quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Autores da Semana (8)

Semanalmente, ou quinzenalmente, ou, no máximo, trimensalmente, publicaremos contos dos participantes do Clube do Conto. Nesta edição número oito: Raoni Xavier.

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Raoni Xavier nasceu em 1984, é ilustrador free-lancer, está terminando educação artística na UFPB, escreve contos e produz quadrinhos nas horas vagas. Há mais de um ano trabalha na organização do Projeto Calango (www.prac.ufpb.br/projetocalango) de quadrinhos.

Seu blog: www.ocadonix.blogspot.com

O conto de Raoni foi criado a partir de um exercício de uma das reuniões do Clube do Conto, escrever uma história a partir do desenho feito por Geraldo Maciel, o Barreto. Confiram!

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Adeus velho amigo

- Coriolano? Você esta ai?

- Por favor homem, deixe eu sair, o que teme dessa velha carcaça? Me diga. Que posso eu fazer além de esperar pelo fim?

Coriolano contorce a face relutante. Pensava que apenas um crápula, sangue frio, prenderia alguém por todo aquele tempo. Por outro lado, ainda não confiava nas palavras de redenção daquele maligno. Coriolano olhava para o objeto cinza-níquel em sua mão como quem procura sombras no breu. Experimentava-o na superfície do cárcere, esboçando uma decisão, quando tudo o que tinha eram dilemas. Como enfrentaria sua própria consciência se deixasse escapar aquele monstro.

É certo que já não era o mesmo monstro do passado. Suas articulações enrijecidas e seu olhar grisalho, escancaravam o fato óbvio de que mal podia pôr-se de pé. Mesmo sendo alguém tão perigoso, o sujeito merecia uma chance. Ao menos a oportunidade de poder ver a morte com dignidade. E no fim das contas, eram duas almas velhas, um prisioneiro, o outro carcereiro, dois resultados de uma vida de dívidas. Ele próprio, Coriolano, também merecia seu descanso, assim como um fiel servo de Deus merece o céu.

Ergueu a mão olhando pro seu prisioneiro, como se visse naqueles olhos os seus, acertou o objeto na superfície suada e disparou, abrindo uma fenda de sangue na parede de seus pensamentos. Pela fenda, um homem velho se rastejou, ergueu-se e rastejou, passos incertos, como se deixasse um velho amigo para trás.

4 comentários:

André disse...

Gosto demais desse conto, Raonix. É cheio de idéias de linguagem e trama. Conciso e provocante. Parabéns!

u n h a n u a disse...

Gostei do blog :) Vou acompanhar

Laudelino disse...

Esse conto tem um final sinistro. Muito bom!

Unknown disse...

Gostei muito!!!
As idéias não se confundem com a linguagem.
Parabéns.