domingo, 13 de março de 2011

ata da reunião, ou reunião da ata

Ata referente ao dia 12 de março de 2011.

Pode-se dizer que um clube é um clube por diversos fatores: ou as pessoas se reunem em determinado lugar ou os lugares, todos, se reunem em determinadas pessoas. Isto significa que o tempo que passamos nos reunindo em torno de uma mesa ou na ausência de uma mesa, de um vazio, é o mesmo tempo que passamos lendo uns aos outros, ou divididos entre o tempo de leitura e o de não-leitura, e que no meio do recheio, digamos, oratório, nos perdemos entre balbucios, hesitações, gaguejos e, o mais importante, de que sabemos o que estamos lendo – mesmo que a natureza do local contradiga. E isto é o Clube do Conto.

Não sei dizer qual é a de Romarta quando chega de mariposa em busca da luz, mas sem conto. Ou quando Norma sai da Norma e escreve seu melhor texto em sábados. Ou quando Beto, embora sabendo que é o clube do Conto, lê o seu Romance – mas diga-se de passagem, muito bem escrito – ou quando Eli, também na onda de Romarta mais ouve que lê, a exemplo de Laudelino, que trocou o conto pela setor de relações públicas do clube, embora negue maquiavelicamente seus contos. Também Raonix, figura e criador de contos em série com pegada imaginativa ou Cartaxo, que é uma penca de muita coisa, até latifundiário de paraíso – e mais um convidado, Joedson, poeta-épico-condoreiro-homérico. Ou, para os irreconhecíveis atrasos, uma Maria Valéria, que só chegou porque chegou por conta dos seus afazeres diplomáticos. O mais é se conformar que o Clube também se faz de ausências, mas mui queridas.

Além da leitura dos contos, poucos, discutimos o planejamento da antologia, coletânea ou outro nome engraçadinho para ser publicado, além da escolha, meio de fininho, do tema: Bruxas. Afora isso, o Clube estabelece novamente o seu domínio na comarca do shopping sul com zelo e cara-de-pau até segundas ordens. No mais é e continua sendo o que sempre foi. Eis a ata.

André Ricardo Aguiar

terça-feira, 8 de março de 2011

Sessão de Contos (8)

Diferente da Sessão da Tarde, um programa quase diário que exibe filmes na televisão, a Sessão de Contos é um "programa" quase semanal do nosso blog, trazendo para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.

Nesta semana, exibiremos um conto de Maria Romarta. Boa leitura!

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AGORA TUDO AZUL!

Agora tudo branco.

Vitória já sabia que cinqüenta por cento dos funcionários da empresa onde trabalhava seriam
demitidos. E esperou desesperadamente não estar na lista dos despejados. Mas veio a frustração. Tentou retornar o mais tarde possível para casa, porém seu corpo implorava pela segurança que só o cheiro de um teto é capaz de exalar.

Agora tudo cinza.

Em frente à TV, virou mariposa ofuscada pela luz. Luz, da qual atrasou o pagamento, pois via na
educação de seus filhos maior importância. Mais três dias, e é à luz de velas o jantar. Depois à luz de vela. Nesta ocasião Vitória tomou a vela para si e ficou brincando com a parafina derretida, não porque achava divertido e sim porque era o melhor jeito de afastar a escuridão. Tentou não olhar nos olhos de seus filhos.

Esperar acontecer o melhor pareceu ser uma saída vantajosa.

Então, finalmente aproveitou para relembrar detalhes, como a roseira do seu quintal, seu gosto de ir à praça com eles durante a manhã, as nuvens bobas encaixadas no céu e o seu chapéu de tecido.

Agora tudo azul!

Maria Romarta