Ata referente ao dia 28 de novembro de 2009.
Fomos todos camuflados. Óculos, vestidos, maquiagem e batatinha frita. Em um número reduzido para não levantar suspeitas. E assim tomamos decisões importantes como o tema do conto da próxima semana (A Praia de Copacabana), onde cem palavras ficaram proibidas.
A última a chegar à reunião foi Luciana Silveira, fazia parte da estratégia, assim como o meu não atraso.
Estiveram lá também André Aguiar, Alfredo. Valéria Resende (repleta de idéias) e Vivi Resende que voltaram de uma grande missão. Raoni, Laudelino, Rosilda e Emerson, nosso enviado secreto oficial às missões quase impossíveis.
A idéia de um amigo secreto tornou-se idéia de amigo do conto. Sabe como é? É uma brincadeira onde o contista escreve um conto para o outro- pode ser também uma poesia- só não vale revelar de cara quem é o destinatário. Lógico.
Pra não estragar nosso disfarce ficamos desconcentrados algumas vezes e quem estava a nos espiar caiu direitinho pensando que pairava ali somente mais uma reunião do Clube do Conto.
Por fim uma última façanha. Tornei-me a Ateira da semana. Tudo em nome de um bom disfarce.
Maria Romarta.
Imagens retiradas de
- http://www.flickr.com/photos/mkinsvater/2934310141
- https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWNWAODq3_7kAiomxH5VdjAWeoGXaQSi5RcRHenvJj3CX10xbYG0EHhpzCCnXMAJIXDZto3D4lhMjF9c7XmZdGZXh0Fcb1KUy36RnsqjnH57T1s0HzDdnDTsPeDfksYF8oqbRb/s400/camuflagem-4359.jpg
domingo, 29 de novembro de 2009
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Sessão de Contos (6)
Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.
Esta semana exibiremos um conto de Alfredo Albuquerque, lido no 1.º Luau do Clube do Conto, onde os personagens são os participantes do Clube, a ideia era que cada um interpretasse a sua fala.
***
Luau
O vento uiva tenebroso. O mar repousa majestoso e negro sob a lua quase nova. As ondas chiam delicadamente. A noite chega a seu ponto divisor. O bip de um relógio digital de pulso agride o silêncio.
Ana Virgínia, apoiada no colo de Bonifácio, estreita o abraço e fecha os olhos. A brisa joga-lhe os cabelos sobre o rosto. Bonifácio sussurra em seus ouvidos.
_ Já deu meia noite.
Faz-se silêncio. Então Virgínia indaga.
_ Estou com uma intuição de que o encontro de hoje será diferente. Há algo no ar que só as mulheres percebem. Será que Ela vai aparecer?
_ Ela sempre aparece.
Poucos metros à frente, Laudelino acende uma lanterna. Aponta na direção de Emerson, que luta uma batalha exaustiva contra o implacável vento que tenta apagar seu cigarro. Atingido pela luz, seu rosto adquire um aspecto de fantasma, reforçado pelas distorções de expressão causadas pelo esforço em puxar o difícil trago. Reclama da lanterna.
_ Rapaz, tira essa luz do meu rosto, que está incomodando.
Laudelino aponta para outro lado e encontra Ronaldo, deitado na areia, com os olhos fixos em algum ponto do céu absurdamente estrelado. Parece balbuciar algo para si mesmo enquanto risca no ar linhas que, supõe-se, sejam reproduções das constelações. Laudelino intervém.
_ Descobriu um novo anel em Saturno?
_ Não, mas é possível numa noite como essa, em que o céu está pontilhado de estrelas antigas, estabelecer uma relação entre os arquétipos humanos e pequenos grupos constelacionais. O escorpião, por exemplo, pode ser dividido em três partes, onde podemos discernir as formas do político canalha, da estrela da mídia de entretenimento e do mau poeta.
Dôra Limeira, um pouco afastada do grupo, tenta localizar, no céu, as formações estrelares correspondentes às linhas traçadas por Ronaldo no ar. Roberto a chama.
_ Junte-se a nós, Dôra. Conte-nos novamente o que se sabe a respeito da história dEla.
_ Não quero ficar num círculo. Me agrada mais a estabilidade das formas retangulares, onde tudo se apoia na segurança de uma base firme. Círculos são traiçoeiros e pendem imprevisivelmente para lados inesperados.
_ Podemos nos redistribuir nas arestas de um quadrado, com a vantagem de termos um centro para quem gosta deles e quatro cantos para quem prefere a discrição dos cantos.
Dôra cede e se integra.
_ Diz a lenda que Ela foi afogada pelo noivo após descobrir uma traição. Toda terça à tarde Ela simulava ir ao psicólogo e se encontrava com outro homem em um hotel do centro histórico. Correm boatos de que o casal, ao fazer amor, emitia sons estranhíssimos, como os de gatos no cio. A falta de discrição chamou a atenção de outros frequentadores do hotel e, certo dia, a moça foi reconhecida por um amigo do noivo, cliente de prostitutas baratas. Ao saber da traição o noivo convidou a mulher para ir a Cabo Branco numa noite de domingo, prometendo uma surpresa. Ao chegar à beira do mar, num ponto mais afastado da área de movimento, mostrou-lhe o anel caríssimo, comprado para selar a união eterna. Entraram nus na água e, no primeiro beijo, a moça foi surpreendida pela mão atrevida em sua vagina.
"O que você está fazendo?" - Perguntou ela.
"É a sua aliança. Você vai carregá-la em seu ventre para toda a eternidade."
Regina Behar, ultimamente ausente do grupo e desconhecedora da história, de olhos arregalados pergunta:
_ E o noivo? O que aconteceu a ele depois? Ele foi atrás do amante?
_ Não. Ele deixou um bilhete assumindo o crime e isentando o amante de culpa, dizendo que a traição foi da mulher e não do outro, que nem sequer conhecia. Depois sumiu no mundo. Dizem que tornou-se líder religioso em Moçambique.
_ Que história, hem?
_ É...
E faz-se um longo silêncio.
Emerson dá um trago mal calculado no cigarro e tosse, quebrando o clima de reflexão.
Laudelino lembra-se repentinamente de algo e pergunta para os presentes:
_ Alguém por acaso sabe o resultado do jogo do Sport?
Ninguém responde.
Eli inicia desenhos na areia e, pela concentração que dedica aos detalhes, percebe-se que são desenhos complexos. Faz riscos, ergue montes, cava poços, e depois destrói tudo com as mãos, alisando a areia até planificá-la para novamente recomeçar na nova tela vazia. No meio de uma das obras Roberto estende um canudo retirado do copo plástico de caipirinha. Pergunta.
_ Vai precisar de tubulação?
_ Dessa vez não fiz uma cidade. Estou tentando me lembrar das estampas do vestido que Ela estava usando da última vez. Você se lembra se eram flores?
_ Não... não me lembro. Talvez fossem estrelas do mar.
Raoni também desenha, mas em seu bloco de rascunhos. Faz um retrato de Bonifácio que, por algum motivo, o inspirou a criar um novo personagem para um história em quadrinhos que está desenvolvendo baseada em Alice no País das Maravilhas.
_ Você se importa que eu use seus traços para compor o personagem do coelho filósofo viciado em jogos de computador da década de 80?
_ Sem problema, contando que você mantenha os óculos.
Maria Romarta chega, atrasada.
_ Eu queria pedir mil desculpas pelo minha imperdoável nagligência quanto à pontualidade desse nosso importantíssimo encontro no que se refere ao estreitamento de laços sociais literários e à boa acolhida que devemos à Ela.
André a conforta.
_ Não se preocupe, Romarta, que Ela ainda não apareceu. Inexplicavelmente está atrasada dessa vez.
Luciana, que até então estava em silêncio, concentrada em uma posição impossível da Yoga, sugere:
_ Poderíamos aproveitar que estamos na areia para fazermos uma sessão de alongamento conjugada com um pouco de meditação transcendental e exercícios respiratórios desenvolvidos especialmente para aumentar o desempenho sexual tântrico. Que tal?
Valéria Rezende desaprova.
_ Luciana, se eu me alongar, depois de todo o cansaço de um dia dedicado à reforma de minha casa e à administração de peões, acho que corro o risco de fazer uma postura da qual nunca mais vou conseguir sair. Talvez eu prefira fumar um cigarro.
Viviane, sentada ao lado da irmã, sugere:
_ Eu também acho que prefiro outra coisa. Se vocês quiserem, eu trouxe uma cesta repleta de potes de mousse de chocolate. Seriam para Ela, mas acho que eu comprei uma quantidade exagerada.
_ Pois eu topo a Yoga. - exalta-se Carlos Cartaxo - Será uma excelente oportunidade para a obtenção de novas técnicas que passarei a meu alunos que estão se preparando para encenar uma polêmica peça pseudocontemporânea de cunho socio-filosófico.
André Dias, alheio a tudo e a todos, rabisca um pequeno bloco.
Curioso, Alfredo investiga:
_ Resolveu escrever um conto justamente aqui e a essa hora?
_ Não. É que estou fazendo resenhas dos filmes que comprei daquela locadora de DVDs que fechou recentemente as portas. Vendi meu carro para comprar todo o acervo e agora me comprometi a ver um filme por dia. Hoje de manhã assisti àquele péssimo fime "A dama da água" e agora estou escrevendo sobre ele.
_ Pessoal, - intervém André - estou percebendo uma movimentação na água. Penso que será agora.
Bolhas de sabão sobem das águas escuras de Cabo Branco. Na área da turbulência podem ser vistos sacos plásticos e embalagens de biscoito revirados pela água e expelidos em direção à praia. Dos fones de ouvido de Emerson brota uma música estranha que serve como música de fundo para o espetáculo. Lentamente emerge uma grande bolha que traz dentro de si uma mulher.
Ninguém se assusta. Todos a esperam ansiosos.
Dessa vez Ela está diferente. Sua nudez, antes coberta por plantas aquáticas, agora está explícita. Seu rosto parece mais triste. Ela caminha lentamente até o grupo e senta-se na areia, no centro da roda. Em silêncio, olha para cada um e sorri. Depois espera que, um por um, todos venham até Ela com o presente. Recebe livros de poemas, filmes antigos, uma garrafa de aguardente, enfeites femininos, uma camisa do Sport Club de Recife, uma câmara fotográfica sub-aquática e uma pequena escultura em metal de um jabuti. Em troca, oferece conchas dos mais variados tipos, cada uma com uma pequena pérola embutida. Ao final do ritual Ela se levanta e, para a surpresa de todos, começa a falar.
_ Essa será a última vez que nos veremos. Meu noivo foi morto em Moçambique, na guerra civil e, por isso, estou agora livre de sua maldição. A aliança com a qual ele me presenteou não está mais dentro de mim.
Ao dizer isso, Ela mostra a palma da mão direita. O pequeno aro de metal brilha intensamente e ofusca todos por um momento. Ela deposita o anel na areia e diz:
_ Agora estou livre para amar novamente.
O brilho aumenta. Envolve todos numa cegueira branca. O som dos fones aumenta até um nível insuportável.
Então tudo cessa.
Ela já não está mais lá. O anel despareceu. Tudo, aparentemente, volta à sua calma primordial.
Todos se levantam, como recém acordados de um sono profundo, povoado de sonhos. Caminham em silêncio para longe da praia. Juntam-se novamente, no calçadão, para se despedir. Só então percebem que André Aguiar não voltou.
Alfredo Albuquerque
João Pessoa, 2 de novembro de 2009
Esta semana exibiremos um conto de Alfredo Albuquerque, lido no 1.º Luau do Clube do Conto, onde os personagens são os participantes do Clube, a ideia era que cada um interpretasse a sua fala.
***
Luau
O vento uiva tenebroso. O mar repousa majestoso e negro sob a lua quase nova. As ondas chiam delicadamente. A noite chega a seu ponto divisor. O bip de um relógio digital de pulso agride o silêncio.
Ana Virgínia, apoiada no colo de Bonifácio, estreita o abraço e fecha os olhos. A brisa joga-lhe os cabelos sobre o rosto. Bonifácio sussurra em seus ouvidos.
_ Já deu meia noite.
Faz-se silêncio. Então Virgínia indaga.
_ Estou com uma intuição de que o encontro de hoje será diferente. Há algo no ar que só as mulheres percebem. Será que Ela vai aparecer?
_ Ela sempre aparece.
Poucos metros à frente, Laudelino acende uma lanterna. Aponta na direção de Emerson, que luta uma batalha exaustiva contra o implacável vento que tenta apagar seu cigarro. Atingido pela luz, seu rosto adquire um aspecto de fantasma, reforçado pelas distorções de expressão causadas pelo esforço em puxar o difícil trago. Reclama da lanterna.
_ Rapaz, tira essa luz do meu rosto, que está incomodando.
Laudelino aponta para outro lado e encontra Ronaldo, deitado na areia, com os olhos fixos em algum ponto do céu absurdamente estrelado. Parece balbuciar algo para si mesmo enquanto risca no ar linhas que, supõe-se, sejam reproduções das constelações. Laudelino intervém.
_ Descobriu um novo anel em Saturno?
_ Não, mas é possível numa noite como essa, em que o céu está pontilhado de estrelas antigas, estabelecer uma relação entre os arquétipos humanos e pequenos grupos constelacionais. O escorpião, por exemplo, pode ser dividido em três partes, onde podemos discernir as formas do político canalha, da estrela da mídia de entretenimento e do mau poeta.
Dôra Limeira, um pouco afastada do grupo, tenta localizar, no céu, as formações estrelares correspondentes às linhas traçadas por Ronaldo no ar. Roberto a chama.
_ Junte-se a nós, Dôra. Conte-nos novamente o que se sabe a respeito da história dEla.
_ Não quero ficar num círculo. Me agrada mais a estabilidade das formas retangulares, onde tudo se apoia na segurança de uma base firme. Círculos são traiçoeiros e pendem imprevisivelmente para lados inesperados.
_ Podemos nos redistribuir nas arestas de um quadrado, com a vantagem de termos um centro para quem gosta deles e quatro cantos para quem prefere a discrição dos cantos.
Dôra cede e se integra.
_ Diz a lenda que Ela foi afogada pelo noivo após descobrir uma traição. Toda terça à tarde Ela simulava ir ao psicólogo e se encontrava com outro homem em um hotel do centro histórico. Correm boatos de que o casal, ao fazer amor, emitia sons estranhíssimos, como os de gatos no cio. A falta de discrição chamou a atenção de outros frequentadores do hotel e, certo dia, a moça foi reconhecida por um amigo do noivo, cliente de prostitutas baratas. Ao saber da traição o noivo convidou a mulher para ir a Cabo Branco numa noite de domingo, prometendo uma surpresa. Ao chegar à beira do mar, num ponto mais afastado da área de movimento, mostrou-lhe o anel caríssimo, comprado para selar a união eterna. Entraram nus na água e, no primeiro beijo, a moça foi surpreendida pela mão atrevida em sua vagina.
"O que você está fazendo?" - Perguntou ela.
"É a sua aliança. Você vai carregá-la em seu ventre para toda a eternidade."
Regina Behar, ultimamente ausente do grupo e desconhecedora da história, de olhos arregalados pergunta:
_ E o noivo? O que aconteceu a ele depois? Ele foi atrás do amante?
_ Não. Ele deixou um bilhete assumindo o crime e isentando o amante de culpa, dizendo que a traição foi da mulher e não do outro, que nem sequer conhecia. Depois sumiu no mundo. Dizem que tornou-se líder religioso em Moçambique.
_ Que história, hem?
_ É...
E faz-se um longo silêncio.
Emerson dá um trago mal calculado no cigarro e tosse, quebrando o clima de reflexão.
Laudelino lembra-se repentinamente de algo e pergunta para os presentes:
_ Alguém por acaso sabe o resultado do jogo do Sport?
Ninguém responde.
Eli inicia desenhos na areia e, pela concentração que dedica aos detalhes, percebe-se que são desenhos complexos. Faz riscos, ergue montes, cava poços, e depois destrói tudo com as mãos, alisando a areia até planificá-la para novamente recomeçar na nova tela vazia. No meio de uma das obras Roberto estende um canudo retirado do copo plástico de caipirinha. Pergunta.
_ Vai precisar de tubulação?
_ Dessa vez não fiz uma cidade. Estou tentando me lembrar das estampas do vestido que Ela estava usando da última vez. Você se lembra se eram flores?
_ Não... não me lembro. Talvez fossem estrelas do mar.
Raoni também desenha, mas em seu bloco de rascunhos. Faz um retrato de Bonifácio que, por algum motivo, o inspirou a criar um novo personagem para um história em quadrinhos que está desenvolvendo baseada em Alice no País das Maravilhas.
_ Você se importa que eu use seus traços para compor o personagem do coelho filósofo viciado em jogos de computador da década de 80?
_ Sem problema, contando que você mantenha os óculos.
Maria Romarta chega, atrasada.
_ Eu queria pedir mil desculpas pelo minha imperdoável nagligência quanto à pontualidade desse nosso importantíssimo encontro no que se refere ao estreitamento de laços sociais literários e à boa acolhida que devemos à Ela.
André a conforta.
_ Não se preocupe, Romarta, que Ela ainda não apareceu. Inexplicavelmente está atrasada dessa vez.
Luciana, que até então estava em silêncio, concentrada em uma posição impossível da Yoga, sugere:
_ Poderíamos aproveitar que estamos na areia para fazermos uma sessão de alongamento conjugada com um pouco de meditação transcendental e exercícios respiratórios desenvolvidos especialmente para aumentar o desempenho sexual tântrico. Que tal?
Valéria Rezende desaprova.
_ Luciana, se eu me alongar, depois de todo o cansaço de um dia dedicado à reforma de minha casa e à administração de peões, acho que corro o risco de fazer uma postura da qual nunca mais vou conseguir sair. Talvez eu prefira fumar um cigarro.
Viviane, sentada ao lado da irmã, sugere:
_ Eu também acho que prefiro outra coisa. Se vocês quiserem, eu trouxe uma cesta repleta de potes de mousse de chocolate. Seriam para Ela, mas acho que eu comprei uma quantidade exagerada.
_ Pois eu topo a Yoga. - exalta-se Carlos Cartaxo - Será uma excelente oportunidade para a obtenção de novas técnicas que passarei a meu alunos que estão se preparando para encenar uma polêmica peça pseudocontemporânea de cunho socio-filosófico.
André Dias, alheio a tudo e a todos, rabisca um pequeno bloco.
Curioso, Alfredo investiga:
_ Resolveu escrever um conto justamente aqui e a essa hora?
_ Não. É que estou fazendo resenhas dos filmes que comprei daquela locadora de DVDs que fechou recentemente as portas. Vendi meu carro para comprar todo o acervo e agora me comprometi a ver um filme por dia. Hoje de manhã assisti àquele péssimo fime "A dama da água" e agora estou escrevendo sobre ele.
_ Pessoal, - intervém André - estou percebendo uma movimentação na água. Penso que será agora.
Bolhas de sabão sobem das águas escuras de Cabo Branco. Na área da turbulência podem ser vistos sacos plásticos e embalagens de biscoito revirados pela água e expelidos em direção à praia. Dos fones de ouvido de Emerson brota uma música estranha que serve como música de fundo para o espetáculo. Lentamente emerge uma grande bolha que traz dentro de si uma mulher.
Ninguém se assusta. Todos a esperam ansiosos.
Dessa vez Ela está diferente. Sua nudez, antes coberta por plantas aquáticas, agora está explícita. Seu rosto parece mais triste. Ela caminha lentamente até o grupo e senta-se na areia, no centro da roda. Em silêncio, olha para cada um e sorri. Depois espera que, um por um, todos venham até Ela com o presente. Recebe livros de poemas, filmes antigos, uma garrafa de aguardente, enfeites femininos, uma camisa do Sport Club de Recife, uma câmara fotográfica sub-aquática e uma pequena escultura em metal de um jabuti. Em troca, oferece conchas dos mais variados tipos, cada uma com uma pequena pérola embutida. Ao final do ritual Ela se levanta e, para a surpresa de todos, começa a falar.
_ Essa será a última vez que nos veremos. Meu noivo foi morto em Moçambique, na guerra civil e, por isso, estou agora livre de sua maldição. A aliança com a qual ele me presenteou não está mais dentro de mim.
Ao dizer isso, Ela mostra a palma da mão direita. O pequeno aro de metal brilha intensamente e ofusca todos por um momento. Ela deposita o anel na areia e diz:
_ Agora estou livre para amar novamente.
O brilho aumenta. Envolve todos numa cegueira branca. O som dos fones aumenta até um nível insuportável.
Então tudo cessa.
Ela já não está mais lá. O anel despareceu. Tudo, aparentemente, volta à sua calma primordial.
Todos se levantam, como recém acordados de um sono profundo, povoado de sonhos. Caminham em silêncio para longe da praia. Juntam-se novamente, no calçadão, para se despedir. Só então percebem que André Aguiar não voltou.
Alfredo Albuquerque
João Pessoa, 2 de novembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
revista ponto #3
A revista ponto #3 chega de surpresa, voando desordenadamente pelo céu, dentro de uma bolha de sabão. Estoura justo na sua frente - PLOC! - e cai nas suas mãos com muito material literário para desfrutar.
Esta edição conta com a participação de Ronaldo Monte (Lembrança), André R. Aguiar (Souvenir), Raoni Xavier (Adeus velho amigo), Eli Alves (Uma boa ideia), Alfredo Albuquerque (A paz), Regina Behar (Entre o eclipse e os bandolins), M.ª Romarta (Ritual), M.ª Valéria Rezende (A máscara) e Laudelino Menezes (Labirinto, o livro); quadrinhos de Raoni; o capítulo IV da História do Clube narrada por Dôra; e uma homenagem a recém-vencedora do prêmio Jabuti: Valéria.
Ah, sim! o formato da revista continua o mesmo 10,5cm x 14,5cm, com 32 páginas e capa em papel couché. Para adquirir um exemplar, entre em contato via clubeconto@gmail.com ou deixe um comentário. A tiragem é limitadíssima: 100 exemplares. Coisa de colecionador mesmo!
Esta edição conta com a participação de Ronaldo Monte (Lembrança), André R. Aguiar (Souvenir), Raoni Xavier (Adeus velho amigo), Eli Alves (Uma boa ideia), Alfredo Albuquerque (A paz), Regina Behar (Entre o eclipse e os bandolins), M.ª Romarta (Ritual), M.ª Valéria Rezende (A máscara) e Laudelino Menezes (Labirinto, o livro); quadrinhos de Raoni; o capítulo IV da História do Clube narrada por Dôra; e uma homenagem a recém-vencedora do prêmio Jabuti: Valéria.
Ah, sim! o formato da revista continua o mesmo 10,5cm x 14,5cm, com 32 páginas e capa em papel couché. Para adquirir um exemplar, entre em contato via clubeconto@gmail.com ou deixe um comentário. A tiragem é limitadíssima: 100 exemplares. Coisa de colecionador mesmo!
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
O que foi feito com os contos cegos?
Adendo da ata referente ao dia 21 de novembro de 2009.
O que foi feito com os contos cegos? Realmente, uma pergunta bastante pertinente.
Primeiro, para quem não sabe, conto cego é uma brincadeira do Clube, onde cada participante leva seu conto, mas não assina, os contos são depositados dentro de um envelope, depois são retirados (um de cada vez) e lidos, no final da leitura, os demais participantes tentam adivinhar quem escreveu cada conto.
Para ludibriar a mente dos adversários-adivinhadores, os contistas estão copiando os estilos de outros participantes do Clube, então, no momento da adivinhação, comentava-se: "este conto foi Beto que escreveu, tentando imitar Dôra"; "este aí foi Alfredo, querendo se passar por André". No cômpito geral, quase ninguém enganou, uma frase, palavra ou expressão denunciava o autor.
Vejamos a pontuação de enrolação de cada autor de conto cego. Foram 11 participantes, 9 se arriscaram na adivinhação e apenas 5 escreveram contos.
- Beto enganou apenas duas pessoas (contando com ele mesmo).
- Alfredo enganou três pessoas (contando com ele mesmo).
- Dôra enganou três pessoas.
- Romarta enganou duas pessoas (contando com ela mesma).
- Luciana enganou cinco pessoas (contando com ela mesma).
No final de toda a brincadeira, tiramos duas conclusões: no dia em que tivermos outro conto cego, quem não escrever conto deve levar uma folha em branco para colocar no envelope; não é necessário levar cópias, quem levar deve distribuir no final da brincadeira.
Encerro com outra pergunta pertinente: Quando faremos outro conto cego?
Laudelino Menezes
***
- Professor, tem espaço pra mais um adendo?!
- Tem sim, pode falar.
Dessa vez os contos cegos se transformaram num exercício de disfarces, com todos querendo se fazer passar por outros. Beto quis ser Dôra, eu dei uma de André, Romarta tentou ser Romarta mesmo, só que disfarçada de Rosilda, Luciana denunciou-se com seu conto ecologicamente correto em papel de rascunho e Dôra, deixou-nos seu conto com cenas de escatologia, sem querer disfarçar nada.
Alfredo
O que foi feito com os contos cegos? Realmente, uma pergunta bastante pertinente.
Primeiro, para quem não sabe, conto cego é uma brincadeira do Clube, onde cada participante leva seu conto, mas não assina, os contos são depositados dentro de um envelope, depois são retirados (um de cada vez) e lidos, no final da leitura, os demais participantes tentam adivinhar quem escreveu cada conto.
Para ludibriar a mente dos adversários-adivinhadores, os contistas estão copiando os estilos de outros participantes do Clube, então, no momento da adivinhação, comentava-se: "este conto foi Beto que escreveu, tentando imitar Dôra"; "este aí foi Alfredo, querendo se passar por André". No cômpito geral, quase ninguém enganou, uma frase, palavra ou expressão denunciava o autor.
Vejamos a pontuação de enrolação de cada autor de conto cego. Foram 11 participantes, 9 se arriscaram na adivinhação e apenas 5 escreveram contos.
- Beto enganou apenas duas pessoas (contando com ele mesmo).
- Alfredo enganou três pessoas (contando com ele mesmo).
- Dôra enganou três pessoas.
- Romarta enganou duas pessoas (contando com ela mesma).
- Luciana enganou cinco pessoas (contando com ela mesma).
No final de toda a brincadeira, tiramos duas conclusões: no dia em que tivermos outro conto cego, quem não escrever conto deve levar uma folha em branco para colocar no envelope; não é necessário levar cópias, quem levar deve distribuir no final da brincadeira.
Encerro com outra pergunta pertinente: Quando faremos outro conto cego?
Laudelino Menezes
***
- Professor, tem espaço pra mais um adendo?!
- Tem sim, pode falar.
Dessa vez os contos cegos se transformaram num exercício de disfarces, com todos querendo se fazer passar por outros. Beto quis ser Dôra, eu dei uma de André, Romarta tentou ser Romarta mesmo, só que disfarçada de Rosilda, Luciana denunciou-se com seu conto ecologicamente correto em papel de rascunho e Dôra, deixou-nos seu conto com cenas de escatologia, sem querer disfarçar nada.
Alfredo
domingo, 22 de novembro de 2009
Múltipla escolha
Ata referente ao dia 21 de novembro de 2009.
Alfredo pergunta algo que não ouço, mas finjo entender e aviso ao garçom que traga literatura fatiada sem molhos. Regina entendeu que eu falava de ciclos de natureza subjetiva, mas não foi bem isso: aquadradura quadratura do círculo ocupou boa parte do pensamento patafísico do refratário Roberto (que por uma ilusão de ótica, pode confundir as irmãs Rosilda e Romarta como possíveis projetos de transposição de estilos) que, por algum motivo alheio ao André... Não, não vamos começar isso de novo... me distraio-me com formas quadradas... Vamos às possíveis relatos atas:
Ata fofa) Duas gaitas foram postas na mesa. A primeira reluziu, e de dentro de seus furinhos ansiando por uma soprada, estavam guardadas todas as cantigas de ninar. Enquanto isso, a gaita maior, no alto de sua experiência de variados estilos, só dava gaitada....
Ata suspense) Emerson, alheio a tudo, desejava a mesa redonda. No entanto estava na quadrada. Lá fora a redonda. Mas ele estava na quadrada. A tendência mundial, o apelo, o sedutor momento pedia redondezas. Mas ele estava na quadratura com contistas quadrados enquadrados pela câmera do Alfredo. Olhava fixamente para a bojuda Skol. Descequadrada redonda. Mas Emerson, talheres à mesa, menos a faca afiada, estrangulada em sua mão, engolia uma saliva. Quadrada. E cadê que o André não lia aquele maldito conto?
Ata socialista) Ali no clube todos tinham direito de receber, por igual, sua cota de conto. E também sua cota da revista ponto. Os meios de produção dos temas deveriam tornar o indivíduo parte do processo histórico de mudança. Homens e coelhos deveriam marchar contra o pensamento quadrado do furor capitalista. Os companheiros Eli, Luciana e Dôra discutiam se a barba de Marx ficava bem com dreadlocks ou no tom acaju...
Ata ríspida) Quer saber o que houve, com quem, quando e onde? Ah, trate de ir aos sábados botar sua bunda na cadeira e ouvir calado as histórias, pô! Pra seu governo, Vera, Rosilda e Romarta ficam a maior parte do tempo quietinhas e não reclamam.
Ata matemática) O espaço percorrido por um papel amassado que a mão de Laudelino, obliqua, tenta lançar a Luciana (no espaço de 23 segundos imprimiu força negativa de 7 quilos sobre um comentário ao Sport Club) é de 39 centímetros. Levando em conta que no trajeto, o gesto expansivo de Betomenezes desloca o ar na metade deste percurso, responda:
(A) Os contistas pensam que estão no jardim de infância
(B) Os contistas são o próprio jardim de infância
(C) Coelhos e contistas só sabem se multiplicar
(D) Todas as anteriores.
Ata haicai:
Enfim o tema
Que eles escolhem é dom:
Tomara quevenda renda.
André R Aguiar
Alfredo pergunta algo que não ouço, mas finjo entender e aviso ao garçom que traga literatura fatiada sem molhos. Regina entendeu que eu falava de ciclos de natureza subjetiva, mas não foi bem isso: a
Ata fofa) Duas gaitas foram postas na mesa. A primeira reluziu, e de dentro de seus furinhos ansiando por uma soprada, estavam guardadas todas as cantigas de ninar. Enquanto isso, a gaita maior, no alto de sua experiência de variados estilos, só dava gaitada....
Ata suspense) Emerson, alheio a tudo, desejava a mesa redonda. No entanto estava na quadrada. Lá fora a redonda. Mas ele estava na quadrada. A tendência mundial, o apelo, o sedutor momento pedia redondezas. Mas ele estava na quadratura com contistas quadrados enquadrados pela câmera do Alfredo. Olhava fixamente para a bojuda Skol. Desce
Ata socialista) Ali no clube todos tinham direito de receber, por igual, sua cota de conto. E também sua cota da revista ponto. Os meios de produção dos temas deveriam tornar o indivíduo parte do processo histórico de mudança. Homens e coelhos deveriam marchar contra o pensamento quadrado do furor capitalista. Os companheiros Eli, Luciana e Dôra discutiam se a barba de Marx ficava bem com dreadlocks ou no tom acaju...
Ata ríspida) Quer saber o que houve, com quem, quando e onde? Ah, trate de ir aos sábados botar sua bunda na cadeira e ouvir calado as histórias, pô! Pra seu governo, Vera, Rosilda e Romarta ficam a maior parte do tempo quietinhas e não reclamam.
Ata matemática) O espaço percorrido por um papel amassado que a mão de Laudelino, obliqua, tenta lançar a Luciana (no espaço de 23 segundos imprimiu força negativa de 7 quilos sobre um comentário ao Sport Club) é de 39 centímetros. Levando em conta que no trajeto, o gesto expansivo de Betomenezes desloca o ar na metade deste percurso, responda:
(A) Os contistas pensam que estão no jardim de infância
(B) Os contistas são o próprio jardim de infância
(C) Coelhos e contistas só sabem se multiplicar
(D) Todas as anteriores.
Ata haicai:
Enfim o tema
Que eles escolhem é dom:
Tomara que
André R Aguiar
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Bem-aventurados
Ata referente ao dia 14 de novembro de 2009.
Bem-aventurados os que chegam cansados do fardo do mundo, e sabem se sentar, e pedem um pouco de cerveja e alimento, e estão dispostos a ouvir se não uma oração, uma história, uma parábola, um conto.
Bem-aventurados os que cruzam os portões e lançam um olhar bondoso ante uma mesa de feitura simples, circular, com cadeiras em detalhes sinuosos, e sentam o traseiro e esperam minutos ou horas para chegar o momento de ler ou ouvir, rir ou chorar, refletir ou simplesmente não acreditar na existência de garçons solícitos.
Bem-aventurados os que escrevem sobre um tema, os que escrevem sem tema, os que escrevem porque estão de saco cheio das gavetas, os que rabiscam experiências, os que sonham que determinados temas estejam em pauta, os que gozam por um texto, os que são pelo texto gozados.
Bem-aventurados os que chegam pela primeira vez porque foram guiados por uma estrela, ou pelas luzes do bairro, ou pelo Coelho Suplicante.
Bem-aventurados os temas que esperam anos para serem votados, e quando chegam na reta final, vem um engraçadinho e põe um tema safado que rouba descaradamente os votos do tema tão velhinho e caquético, como o aliás...
Bem-aventurados os contos curtos (dele é o reino dos céus) e os contos médios, e os contos sobre contos curtos ou médios, mas também há salvação para os contos longos, os romances disfarçados de contos, os relatórios metafísicos e a literatura cor-de-rosa.
Bem-aventurados os que pagam as contas sem reclamar, os que trazem convidados, os que riem ou puxam a conversa para outras plagas, os que não doutrinam, os apóstolos do caos, os que trazem escondidos debaixo do sovacos os manuscritos do mar morto.
Bem-aventurados os encontros que propõem desafios, como os contos cegos e os contos inacabados, as propostas de luau e as possíveis camisas do clube do conto.
Bem-aventuradas as reuniões como a de sábado, em que estiveram presentes Romarta, Rosilda, Alfredo, Emerson, Cartaxo, Luciana, Raoni, Laudelino en passant, Regina Behar, além de novos discípulos como a cantora Vera Lima (que presenteou o clube com seu trabalho) e Claudia Samara, relações públicas do Sebo Cultural.
Bem-aventurados os relatos interativos, as possibilidades de troca de livros no blog e as novas parcerias.
Bem-aventuradas as pessoas que se pegam a dispensar o sábado das coisas mundanas e das tentações do mundo para a leitura do evangelho narrativo e satírico. Vinde a mim os contistas, já dizia o bom deusinho.
Dito isto, orem muito e façam um pelo-sinal bem fofo.
André R Aguiar
Bem-aventurados os que chegam cansados do fardo do mundo, e sabem se sentar, e pedem um pouco de cerveja e alimento, e estão dispostos a ouvir se não uma oração, uma história, uma parábola, um conto.
Bem-aventurados os que cruzam os portões e lançam um olhar bondoso ante uma mesa de feitura simples, circular, com cadeiras em detalhes sinuosos, e sentam o traseiro e esperam minutos ou horas para chegar o momento de ler ou ouvir, rir ou chorar, refletir ou simplesmente não acreditar na existência de garçons solícitos.
Bem-aventurados os que escrevem sobre um tema, os que escrevem sem tema, os que escrevem porque estão de saco cheio das gavetas, os que rabiscam experiências, os que sonham que determinados temas estejam em pauta, os que gozam por um texto, os que são pelo texto gozados.
Bem-aventurados os que chegam pela primeira vez porque foram guiados por uma estrela, ou pelas luzes do bairro, ou pelo Coelho Suplicante.
Bem-aventurados os temas que esperam anos para serem votados, e quando chegam na reta final, vem um engraçadinho e põe um tema safado que rouba descaradamente os votos do tema tão velhinho e caquético, como o aliás...
Bem-aventurados os contos curtos (dele é o reino dos céus) e os contos médios, e os contos sobre contos curtos ou médios, mas também há salvação para os contos longos, os romances disfarçados de contos, os relatórios metafísicos e a literatura cor-de-rosa.
Bem-aventurados os que pagam as contas sem reclamar, os que trazem convidados, os que riem ou puxam a conversa para outras plagas, os que não doutrinam, os apóstolos do caos, os que trazem escondidos debaixo do sovacos os manuscritos do mar morto.
Bem-aventurados os encontros que propõem desafios, como os contos cegos e os contos inacabados, as propostas de luau e as possíveis camisas do clube do conto.
Bem-aventuradas as reuniões como a de sábado, em que estiveram presentes Romarta, Rosilda, Alfredo, Emerson, Cartaxo, Luciana, Raoni, Laudelino en passant, Regina Behar, além de novos discípulos como a cantora Vera Lima (que presenteou o clube com seu trabalho) e Claudia Samara, relações públicas do Sebo Cultural.
Bem-aventurados os relatos interativos, as possibilidades de troca de livros no blog e as novas parcerias.
Bem-aventuradas as pessoas que se pegam a dispensar o sábado das coisas mundanas e das tentações do mundo para a leitura do evangelho narrativo e satírico. Vinde a mim os contistas, já dizia o bom deusinho.
Dito isto, orem muito e façam um pelo-sinal bem fofo.
André R Aguiar
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Sessão de Contos (5)
Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos pretende ser um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.
Pela primeira vez no blog do Clube, um conto da já-não-tão-novata Maria Romarta, lido na reunião do dia 24 de outubro.
***
Fabiano
O pai fez a cena que todos esperam de uma despedida. Abraçou Fabiano, seu filho único, falou que o amava, olhou-o penosamente nos olhos e partiu.
Deixou-lhe além da sua fortuna, apenas pertences particulares que por ser ele, não apegado ao consumismo, resumiam-se em algumas peças de roupa, dois ou três sapatos, um chapéu de cor preta, alguns relógios e um casaco de couro, típico de peão fazendeiro.
Fabiano era um jovem ambicioso de querer sempre mais, então se tratou logo de cuidar das ações empresariais, que agora eram suas tão somente suas.
Pôs-se a trabalhar feito um louco, se já tinha gosto de ter dinheiro, o teve ainda mais.
Sua única causa pessoal era ele próprio, esqueceu que talvez tivesse parente ou algum amigo distante.
Distinto em luxúria, não era, entretanto só um homem milionário, e sim, um homem milionário, inatingível e sozinho.
Tudo o que lhe pertencia, tinha de ser, sem exceção, de puro luxo. E de tão luxuosas que suas coisas eram, acabaram por adotar o “os” e o “as” nos seus adjetivos. E “os” e “as”, tornaram-se de Fabiano, a marca registrada!
Possuía automóveis importados, caros e raros...
E também mansões panorâmicas, desejadas e douradas...
E assim todo o resto.
Certo dia, num grande evento, nomearam a linha das empresas de Fabiano, como, a que mais cresceu, empregou e obteve lucros em todo o país.
Entre flashes e personalidades, subiu ao palco. Recebeu o troféu, acenou para todos e atencionou às perguntas da imprensa.
...
__ Como se sente, agora recebendo um título tão grandioso como este? Feliz? Realizado?
Fabiano sentia-se muito bem com a conquista, porém duas palavras contidas naquela pergunta confundiram-lhe a mente.
“Feliz? Realizado...”. E um risco de pensar trouxe numa nebulosa imagem a feição morta de seu pai. Por que lembrou?
“... Feliz? Realizado?”
Não soube o que dizer, e deixou que evaporasse sem nenhuma resposta a feliz e realizada pergunta, pouco... a pouco.
Maria Romarta
Pela primeira vez no blog do Clube, um conto da já-não-tão-novata Maria Romarta, lido na reunião do dia 24 de outubro.
***
Fabiano
O pai fez a cena que todos esperam de uma despedida. Abraçou Fabiano, seu filho único, falou que o amava, olhou-o penosamente nos olhos e partiu.
Deixou-lhe além da sua fortuna, apenas pertences particulares que por ser ele, não apegado ao consumismo, resumiam-se em algumas peças de roupa, dois ou três sapatos, um chapéu de cor preta, alguns relógios e um casaco de couro, típico de peão fazendeiro.
Fabiano era um jovem ambicioso de querer sempre mais, então se tratou logo de cuidar das ações empresariais, que agora eram suas tão somente suas.
Pôs-se a trabalhar feito um louco, se já tinha gosto de ter dinheiro, o teve ainda mais.
Sua única causa pessoal era ele próprio, esqueceu que talvez tivesse parente ou algum amigo distante.
Distinto em luxúria, não era, entretanto só um homem milionário, e sim, um homem milionário, inatingível e sozinho.
Tudo o que lhe pertencia, tinha de ser, sem exceção, de puro luxo. E de tão luxuosas que suas coisas eram, acabaram por adotar o “os” e o “as” nos seus adjetivos. E “os” e “as”, tornaram-se de Fabiano, a marca registrada!
Possuía automóveis importados, caros e raros...
E também mansões panorâmicas, desejadas e douradas...
E assim todo o resto.
Certo dia, num grande evento, nomearam a linha das empresas de Fabiano, como, a que mais cresceu, empregou e obteve lucros em todo o país.
Entre flashes e personalidades, subiu ao palco. Recebeu o troféu, acenou para todos e atencionou às perguntas da imprensa.
...
__ Como se sente, agora recebendo um título tão grandioso como este? Feliz? Realizado?
Fabiano sentia-se muito bem com a conquista, porém duas palavras contidas naquela pergunta confundiram-lhe a mente.
“Feliz? Realizado...”. E um risco de pensar trouxe numa nebulosa imagem a feição morta de seu pai. Por que lembrou?
“... Feliz? Realizado?”
Não soube o que dizer, e deixou que evaporasse sem nenhuma resposta a feliz e realizada pergunta, pouco... a pouco.
Maria Romarta
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Boletim de ocorrência.
Ata referente a reunião do dia 7 de novembro de MMIX.
Parecem misturados como uma composição química onde histórias se misturam com curiosidade, são leitores e escritores, usam do direito livre e solto de estar ou ausentar-se, mas é ainda uma forma de sociedade com mínimas regras, e nisso podem arcar com o peso da palavra clube e o estilingue da palavra conto.
Dito isto, Beto, Cartaxo, Alfredo, Nadya, Regina Behar (acompanhada do love), Raonix, Bonitfácio & Vivi, Romarta e Ronaldo Monte foram as bolas da vez deste sábado. Uma parte do encontro parecia uma mistura de conversa de café parisiense com reunião da equipe do Cahiers du cinema: falaram de filmes, teses e teorias, enquanto um sisudo Sr. Monte esperava o X da questão: Clube do conto ou do filme? Afora isso, seguimos com os trabalhos. Foram lidos contos do tema, contos fora do tema, contos interativos onde os participantes leram suas próprias vozes como personagens e até um conto estilo radionovela, com narrador, locutor e com um certo terror, escrito pela angelical Romarta.
Depois de acirrada disputa, o tema Fofo levou a melhor pontuação. Enquanto isso, estamos na expectativa do próximo número da revista Ponto. Esta é a crônica de uma noite arredondada no restaurante Coelhos. Avante!
André R. Aguiar
Imagem retirada de http://www.johnehrenfeld.com/scientist-1.jpg
Parecem misturados como uma composição química onde histórias se misturam com curiosidade, são leitores e escritores, usam do direito livre e solto de estar ou ausentar-se, mas é ainda uma forma de sociedade com mínimas regras, e nisso podem arcar com o peso da palavra clube e o estilingue da palavra conto.
Dito isto, Beto, Cartaxo, Alfredo, Nadya, Regina Behar (acompanhada do love), Raonix, Bonitfácio & Vivi, Romarta e Ronaldo Monte foram as bolas da vez deste sábado. Uma parte do encontro parecia uma mistura de conversa de café parisiense com reunião da equipe do Cahiers du cinema: falaram de filmes, teses e teorias, enquanto um sisudo Sr. Monte esperava o X da questão: Clube do conto ou do filme? Afora isso, seguimos com os trabalhos. Foram lidos contos do tema, contos fora do tema, contos interativos onde os participantes leram suas próprias vozes como personagens e até um conto estilo radionovela, com narrador, locutor e com um certo terror, escrito pela angelical Romarta.
Depois de acirrada disputa, o tema Fofo levou a melhor pontuação. Enquanto isso, estamos na expectativa do próximo número da revista Ponto. Esta é a crônica de uma noite arredondada no restaurante Coelhos. Avante!
André R. Aguiar
Imagem retirada de http://www.johnehrenfeld.com/scientist-1.jpg
domingo, 1 de novembro de 2009
Ata Escolar
Ata referente ao dia 31 de outubro de 2009.
A ausência da turma foi pequena, estiveram presentes na aula: Prof. Beto, Joana, Gláucia, Alfredo, Ronaldo, Luciana, Nadya, Jéssica, Bonifácio, Vivi 1 (aniversariante do dia), Valéria, Vivi 2, Laudelino e Romarta. Atenção: aqueles com mais de 75% de faltas, estão reprovados, não venham choramingar.
Aos trancos e barrancos, devido as habituais conversas tranversais que atrapalham a concentração da turma, tivemos a leitura da tarefa de casa de Ronaldo com seu estilo poético, de Alfredo e sua festa a fantasia, de Beto contando as desventuras de Badolé e de Luciana homenageando o dia das bruxas com uma história de zumbis e monstros arruaceiros. Romarta levou cópias do conto da semana passada, aquele que falava dos OS e AS. Pra finalizar as leituras, Beto levou um texto falando sobre entropia, assunto físico que trata do ideal e perfeito. Lembrando que, na próxima reunião, teremos uma prova sobre entropia, estudem tudo!
Saimos para o recreio e partimos para escolha do tema. Concorreram: priapismo, orgasmos, protetor lunar e próstata; aliás, aliás não entrou no páreo. Apesar de todo o lobby de Joana para eleger orgasmos, protetor lunar venceu.
No finalzinho da aula, combinamos o ponto de encontro do 1.º Luau do Clube do Conto, que acontece no dia 1 de novembro, a partir das 18h, próximo ao Hotel Litoral, no Cabo Branco. Vamos agitar a praia com leitura de contos de terror...
Classe dispensada.
PS: O ateiro oficial, André Aguiar, faltou a reunião, por isso, não reclamem desta ata meio meia-boca.
Laudelino
Imagem retirada de http://webpages.scu.edu/ftp/bdonaldson/images/classroom.jpg
A ausência da turma foi pequena, estiveram presentes na aula: Prof. Beto, Joana, Gláucia, Alfredo, Ronaldo, Luciana, Nadya, Jéssica, Bonifácio, Vivi 1 (aniversariante do dia), Valéria, Vivi 2, Laudelino e Romarta. Atenção: aqueles com mais de 75% de faltas, estão reprovados, não venham choramingar.
Aos trancos e barrancos, devido as habituais conversas tranversais que atrapalham a concentração da turma, tivemos a leitura da tarefa de casa de Ronaldo com seu estilo poético, de Alfredo e sua festa a fantasia, de Beto contando as desventuras de Badolé e de Luciana homenageando o dia das bruxas com uma história de zumbis e monstros arruaceiros. Romarta levou cópias do conto da semana passada, aquele que falava dos OS e AS. Pra finalizar as leituras, Beto levou um texto falando sobre entropia, assunto físico que trata do ideal e perfeito. Lembrando que, na próxima reunião, teremos uma prova sobre entropia, estudem tudo!
Saimos para o recreio e partimos para escolha do tema. Concorreram: priapismo, orgasmos, protetor lunar e próstata; aliás, aliás não entrou no páreo. Apesar de todo o lobby de Joana para eleger orgasmos, protetor lunar venceu.
No finalzinho da aula, combinamos o ponto de encontro do 1.º Luau do Clube do Conto, que acontece no dia 1 de novembro, a partir das 18h, próximo ao Hotel Litoral, no Cabo Branco. Vamos agitar a praia com leitura de contos de terror...
Classe dispensada.
PS: O ateiro oficial, André Aguiar, faltou a reunião, por isso, não reclamem desta ata meio meia-boca.
Laudelino
Imagem retirada de http://webpages.scu.edu/ftp/bdonaldson/images/classroom.jpg
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