanta gente apontando, procurou se acalmar e entrar no embalo dos sorvetes mágicos. Gláucia, Alfredo, Dália, todos ouvindo, deparam-se com outra jóia, o poema de Norma Alves. Jennifer se foi ao fim, perdeu a tapioca, o café e a língua de sogra. Ah, e os apetrechos também. Nem viu, coitada, nosso mestre de cerimônia do dia, Lau, sugerir o tema para nossa segunda ida à feira na semana seguinte. Para homenagear aquele povo que tão bem nos recebeu, feira ficou como tema, aprovado por unanimidade. Que contos sairão dessa loucura toda? Os sorvetes vão derreter outra vez? E Jennifer, a bichinha, voltará ela para prestigiar tal evento? Isso é o que saberemos na parte dois das aventuras do Clube do Conto na Feira Solidária de Tambaú, na semana que vem. Aguardem.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Conto de Joedson Adriano


BOI PRO PALÁCIO


queriam dois jumentos ao cavalo igualar-se
começaram então a praticar em casa
a nobre equitação pra levar à praça
o coxear costumeiro que caçava disfarce


um quanto humilde e nem tanto muar
após muito treinar seus coices ao vento
percebeu que nem pra andar tinha talento
e ainda menos pro altivo cavalgar


entanto o outro mais vaidoso e marrento
além de sem dom nem aí pro treinamento
insistiu em ir contra a sua natureza


e sua vida mais que o comum foi dureza
em cada exposição as vaias e os urros
da sincera platéia a lhe chamar de burro

domingo, 29 de janeiro de 2012

A noite dos ditos


Ata referente ao dia 28 de janeiro de 2012.

Não há escuridão que possa apagar a luz de uma vela, já dizia a sabedoria popular. E o Clube do Conto é vela acesa.

Quem passou ontem pelo Shopping Sul pôde ver nosso amado Clube do Conto em seu sol de quintal. Numa combinação que não foi combinada, Laudelino Mene\es, Sérgio Janma e Norma Alves vestiam verde, mas só para destoar, Carlos Cartaxo e eu vestimos outra cor.

Verde é a cor da esperança! Mais um dito popular, agora citado por um clubista, mas penso eu que nada é de uma cor só, nada é só e pronto. A esperança, por exemplo, é de todas as cores e é ela o que faz as pessoas acordarem mais cedo para fazer café. Esperança também é a minha vizinha e é um inseto que dizem trazer muita sorte. É o assobio dos fantasmas à procura da luz. E é o que determina se as coisas serão ou não eternas!

Romarta Ferreira

domingo, 22 de janeiro de 2012

Duas atas, um dia


Ata referente ao dia 21 de janeiro de 2012.

ATA DA HUMILHAÇÃO*

chega o primeiro contista humilhado
já em esperar os outros não chegam
porém aos poucos um a um tardejam
noturnos todos fora de tempo nublado

desejam contar contudo não sentam
sentem não terem ainda começado
pedem o pedido prontamente negado
atrasadas que são as suas ampulhetas

opressos se apressam em sair do lugar
e mal-vindos vão tristes cabisbaixos
se enfileirando fuleiros sem lar

indianamente seguem andar abaixo
em promessas de cedo pro sol que virá
mas sei que só hoje pois baixaram seus fachos

* tema do próximo sábado

ATA DA REDENÇÃO

comparecem sete de mentiroso conta
contando duas fêmeas Romarta e Anne
Catão que não contam nem fora da fome
como os três machos mojados aprontam

Sérgio um suicídio de vazio vasilhame
Beto a cantar um vazio que nem conta
e André prisioneiro requentado reconta
apenas Joedson entre os homens

sem fé no café se apresenta no tema
com um come-come de crianças na janta
mas o destaque é Norma sem pena

menos pela quale e mais pela quanta
pois lê logo três sem sebo a dona
fode o órfão e o fudido na planta

Joedson Adriano

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Conto de Sérgio Janma


Mais uma estreia no blog do Clube, conto inédito de Sérgio Janma.

* * *


ISCA DE PEIXE E ESPINHAS

E que Shiva dance para ele a dança criadora de um novo mundo, podendo nele viver refeito.

A noite começou para Dartagnan com seu torpedo para sua ex-mulher e sempre amiga: - Tô angustiado. - Ponto. Só isso. E nenhum torpedo em resposta. Sem os remédios que o fazem dormir, sua angústia crônica levou-o então para as ruas. Caminhou-e-caminhou. Chegou a uma pizzaria onde talvez encontrasse seu melhor amigo. Não estava lá. Lá ficou. A música era boa. Anos 80. Saudosismo de cinqüentões. Na pizzaria não quis pizza. Pediu isca de peixe só para recordar e homenagear um tempo bom de Olinda que acabou mal. Também pediu uma cerveja e vieram logo três em um balde com muito gelo. O garçom adivinhou o quanto o seu organismo agüenta beber, ou serviu mais de uma para lhe poupar o trabalho de ser chamado tão cedo? Dartagnan achou que não terá que pagar as que não beber.Desliga o celular. É uma maneira de tirar férias do mundo, já que não consegue tirar férias de si mesmo.Depois das cervejas vem a isca. Após lambuzar a primeira fritura em um molho rosa, Dartagnan abocanha-a por inteira. - Coff! Coff! Coff... - Epa! Uma espinha atravessou sua garganta! - Já não se fazem isca de peixe como antigamente -, resmunga. - Antes era só com filé. Essa que serviram nem desossaram, pondera em silêncio, resignado. Poderia até ser uma metáfora: quando se isca o passado,ele vem inteiro: carne e ossos. Difícil de engolir como essa isca; ambos engasgam. A boa música mantém Dartagnan ali. Repara o ambiente. Na mesa em frente, o gordo casal balança os ombros ao ritmo da balada romântica. Os que estão à sua direita falam em inglês... acha, ou em alemão, sabe-se lá, com a música alta não dá mesmo para ouvir direito. A mesa a sua esquerda o deixa em dúvida. Das duas, uma: como gesticulam muito, ou eles falam por Libras, ou são italianos.Sente vontade de ir ao banheiro na metade da terceira cerveja. Onde é que fica? Na sua procura pelo alívio imediato não cruza com nenhum garçom para perguntar. Decide se deixar guiar pelo cheiro peculiar. Para sua felicidade, acha a gaiola dos desesperados com facilidade. Dartagnan percebe que o programa para o resto da sua noite seria aquele. Bom para no máximo uma hora. Pede a conta. Volta de táxi.Em casa, pensa no amanhã e no que ontem disse sua atual ex-mulher. Essa mulher, por ser amiga, ainda está presente no seu presente. Diferentemente da sua primeira ex-mulher que está em um passado que ela teima em querer fazê-lo presente. Sua amiga-e-mais-recente-ex-mulher disse que amanhã talvez fosse vê-lo. Talvez... talvez ele use sua isca e a puxe para dentro fechando a porta, aperte a bunda rija da moça ao encontro do seu rijo pau em riste. Ou feche a porta, deixando-a do lado de fora, depois de dizer – com licença, não me leve a mal,  fica aí no meu passado, fora da minha casa, fora de mim. Talvez Dartagnan precise ficar só. Sem querer o mundo que acabou e que, por isso, não pode ser mais seu.Tenha talvez que parar de lançar suas iscas ao passado na intenção de pescar as sobras do que era gostoso pelo seu frescor. Porque o peixe do passado apodreceu. Trazê-lo, pela simples lembrança do prazer que ofereceu, o sufocará com as únicas coisas que sobraram: suas espinhas.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Bate-papo em ata

Ata referente ao dia 7 de janeiro de 2012.

Betomenezes: André, o que você achou da reunião de ontem [7/1/2012]?

André:  Um começo tímido em que pedaços de membros antigos se juntaram a outros apêndices e fizeram uma criatura móvel feito de cadeiras, textos e escutas...

Betomenezes:  É, não posso deixar de falar do começo nada silencioso onde cada um trazia coisas do novo ano para dividir entre a gente. Valéria, como sempre, era a mais jovem de nós. Não foi?

André:  Valéria abriu o playground e muitos demoraram a pular no balanço... acompanhar Valéria não é fácil e requer um mínimo aquecimento...

Betomenezes:  Norma ao levar quatro contos já mostrou que este ano não morreremos de inanição por quantidade, nem por volume, é só ver as quatro páginas de filosofia do país da maravilhas que Akuma nos levou.

André:  E estou vendo que a tendência é, caso o clube fique enxuto em membros, muitos se animarão a trazer mais de um texto para leitura... de toda forma, como o clube é imprevisível, acho que este ano possivelmente outros loucos pintarão.

Betomenezes:  não sei, deve ser o verão, mas, pelo sim, pelo não, sempre nesse período há uma renovação, o clube se encorpa de energia. Uma vontade nova de devorar as folhinhas dos calendários para chegar no próximo sábado. Qual é mesmo o tema?

André:  Desconfio que ouvi a palavra e ela escorregou... é possível que o tema tenha saído de alguma citação do encontro.

Betomenezes:  ah, me lembro agora, fome, claro, fome.

André:  Sim, veio do livro. E pelo visto, Norma, Valéria, Joedson, Wander, Laudelino, F. P. Andrade, Vivi (que saiu mais cedo) e tu, aprovaram.

Betomenezes:  Pronto, agora é devorar o teclado e preparar o conto novo. Até mais!

André:  Até!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Thiago Arruda - Sessão de Contos (14)


A Sessão de Contos é um "programa" do nosso blog que exibe para todos os internautas contos dos participantes do Clube.

Nesta semana, temos a estreia de Thiago Arruda aqui no blog!

***

AS SOMBRAS SABEM. AS SOMBRAS SÃO CÚMPLICES.

Sei que, quando essa vela acabar, vai incendiar aquela palha e finalmente pôr isto aqui abaixo. Sei que, quando ela acabar.

Não olho para ela. O fogo pede meu olhar, que eu nego. Não devo respeito nenhum a quem pode me destruir. 

A sombra da cadeira observa tudo, flamejante. As sombras sabem. As sombras são cúmplices.

Vejo como o pavio queima, como a chama lhe espanca, numa batalha em que, apesar de árdua, já se sabe quem será o vencedor. Não é fácil para um homem derrotar um muro. O fim da vela é uma flor iluminada, é uma mesa de centro bonita de presépio.

A flor de fogo sacode. Avisa desesperada ou excita-se sob a proximidade do fim, a eternidade: nosso amor era um pavio. O pavio não deixa rastro, o pavio nunca existiu; o pó.

Deixo o cachimbo, ainda com fumo, que acendia com o fogo da vela. Reparo nas sombras que me traíram, omitindo-se de confirmar a minha versão dos fatos, o que quis dizer confirmar a sua; a sua versão filha da puta e mentirosa dos fatos. Os seus fatos. 

Minha mão se movimenta independente de mim: falta muito pouco para nada. Tento fazer como daquela vez, sentir o meu corpo em ligação com uma parte do que eu espero. Estou num dia pouco inspirado. Talvez devesse ter escolhido um dia melhor para, finalmente, descer. (Velas parecem com crianças, que parecem com a vida: quando se está sempre observando, nunca se percebem as mudanças.)

Passo um a um por meus pensamentos. Retiro à força suas mãos da minha cabeça, de que querem se apropriar; sigo meu caminho. Essa obstinação não me vem todo dia. Pouco inspirado, mas obstinado, fiz a opção certa, terra. Só espero que a vela ainda me permita pensar um pouco mais, sobre ela.