sexta-feira, 28 de setembro de 2007

A noite

Cheguei em casa tarde da noite, estava exausto, tinha passado horas e horas debatendo vários assuntos polêmicos, queria ter resolvido todos os problemas do mundo, fui impedido pelo dono do bar que resolveu fechar mais cedo e nos enxotou. Pelo menos, já estava no aconchego do lar. Fui direto ao banheiro, no caminho, fui me livrando dos apetrechos, celular, chave do carro, carteira, moedas, espalhei-os pelos mais diferentes móveis da casa, iria ser uma dificuldade reencontrá-los no dia seguinte.

Dei uma mijada e depois entrei debaixo do chuveiro. Que belo banho, ensaboei todo o corpo, passei shampoo no cabelo para tirar o cheiro de cigarro. Não fumava, mas meus amigos fumavam muito, inclusive as mulheres, diziam ficar mais charmosas com um cigarro em punho.

Enxagüei-me e enxuguei-me. Vesti o pijama, estendi a toalha no box e fui para cama. Deitei e arrumei as cobertas. Mal fechei os olhos e despertei com um barulho de porta fechando, BLAM! Pensei, deve ser na casa do vizinho. Entretanto, escutei a assassina chegando de mansinho. Fingi que dormia, quando ela se aproximou, surpreendi-a abanando os braços. Acendi o abajur para fazer contato visual. Fiquei cara a cara com a danada, concentrei-me e certeiramente agarrei-a entre meus dedos. Apertei a mão com toda a força. Verifiquei se a tinha esmagado, porém ela voou da como se nada tivesse lhe acontecido.

Fui atacado no pescoço, nas mãos e no rosto. Dei tapas em mim mesmo e no ar, não conseguia acertá-la de jeito nenhum. Até que, num átimo de loucura, puxei a manga do pijama e ofereci o braço para que ela sugasse todo o meu sangue. Demorou a se aproximar, mas não resistiu. Deu um vôo rasante e cravou sua boca no meu braço. Instantaneamente, VLÁS!, dei-lhe um tapa certeiro, o sangue espalhou por todo o quarto. Examinei-a e constatei, era uma Aedes aegypti.

Joguei seus restos mortais no chão, limpei-me com cuspe, apaguei o abajur, fechei os olhos e dormi, mas não dormi tranqüilo, sonhei que era julgado num tribunal de muriçocas. Culpado! Assassino! Culpado! Culpado!
Laudelino Menezes
(Texto apresentado na reunião do Clube do Conto da Paraiba, sábado, dia 8/9/2007 - Ata)

Um comentário:

Anônimo disse...

mas que final, hein, Lau... adorei!

grande abraço!