Ata referente ao dia 28 de julho de 2012.
Não queria revelar aos integrantes do clube que os meus motivos para indicar o avestruz como tema são obscuros. Eu o sonhei, este tema, em todas as suas penas, em sua turva estranheza. Por isso, ave boba e grandalhona, o avestruz se justificou sábado passado. No entanto, os dias correram e ninguém se dispôs a relatar qualquer experiência com um avestruz. Não quis relacionar o dia a dia ao estrutionídeo, nem tecer considerações beckettianas sobre a ideia de que um avestruz também podia esperar Godot – ou ser o próprio, na véspera de carnaval. Não, caros senhores visitantes do clube mais longevo na área da contística. Preferimos matar o avestruz antes de fazê-lo correr pelos lisos pisos do Shopping Sul – o que seria um problema para a direção, para os consumidores, para a fila do banco. Não se põe um avestruz impunemente da imaginação torpe de um dos integrantes para a realidade – também caótica, vá lá, das terras tabajaras. Da pena para o papel não houve sequer uma continuidade. Os contistas, poucos, preferiram evitar o assunto e ficar no mero cafezinho com algum resquício de partida de xadrez. Norma, Regina e Gabryelle sugeriram o tema da ausência. Meu debelado avestruz recolheu-se em penas e enfiou o bico num silêncio atado. Oremos.
André Ricardo Aguiar