quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Conto coletivo (em dupla)

Feliz 2011 a todos!!!

Depois de um longo e tenebroso inverno, atualizamos o nosso blogue com um conto coletivo, escrito por Raoni e Betomenezes. Divirtam-se!

* * *
Onde está Mingau?
Raonix/betomenezes
As brigas por causa de Mingau eram uma coisa corriqueira. Quem conhecia o casal, desde antes do enlace, já imaginava que Mingau seria um problema. Pobre Mingau. Talvez nada tivesse a ver com as desavenças. Talvez o problema estivesse na cabeça de seus donos: Magali e Marcelo.
Magali insistiu "Ele vem com a gente", e Marcelo, louco apaixonado, aceitou a condição, como quem olha o barco passar. E dessa maneira passaram-se dois anos, dois longos anos de Mingau a flutuar sobre o rio de ódio de Marcelo. A presença do bichano já se tornara insuportável.
"O que você fez com ele!?", gritou Magali possessa. No seu olhar não havia piedade e em sua mente não cabia outra explicação. Já não parecia estar falando com seu marido Marcelo, mas sim com o possível assassino do Mingau. Marcelo ficava na defensiva: "Deve ter achado uma namorada!".
Uma semana se passou sem notícias do gato. Cartazes com fotos de Mingau povoaram os postes das redondezas. Programas de rádio, televisão, jornais, todos gritavam em uníssono: "Onde está Mingau?!"
Quando as esperanças já se tornavam um farelo de polvilho sobre a mesa, um e-mail chegou. O título já dizia tudo. “Estamos com seu gato, espele novas instluções”. Em anexo, uma foto do gato deitado, repousando sobre um jornal do dia. E na ponta da fotografia, um espécie de cano que parecia ser... era de uma arma.
Magali desesperada deu um grito, “Meu Deus, Marcelo”. Marcelo não sabia o que falar. “Só pode ser o Cebolinha, ele nunca superou a nossa relação”. “Ele não chegaria a este ponto”, Marcelo tentou manter a calma, mesmo sabendo que o bandido se denunciara no seu modo de escrever, que era sua assinatura.
As drogas levaram Cebolinha a um caminho que desembocara na sua separação com Magali, situação essa que ele não superou, ainda mais depois do trágico suicídio de Mônica, sua melhor amiga. Cebolinha sabia o quanto Mingau era importante na vida de Magali, todas as lembranças que ele tinha (desde a infância) associavam a moça ao gato. Ter o gato perto dele, talvez fosse o último ato desesperado do desgarrado.
Foram as mais longas cinco horas que o casal esperou. Cebolinha, com requintes de crueldade, esperou que a madrugada desembocasse para só então mandar a segunda mensagem: “O gato vive. Por enquanto”. Só. “O que você quer, filho da puta?”, respondeu Magali na mesma hora. E em instantes, veio a exigência: “Você ”. E logo depois, a segunda mensagem com mais uma exigência: “Venha com aquele vestidinho amalelo, sem nada por baixo”.
Marcelo não acreditava naquilo. Magali boquiaberta, precisou de dez minutos para aceitar, “Marcelo, Cebolinha é louco, sempre teve alucinações com um homem perseguindo ele. A mãe dele o levou ao psiquiatra várias vezes. Ele tem um caso raro de distúrbio mental. Imagina uma pessoa que é calva desde menino. Ele é capaz de tudo”. “O que você quer dizer com isso, Magali? Vou ligar pra polícia agora”. “Não, eu conheço bem ele...”. Na hora que ela falava, chegou o terceiro email do meliante: “E então, Magali, estou espelando com Mingau e meia melancia. Nem pense em ligar plo 190. Ou mando outra foto com seu gatinho engasgado de caloços, ou cheio de fulos, entendeu?”.
Magali foi ao guarda-roupa e tirou do lá do fundo o vestido que sempre lhe caíra bem, antes que a obesidade a atacasse. Ainda coube, com aperto. “O que você está fazendo?”, vociferou o marido. “Eu vou Marcelo... Tenho coisas mal resolvidas para acertar”.
Depois que ela bateu a porta, Marcelo chorou meio que conformado.
Em vinte minutos Magali chegou no apartamento de Cebolinha. Entrou então sem, bater. Garrafas de uísque vazias estavam espalhadas pela sala. Capas de DVDs de filmes pornôs sobre a mesa. Ela foi ao quarto. Lá, Cebolinha cheirava alguma droga. Seus dois últimos fios de cabelos escondiam a careca. Seu olhar era profundo e louco.
“Onde está o Mingau?”, ela interrogou ao mesmo tempo que procurava.
“Com o Bidu e Floquinho”, ele ironizou. Os olhos dela arregalaram-se. Bidu, o cachorro de Franjinha, foi atropelado por um caminhão e seus pedaços se espalharam pela rua. Floquinho, o do próprio Cebolinha, comera veneno que dizem até hoje ter sido posto por Cascão, numa das brigas com o ex-amigo durante a adolescência.
“O quê?” O grito de Magali chegou perto de rachar os tímpanos do rapaz.
“Você gosta de felino a/à Palmegiana?”
“Não, você não seria capaz de fazer isso!”.
“Com um molho de tomate e um macalão que é uma delícia”.
“Cebolinha, você não...”
“Fiz o que aquele melda do teu malido nunca vai fazer por você.”.
“Meu mingau...”, ela chorou e sentou na cama ao lado do drogado.
“Confesse, meu amor, que ela o seu sonho!”.
“Seu merda, por que a/à Parmegiana? Depois desse tempo todo, você não sabe que eu prefiro a/à Cubana”.
E cearam quando amanhecia: Magali com os olhos na carne do gato, Cebolinha com o olhar perdido no vestidinho amalelo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ainda bem que esse blog paralítico resolveu fazer fisioterapia... espero que não abandone o tratamento e que tenhamos pelo menos os outros contos em dupla, com uma explicaçãozinha de como foram feitos! MVal

Anônimo disse...

E a revistinha de bolso, não vai sair mais não? MVal

Thaïs Kisuki disse...

Destruiu a minha infância, mas mesmo assim muito bom, hehehe.