Sem rumo certo, vão e vêm de cabeças baixas. Seus corpos ondulam numa coreografia sonâmbula. Sozinhos, aos pares ou em pequenos bandos, dão alguns passos e param. Só aí se vê que não é de tristeza a expressão de seus rostos. É de um certo êxtase, de quem não acredita de fato que está ali. Logo voltam a olhar para o chão e a caminhar lentamente sobre as pedras. São os romeiros de Parati, numa insólita procissão em louvor da palavra. A pluralidade das vozes denuncia: estão ali para a Festa Literária Internacional de Parati, a Flip. O comportamento estranho entre o cabisbaixo e o êxtase deve-se ao calçamento irregular feito de pedras no tempo da colônia. É impossível andar olhando para frente ou para os lados. É preciso parar para poder ver as casas, as galerias, as livrarias, os bares e botecos que disputam nossos olhos. É parado também que se vê o passar do tempo sobre o lugar. E somente parados podemos procurar o olhar do outro com quem compartilhar o deslumbramento. O Clube do Conto de João Pessoa estava lá. Na noite de quinta-feira, dia 10 de agosto, no Che bar, fizemos uma autêntica farra literária paraibana, batizada de Parathyba. Vendemos livros, sorteamos livros, demos muitos livros. O bar estava lotado. Muita gente estava lá para conhecer a turma daquela freira da Paraíba que tinha feito o maior sucesso na mesa de abertura da Festa, na manhã daquele dia. E foi a própria Valéria Rezende que apresentou o Clube.
Valéria, Barreto, Marília, Suênio Campos e eu erramos como romeiros pelas ruas de Parati. Fomos festejar a palavra. Cabisbaixos algumas vezes. Em êxtase na maior parte do tempo pela beleza da polifonia.
Ronaldo Monte
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