terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Contar o Clube


Confraternização do Clube do Conto - 2011

Um, dois, três contistas... e vão chegando, e o número aumenta. Na lógica estranha, como numa espécie de bolsa de valores, o gráfico tem seus altos e baixos. O Clube do Conto tem uma marca conquistada que, por força desta arte, subiu e em um imaginário ponto ou parede, deixou uma placa com a inscrição “seja bem-vindo” em letras garrafais. E deu certo. Uma espiada básica em sua história mostra esta tendência de acolher o peregrino com histórias – e muita camaradagem. Com mais um olhar apurado, nossas queridas figuras, eternos amigos, acima dos parágrafos da vida, deixam o tom geral de nossas reuniões. O Clube é um conceito sem definição, com existência quase autônoma e com uma tendência para seguir em frente nas maiores dificuldades. Nas melhores também, porque sempre se tira uma lição. As histórias nos contarão. As histórias, feitas de improviso, em chave de oficina, tocam-se como os jazzistas que em jam sessions, descobrem este ou aquele improviso, estendem notas, criam atalhos. E sabem dar um som legal.

Com o tempo, conquistamos respeito. Bem ou mal, com revistas que cabem no bolso, com atas que exploram a diversidade de estilos, com uma antologia, com apresentações, lançamentos e o orgulho de estar sempre citado aqui e lá fora. Uma idéia que vingou e singrou por sete anos em sete mares, sete ressacas, sete marés. O Clube tem a marca da importância da leitura, do quanto somos bobos ou sérios e vivos e filhos pródigos. Colecionou mais tranquilidade do que vaidades bobas. Mostrou ser possível não perder a linha, não perder a liga, não perder o humor. Como uma boneca russa, onde se abre uma tampa aparece outra e mais outra. Mesmo não parecendo dar em nada, mesmo em momentos que, no nomadismo, finja perecer, o Clube é o exemplo de que contar uma boa história pode ser um programão de índio, cowboy, bandido, mocinha. 

As histórias, contos, relatos, depoimentos, atas nos fizeram melhores. Fomos resgatados das torres individuais para a clareira coletiva onde tudo pode acontecer, mas acontece em função de algo vivo, um universo que sempre é móvel e intercambiável, um pântano seco para exploradores, uma plataforma, um jardim babilônico com camadas, um oásis com ralo. Fizemos nossa história tão menos preocupados em legislação – que nunca houve – e em hierarquia que, maravilha, fomos a honrosa exceção e a notícia mais discreta fora dos salões municipais. Um grupo coeso porque não se sentiu forrado de etiquetas nem enfardados em sarau constante. Um grupo mais cozinha mineira do que hall de entrada de edifício chique. Um grupo que hoje, sete anos e mais alguma coisa, tem também lá suas vidas de gato.  Puxamos as histórias para perto da fogueira. E nos aquecemos com elas, mesmo em noites não tão frias de sábado.

Contos com temas, votações ao léu, conversas paralelas, narrações perfeitas e outras aos pulos, mas sempre com o espírito da amizade, e com uma paisagem diferente a cada reunião: tímidos com extravagantes, apressados com zen-contistas, fantasmas com exorcistas, calejados com os mãos-delicadas, aprendizes e mestres. Subimos escadas, adentramos recintos, sentamos no batente, ficamos em pé, bebericamos, conversamos, invadimos a praia, deixamos pegadas. O Clube é como uma boa história nem muito linear, nem muito experimental. É tal e qual do tamanho de uma folha: nosso papel é de desembrulhar sempre o pão nosso de cada prosa e fazê-la dela vida como se vida fosse. E vida assim é bem melhor. Nasce sempre uma história a cada momento. Como este.

André Ricardo Aguiar

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O julgamento atado

Ata referente ao dia 3 de dezembro de 2011.

18h45, Shopping Sul, Bancários, João Pessoa, Paraíba, Brasil, reunião do Clube do Conto. Os(as) contoclubistas vão chegando um(a) a um(a). Observo que não trazem contos, que não buscam cadeiras. Ou tenho informações erradas em meu banco de dados, ou estes aí são impostores! Aproximar para averiguar. Positivo! São contoclubistas sim, conseguiram tinta e papel, planejam fazer uma ata!

Vou gravar a conversa deles.

[André Ricardo Aguiar / Alto, bastante alto]

"Uma ata histórica pode ser feita sem histórias. Ou, como diria o aficcionado por estatísticas, houve mais papo por metro quadrado do que histórias por metro redondo. Integraram a fatídica data: Maria Romarta, André Aguiar, Laudelino Menezes, Carlo Cartaxo e Sergio Janma."

[Carlos Cartaxo / Sem Chapéu]

"Momento marcante porque sequer houve cadeira para sentar, muito menos conto para contar (ou ler)."

[Laudelino Menezes / Carnívoro]

"Entrou pela perna de pinto, saiu pela perna do pato, quem quiser que conte quatro!"

[Maria Romarta / Habilidade especial: atender o celular ao primeiro toque]

"Estranho!"

[Sérgio Janma / Não tem medo de agulha]

"Tem um filme antigo intitulado Matou a família e foi ao cinema, em tempos atuais o filme se chamaria Doou sangue e foi ao Clube do Conto, estrelando Sérgio Janma."

[Laudelino Menezes. Carnívoro.]

"Perdeu-se a caneta, a qual foi recuperada por um bom samaritano!"

[André Ricardo Aguiar / Alto, bastante alto]

"Tô com fome! Eu quero açaí na tigela!"

[Autor de frase não identificado]

"Como o tema 'vinho', deu azar... Que tal se o tema da próxima semana for 'cachaça'? Sim? Tudo certo, é cachaça."

Estão indo embora! Também vou. Eles são bonzinhos!

Hasta la vista, Baby!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Norma Alves - Sessão de Contos (13)

A Sessão de Contos é um "programa" do nosso blog que exibe para todos os internautas um dos contos lidos nas reuniões de sábado do Clube.

Nesta semana, exibiremos um conto inédito 
de Norma Alves. Boa leitura!

* * *

VAMPIRO  EM  CRISE

Que desespero! Sair do túmulo gemendo, procurando sangue e nada. 

Cadê os dentes? Será que existe dentadura pra  vampiro? Como ser respeitado sendo banguelo! O jeito é incomodar com uivos, assim todos ficariam acordados . É isso aí. Antes do sangue dos defuntos virar goiabada, o povo começou a drená-lo.  Eram tantas mamadeiras nas madrugadas! Mas a coisa começou a ficar feia. Não estava  dando pra matar a  sede. Notei os olhares dos vivos, preocupados.  As mulheres menstruadas corriam como o diabo da cruz; os homens em crise de hemorroidas sentavam-se, na tentativa de enganar o olfato.

Ei, você aí! Tá rindo de quê?   Tá pensando que é mentira minha? Tomara que você caia de uma janela de dois metros de altura e ainda morra em pé!  Vampiro brasileiro, banguelo sem plano de saúde e de morte. Blah!

Conto inspirado no personagem Bento Carneiro de Chico Anysio.