Confraternização do Clube do Conto - 2011 |
Um, dois, três contistas... e vão chegando, e o número aumenta. Na lógica estranha, como numa espécie de bolsa de valores, o gráfico tem seus altos e baixos. O Clube do Conto tem uma marca conquistada que, por força desta arte, subiu e em um imaginário ponto ou parede, deixou uma placa com a inscrição “seja bem-vindo” em letras garrafais. E deu certo. Uma espiada básica em sua história mostra esta tendência de acolher o peregrino com histórias – e muita camaradagem. Com mais um olhar apurado, nossas queridas figuras, eternos amigos, acima dos parágrafos da vida, deixam o tom geral de nossas reuniões. O Clube é um conceito sem definição, com existência quase autônoma e com uma tendência para seguir em frente nas maiores dificuldades. Nas melhores também, porque sempre se tira uma lição. As histórias nos contarão. As histórias, feitas de improviso, em chave de oficina, tocam-se como os jazzistas que em jam sessions, descobrem este ou aquele improviso, estendem notas, criam atalhos. E sabem dar um som legal.
Com o tempo, conquistamos respeito. Bem ou mal, com revistas que cabem no bolso, com atas que exploram a diversidade de estilos, com uma antologia, com apresentações, lançamentos e o orgulho de estar sempre citado aqui e lá fora. Uma idéia que vingou e singrou por sete anos em sete mares, sete ressacas, sete marés. O Clube tem a marca da importância da leitura, do quanto somos bobos ou sérios e vivos e filhos pródigos. Colecionou mais tranquilidade do que vaidades bobas. Mostrou ser possível não perder a linha, não perder a liga, não perder o humor. Como uma boneca russa, onde se abre uma tampa aparece outra e mais outra. Mesmo não parecendo dar em nada, mesmo em momentos que, no nomadismo, finja perecer, o Clube é o exemplo de que contar uma boa história pode ser um programão de índio, cowboy, bandido, mocinha.
As histórias, contos, relatos, depoimentos, atas nos fizeram melhores. Fomos resgatados das torres individuais para a clareira coletiva onde tudo pode acontecer, mas acontece em função de algo vivo, um universo que sempre é móvel e intercambiável, um pântano seco para exploradores, uma plataforma, um jardim babilônico com camadas, um oásis com ralo. Fizemos nossa história tão menos preocupados em legislação – que nunca houve – e em hierarquia que, maravilha, fomos a honrosa exceção e a notícia mais discreta fora dos salões municipais. Um grupo coeso porque não se sentiu forrado de etiquetas nem enfardados em sarau constante. Um grupo mais cozinha mineira do que hall de entrada de edifício chique. Um grupo que hoje, sete anos e mais alguma coisa, tem também lá suas vidas de gato. Puxamos as histórias para perto da fogueira. E nos aquecemos com elas, mesmo em noites não tão frias de sábado.
Contos com temas, votações ao léu, conversas paralelas, narrações perfeitas e outras aos pulos, mas sempre com o espírito da amizade, e com uma paisagem diferente a cada reunião: tímidos com extravagantes, apressados com zen-contistas, fantasmas com exorcistas, calejados com os mãos-delicadas, aprendizes e mestres. Subimos escadas, adentramos recintos, sentamos no batente, ficamos em pé, bebericamos, conversamos, invadimos a praia, deixamos pegadas. O Clube é como uma boa história nem muito linear, nem muito experimental. É tal e qual do tamanho de uma folha: nosso papel é de desembrulhar sempre o pão nosso de cada prosa e fazê-la dela vida como se vida fosse. E vida assim é bem melhor. Nasce sempre uma história a cada momento. Como este.
André Ricardo Aguiar