Eclipse visto por Joana
O eclipse do Rona foi uma transmutação de cara, de ana de lua, que de repente entrou em eclipse total. Pepita virou uma cidadezinha de cabeça para baixo por causa de um eclipse, a ponto de transformar um padre num boi cagão. Cláudio, no seu melhor estilo bem humorado, colocou um achado valioso nas mãos de uma família endividada, mas, quando o homem abriu a caixa do tesouro, era somente clips.
O moço de Porto alegre, Mainiele? enviou sua história de jornalista que vai cobrir um eclipse mas acaba entrando em situação de cópula com o seu fotógrafo. Valéria também veio provida com uma caixinha machetada, um armário e o escuro para o amor e o desamor. O meu eclipse foi para homenagear Belo, meu irmão, que acabou finalmente seu doutorado na UFCG. Raoni trouxe a eterna briga do irmão mais velho, que conseguiu eclipsar o mais moço, na hora de verem o eclipse.
Ainda pegamos nossa quota de livros livres, foi muito bom!
Joana Belarmino
Eclipse visto por André
Eu prometi que faria a ata, mas acho que será a ata mais irresponsável dos últimos tempos. Baseada numa vaga lembrança.
Os eclipes foram a contento. Contos que foram observados a olho nu, sem interferências de nuvens.
Estiveram presentes muitos como Dora, Barreto, João, Mariano, Joana e Belo e a menina que esqueci o nome, Pepita e Valéria, Cláudio e Raoni. E me bate agora uma dúvida.. alguém mais? Algum fantasma?
Decidimos pelo tema Autógrafo.
E estamos fechados com a programação para o dia 9/11 na Biblioteca, com contos sobre biblioteca.
E foram distribuídos livros para o projeto Livro Livre.
Algo mais?
Quem quiser que conte - e corrija - outra (ata).
André
Obs.: A menina de nome esquecido é a filha de Joana, Mariana.
quarta-feira, 25 de outubro de 2006
Ata do Barulho (14 de outubro)
Teve muito barulho no sábado passado (dia 14 de outubro), compareceram, eu, Ronaldo, Barreto, Valéria, Dôra, Pepita, André, João, Alexandre e sua mãe, Cláudio, Raoni, mais uma mulher (que não lembro o nome), Waldir e não sei se esqueci alguém, foram muitas pessoas. André, Valéria, Ronaldo, João, Cláudio, Waldir e Pepita (não necessáriamente nesta órdem) fizeram muita zuada com seus contos; Dôra e Ronaldo pediram silêncio porque adentraram no tema biblioteca; eu refleti e finalizei as leituras com o tema espelho. Tiramos um tempinho para discutirmos a respeito do projeto livro livre e sobre um futuro conto com o tema hepatite. No final, ficou decidido que o próximo tema será ECLIPSE, lunar ou solar, tanto faz.
Observação enviada por André: A mulher em questão é uma entusiasta do Clube, chamada Anne Catão.
Observação enviada por André: A mulher em questão é uma entusiasta do Clube, chamada Anne Catão.
quarta-feira, 11 de outubro de 2006
Autores do Clube do Conto: Ronaldo Monte 4
Clube do Conto
A oficina no porão
Sérgio Castro Pinto
Desde há muito existe uma espécie de discriminação com o Regionalismo. E eu não tenho dúvidas: é mais uma estratégia de parte da crítica preconceituosa do sudeste para desqualificar um movimento que foi quem melhor respondeu aos anseios de se responder ao Brasil a partir do Brasil. Quem, depois de 1930, superou, em termos de qualidade, a ficção brasileira de 1930? Guimarães Rosa? Mas, o próprio Rosa se abeberou, e muito, do regionalismo. No entanto, para muitos, o Regionalismo acabou. Acabou coisa nenhuma! Nenhum assunto se esgota, a não ser que não se tenha engenho e arte para se inovar, através do estilo, avesso a clichês, jargões e chavões.. E chego ao que eu quero: Ronaldo Monte. É regionalista? É. Mas de um regionalismo da alma que, ao fim e ao cabo, termina em se transformar universal.
Existe uma história de Jung segundo a qual o homem tem medo do porão. E realmente tem, pois, afinal de contas, o porão é subterrâneo, é a ausência do sol, é um mundo impregnado de sombras, de objetos imprestáveis, heteróclitos, desencontrados, faltos de tudo e de todos.
Daí, ainda segundo Jung, o homem preferir o sótão em função do seu medo, pois o sótão é o consciente, o mundo claro, solar, onde tudo é bem visível, previsível e definido.E tanto é assim que o próprio Jung arremata: "A consciência se comporta então como um homem que, ouvindo um barulho suspeito no porão, se precipita para o sótão para constatar que aí não há ladrões e que, por conseqüência, o barulho era pura imaginação. Na realidade esse homem prudente não ousou aventurar-se ao porão".
Em outras palavras, no sótão - reduto do consciente - o homem não só racionaliza os seus medos como cria mecanismos de defesa para melhor combater os seus fantasmas, fobias, neuroses e angústias, ao passo que no porão - reduto do inconsciente - a "racionalização é menos rápida e menos clara".
Ronaldo Monte montou a sua oficina de escrever no porão. E, como bom e ousado psicanalista que é, escreveu a partir daí o excelente "Memória do fogo" (Editora Objetiva Ltda, Rio de Janeiro, 2006), cujos personagens, "Precocemente fracassados, perdidos em algum ponto do Nordeste Brasileiro - conforme bem o diz Rosa Amanda Strausz -, perderam-se também do fio que conduz à vida. Em volta do fogo, partilham apenas da cachaça, água que queima". Os estranhíssimos viventes de Ronaldo são sombras que só ardem e "brilham" ao pé das fogueiras acesas. E embora de carne e osso, parecem fantasmas saídos de um livro-porão: este "Memória do fogo", um dos grandes lançamentos do ano de 2006.
Jornal O Norte, 5 de outubro de 2006.
A oficina no porão
Sérgio Castro Pinto
Desde há muito existe uma espécie de discriminação com o Regionalismo. E eu não tenho dúvidas: é mais uma estratégia de parte da crítica preconceituosa do sudeste para desqualificar um movimento que foi quem melhor respondeu aos anseios de se responder ao Brasil a partir do Brasil. Quem, depois de 1930, superou, em termos de qualidade, a ficção brasileira de 1930? Guimarães Rosa? Mas, o próprio Rosa se abeberou, e muito, do regionalismo. No entanto, para muitos, o Regionalismo acabou. Acabou coisa nenhuma! Nenhum assunto se esgota, a não ser que não se tenha engenho e arte para se inovar, através do estilo, avesso a clichês, jargões e chavões.. E chego ao que eu quero: Ronaldo Monte. É regionalista? É. Mas de um regionalismo da alma que, ao fim e ao cabo, termina em se transformar universal.
Existe uma história de Jung segundo a qual o homem tem medo do porão. E realmente tem, pois, afinal de contas, o porão é subterrâneo, é a ausência do sol, é um mundo impregnado de sombras, de objetos imprestáveis, heteróclitos, desencontrados, faltos de tudo e de todos.
Daí, ainda segundo Jung, o homem preferir o sótão em função do seu medo, pois o sótão é o consciente, o mundo claro, solar, onde tudo é bem visível, previsível e definido.E tanto é assim que o próprio Jung arremata: "A consciência se comporta então como um homem que, ouvindo um barulho suspeito no porão, se precipita para o sótão para constatar que aí não há ladrões e que, por conseqüência, o barulho era pura imaginação. Na realidade esse homem prudente não ousou aventurar-se ao porão".
Em outras palavras, no sótão - reduto do consciente - o homem não só racionaliza os seus medos como cria mecanismos de defesa para melhor combater os seus fantasmas, fobias, neuroses e angústias, ao passo que no porão - reduto do inconsciente - a "racionalização é menos rápida e menos clara".
Ronaldo Monte montou a sua oficina de escrever no porão. E, como bom e ousado psicanalista que é, escreveu a partir daí o excelente "Memória do fogo" (Editora Objetiva Ltda, Rio de Janeiro, 2006), cujos personagens, "Precocemente fracassados, perdidos em algum ponto do Nordeste Brasileiro - conforme bem o diz Rosa Amanda Strausz -, perderam-se também do fio que conduz à vida. Em volta do fogo, partilham apenas da cachaça, água que queima". Os estranhíssimos viventes de Ronaldo são sombras que só ardem e "brilham" ao pé das fogueiras acesas. E embora de carne e osso, parecem fantasmas saídos de um livro-porão: este "Memória do fogo", um dos grandes lançamentos do ano de 2006.
Jornal O Norte, 5 de outubro de 2006.
Como se faz o Clube do Conto
Clube do Conto
Muita gente anda perguntando como é que se faz esse Clube do Conto? decidimos recolocar aqui uma (das)história (s) do Clube... avisando, porém, que a versão contada por cada um dos membros do Clube será certamente bem diferente das outras... assim é o Clube do Conto da Paraíba.
A HISTÓRIA DO CLUBE DO CONTO DA PARAÍBA
Segundo DORA LIMEIRA:
PRIMEIRO CAPÍTULO:
Tudo começou quando o poeta Antônio Mariano criou a lista de contistas na internet e nos convidou para participar. Na lista, conversa vai, conversa vem, MValéria Rezende dizia que mora atrás do shopping sul. Ainda através da lista, eu dizia que moro bem pertinho, que às tardinhas eu costumo tomar cafezinho no shopping. Daí que Valéria dizia: "Ah, Dôra, quem sabe tomamos cafezinho toda tardinha sempre em mesas vizinhas sem nos conhecer!" Através da lista, marcamos encontro, eu e ela naquele mesmo dia, à tardinha, para nos conhecer. Essa foi a primeira idéia nova: extrapolar o virtual para um encontro presencial. Daí que, olho no olho, conversamos muito, tomamos muito cafezinho, muito chocolate, compartilhamos coisas que escrevemos, nossos métodos ou modos de criar, facilidades, dificuldades, a solidão do ato de escrever, a falta de partilhamento, e por aí vai. Daí trocamos a seguinte idéia: E se?...
SEGUNDO CAPÍTULO - E se?
E se pudéssemos reunir o pessoal da lista para umas conversas informais nos finais de tarde dos sábados? Os encontros poderiam acontecer ao redor de uma mesa do Cafézinho. Dito e feito. Primeiro veio Mariano, depois André Ricardo Aguiar, eu, Valéria, depois chegou Dira Vieira. Eu ainda nem conhecia Dira pessoalmente. Foi uma festa. Trazíamos nas bolsas nossos contos inéditos. Marília Carneiro Arnaud também chegou. Líamos nossas histórias, nos comentávamos. Os assuntos e os contos eram aleatórios. Mais pessoas iam chegando. Barreto (Geraldo Maciel), por exemplo. A cada sábado, mais gente. Juntávamos duas mesas do cafezinho. Era uma coisa muito apertada, um pouco tumultuado devido à promiscuidade com os passantes e alguns ficantes curiosos. Muito barulho no hall do shopping, ora era dia da criança, ora era desfile de modas infantis, ora era música ao vivo lá em cima, ou baile de deficientes físicos da APAE, enfim, um barulho infernal. Pensamos em mudar de lugar. Eis outra idéia nova: mudar de lugar. E se?
TERCEIRO CAPÍTULO
Pensamos levar os encontros para a livraria de Assis, naquelas mesas de vidro redondas que existem lá dentro da livraria. Quem sabe teríamos um pequeno público para escutar nossos contos, os frequentadores da livraria. Mariano e Valéria chegaram a falar com Assis. E mais gente ia chegando. Foi nos encontros aos sábados que conheci pessoalmente Pepita, uma das "quatro luas". Depois Zezé Limeira também se juntou ao grupo. Zezé Limeira também é uma das quatro luas, juntamente com Pepita (Mercedes Cavalcanti), Valéria e Marília. Até Lau Siqueira apareceu por lá. Foi uma festa. André com suas menininhas passantes sempre vinha com uma enorme bolsa, de onde sempre retirava alguma novidade: um jornal, uma revista, um livro ou mesmo um correio das artes. Era sempre um regozijo cada encontro. Num determinado momento, Dira falou que nem sempre poderia estar presente aos encontros, por causa "das teias que a prendiam em casa". Foi o suficiente para surgir outra idéia nova: a idéia dos contos temáticos. O primeiro tema, nem precisaria eu estar dizendo, foi exatamente retirado do mote dado por Dira: "As Teias". Outras idéias surgiriam ao longo da história.
QUARTO CAPÍTULO - Objetos de cena
Depois das teias, que seriam o tema geral de nossa primeira mini publicação, outras idéias surgiriam ao longo da história. A essa altura, Ronaldo de todos os Montes já estava integrado, dando sustança ao grupo. Seu texto sobre as teias foi um poema, ao contrário de todo o mundo que fez conto."Velório" foi outro tema. Todos se esmeraram em torno de defuntos imaginários, viuvas chorosas, amantes disfarçadas, coroas de flores, velas e não faltou uma mosca perturbando o sono eterno dos defuntos, pousando às bordas dos narizes de alguns finados. Para completar o clima, André resolveu acender uma vela no meio da mesa, em pleno cafezinho. Não sabíamos se ríamos com a vela de André ou se chorávamos penalizados com tantas viuvas, órfãos e outros desprezados da sorte.Enquanto isso, as negociações com Almeida prosseguiam acerca de um lugar mais sossegado para os encontros da galera. Onde? Mas, ainda não seria naquele dia que teríamos a definição. Valéria e Mariano se empenhariam mais nesse sentido. O grupo se animava. Aécio é um amigo de Mariano que mais pareceu um meteoro. Apareceu apressado e, com a mesma pressa, sumiu até hoje.Ah, e o próximo tema? Huuummmm... Escatologia! As mentes perversamente iluminadas dos contistas já elaboravam idéias acerca do possível objeto de cena.
QUINTO CAPÍTULO - Um tema difícil
Huuummmm... Escatologia! Que tema imundo. A turma sapateou em cima de catarro, vômito, merda, sangue se derramando, borbulhando, saindo de jugular afora. Eu preferiria não citar nomes, mas não posso deixar de citar Regina, se revelando, já bem integrada ao grupo, falando de sebozeiras, assim desenvolta, sem a menor cerimônia. Se eu não me engano Rona falou de mosca em defunto. O bicho é seboso, quando quer ser. E ainda fala de mim.Mas, vamos ao que interessa: Eu levei o objeto de cena, desfilei com ele de shopping adentro até chegar à mesa do cafezinho, onde já estavam reunidos Barreto, Zezé Limeira, André, acho que Simone Maldonado, Regina Behar, Valéria se eu não me engano. Ah, Dira também estava, e registrou tudo com sua máquina indiscreta. Ronaldo Monte também chegou junto. Me desculpem os que foram esquecidos, sinto muito. Faz parte.O objeto de cena era um imenso penico de alumínio com um bolo inglês dentro (massa pronta). O bolo estava desarrumado, todo troncho, com uma cobertura marrom escura de chocolate, gosmenta, desarranjada. Misturados àquela cobertura gosmenta, havia pedaços de papel higiênico, sujos de chocolate. Parecia que alguém com diarréia braba tinha usado o penico, tinha se limpado e jogado o papel lá dentro. E assim, inspirados nesse cenário, íamos lendo nossos contos. Tinha gente que se contorcia de tanto rir. Como ainda estávamos usando o espaço do cafezinho, os passantes olhavam, detinham-se um pouco e nada entendiam. As paquerinhas de André que passavam por ali devem ter ficado horrorizadas. Vale ressaltar que, à época, Veruska ainda não tinha pintado no pedaço.Ao término das leituras dos contos escatológicos, foi a hora do lanche. Todos comeram da sebozeira que estava dentro do penico. Aliás, uma delícia. Só quem não comeu foi Barreto. "Quero comer essa porcaria, não!!!", dizia ele. Mas, que cabra besta.Parece que foi nesse dia que Assis Almeida nos deu a notícia de que teríamos o espaço por trás da livraria à disposição pros nossos encontros. Cadeiras e mesas estariam disponibilizadas por cortesia da Associação dos Lojistas do shopping. Assim, no sábado seguinte, ocupamos o novo espaço, com faixa fixada na parede e tudo. E se chovesse?Muito obrigada, Laudelino, por ter se manifestado a favor da continuidade dessa história verídica, científica, factual. Com alguns respingos de ficção.
SEXTO E ÚLTIMO CAPÍTULO – Novas gentes, novo espaço, novas idéias.
Acomodados, descortinando o estacionamento externo e as pessoas passantes na rua, dispondo de três mesas, doze ou quinze cadeiras, inauguramos o novo espaço. Por coincidência, esses tempos de mudanças trouxeram João Batista B. de Brito e Carlos Cartaxo ao convívio dos sábados à tardinha. Excelente aquisição. Já no novo espaço, enquanto conversamos, lemos textos e sorrimos, as pessoas na rua nos olham com certa curiosidade, uns achando que estamos em algum cursinho, outros pensam que fazemos estudo bíblico, outros indagam se estamos em reuniao da paz pela paz. Um menino que toma conta dos carros falou para Mariano: “Já vai para a aula, professor?” Um senhor bastante idoso, quando me dirigi ao carro após uma das reuniões, perguntou se qualquer pessoa pode participar “nesse tal de clube do conto”, se existe limite de idade, se é de graça, o que precisa para participar, se precisa se cadastrar. Às vezes as pessoas se intrigam e, querendo saber do que se trata, resolvem se aproximar, sentar e participar, nem que seja meteoricamente. Uma das coisas boas daquele espaço é que fica às margens de um pequeno jardim, a grama muito verde. Do local das reuniões dá para se ver toda a extensão da frente e da lateral da casa de Valéria.Assis da livraria Almeida mandou fazer uma faixa grande e mandou colocar no alto da parede, escrito assim na faixa: “Clube do Conto da Paraíba”. Fábio, do Cafezinho, se dispôs a segurar a infraestrutura de cafezinho, chocolate, água e outras coisas que a gente por ventura venha a precisar.Claro que nem tudo são apenas jardinzinho e grama verde, cafezinho e chocolate, contos e capítulos de romances. É verdade que às vezes passa um trio elétrico em frente ao clube, no meio da rua a gritar fazendo propagandas de lojas, lanchonetes, peças de teatro besteirol, etc. Mas, são coisas passageiras, e fazem parte.Lembro-me de que um dos primeiros temas já no espaço novo foi exatamente “celular”, aproveitando o mote de uma companheira cujo celular não parava de disparar: era a filha. No sábado seguinte, antes de iniciarmos as leituras, decidimos juntar todos os celulares no centro da mesa e deixar que tocassem sem que ninguém atendesse. Seria o objeto de cena para as leituras dos textos. Dira fotografou, por sinal ficou ótima a fotografia daquele monte de celulares amontoados no meio da mesa, uma das melhores fotos. Ainda guardo em meus arquivos.As semanas foram se passando. Um grupo de pessoas mais entusiasmadas sentiu necessidade de maior divulgação do grupo. Daí surgiu a idéia de Barreto de André de editar as “Atas do Clube do Conto”, que deveriam ser espalhadas onde fosse possível espalhar como forma de divulgação de nossos trabalhos. O primeiro número trouxe os textos em torno do tema “Teias”, e gerou comentários no Correio das Artes e uma certa polemica. Tudo bem. Foi bom, porque nos divulgou.Mais gente chegava. Uma onda de jovens começou a invadir. Alexandre, o mais novo, 16 anos, Raonix, 21 anos, Laudelino, 22 anos, e um rapaz que de vez em quando aparece: Eduardo, 20 anos. Gente muito participativa e curiosa, querendo fazer, escrever, aprender. Raonix é excelente chargista, além de contista e pretende fazer as charges de todos os participantes. já fez a minha e a de Mariano, por sinal, muito boas.Agora, há a perspectiva de publicaçao de antologias do Clube do Conto - "Histórias de sábado" -, caso o BNB aprove nosso projeto. E a FUNJOPE de João Pessoa só está esperando que lhe entreguemos a seleção de contos para lançar outra antologia do Clube. Tomara.Assim tem sido a história de uma idéia nova – a concepção do Clube do Conto. Muito simples, esta idéia tem se mostrado charmosa, atraindo gente de várias faixas etárias que interagem, criam, desafiam, aceitam desafios. Sem hierarquia, sem exigências de diplomas nem currículos, sem academicismos ou doutorados, a coisa tende a se renovar.Encerro aqui este meu trabalho. Mas a história não se esgotou. São muitas e muitas as nuances, muitas e muitas as facetas. Admito que exagerei no factual, mas essa era minha proposta.
Dôra Limeira
Muita gente anda perguntando como é que se faz esse Clube do Conto? decidimos recolocar aqui uma (das)história (s) do Clube... avisando, porém, que a versão contada por cada um dos membros do Clube será certamente bem diferente das outras... assim é o Clube do Conto da Paraíba.
A HISTÓRIA DO CLUBE DO CONTO DA PARAÍBA
Segundo DORA LIMEIRA:
PRIMEIRO CAPÍTULO:
Tudo começou quando o poeta Antônio Mariano criou a lista de contistas na internet e nos convidou para participar. Na lista, conversa vai, conversa vem, MValéria Rezende dizia que mora atrás do shopping sul. Ainda através da lista, eu dizia que moro bem pertinho, que às tardinhas eu costumo tomar cafezinho no shopping. Daí que Valéria dizia: "Ah, Dôra, quem sabe tomamos cafezinho toda tardinha sempre em mesas vizinhas sem nos conhecer!" Através da lista, marcamos encontro, eu e ela naquele mesmo dia, à tardinha, para nos conhecer. Essa foi a primeira idéia nova: extrapolar o virtual para um encontro presencial. Daí que, olho no olho, conversamos muito, tomamos muito cafezinho, muito chocolate, compartilhamos coisas que escrevemos, nossos métodos ou modos de criar, facilidades, dificuldades, a solidão do ato de escrever, a falta de partilhamento, e por aí vai. Daí trocamos a seguinte idéia: E se?...
SEGUNDO CAPÍTULO - E se?
E se pudéssemos reunir o pessoal da lista para umas conversas informais nos finais de tarde dos sábados? Os encontros poderiam acontecer ao redor de uma mesa do Cafézinho. Dito e feito. Primeiro veio Mariano, depois André Ricardo Aguiar, eu, Valéria, depois chegou Dira Vieira. Eu ainda nem conhecia Dira pessoalmente. Foi uma festa. Trazíamos nas bolsas nossos contos inéditos. Marília Carneiro Arnaud também chegou. Líamos nossas histórias, nos comentávamos. Os assuntos e os contos eram aleatórios. Mais pessoas iam chegando. Barreto (Geraldo Maciel), por exemplo. A cada sábado, mais gente. Juntávamos duas mesas do cafezinho. Era uma coisa muito apertada, um pouco tumultuado devido à promiscuidade com os passantes e alguns ficantes curiosos. Muito barulho no hall do shopping, ora era dia da criança, ora era desfile de modas infantis, ora era música ao vivo lá em cima, ou baile de deficientes físicos da APAE, enfim, um barulho infernal. Pensamos em mudar de lugar. Eis outra idéia nova: mudar de lugar. E se?
TERCEIRO CAPÍTULO
Pensamos levar os encontros para a livraria de Assis, naquelas mesas de vidro redondas que existem lá dentro da livraria. Quem sabe teríamos um pequeno público para escutar nossos contos, os frequentadores da livraria. Mariano e Valéria chegaram a falar com Assis. E mais gente ia chegando. Foi nos encontros aos sábados que conheci pessoalmente Pepita, uma das "quatro luas". Depois Zezé Limeira também se juntou ao grupo. Zezé Limeira também é uma das quatro luas, juntamente com Pepita (Mercedes Cavalcanti), Valéria e Marília. Até Lau Siqueira apareceu por lá. Foi uma festa. André com suas menininhas passantes sempre vinha com uma enorme bolsa, de onde sempre retirava alguma novidade: um jornal, uma revista, um livro ou mesmo um correio das artes. Era sempre um regozijo cada encontro. Num determinado momento, Dira falou que nem sempre poderia estar presente aos encontros, por causa "das teias que a prendiam em casa". Foi o suficiente para surgir outra idéia nova: a idéia dos contos temáticos. O primeiro tema, nem precisaria eu estar dizendo, foi exatamente retirado do mote dado por Dira: "As Teias". Outras idéias surgiriam ao longo da história.
QUARTO CAPÍTULO - Objetos de cena
Depois das teias, que seriam o tema geral de nossa primeira mini publicação, outras idéias surgiriam ao longo da história. A essa altura, Ronaldo de todos os Montes já estava integrado, dando sustança ao grupo. Seu texto sobre as teias foi um poema, ao contrário de todo o mundo que fez conto."Velório" foi outro tema. Todos se esmeraram em torno de defuntos imaginários, viuvas chorosas, amantes disfarçadas, coroas de flores, velas e não faltou uma mosca perturbando o sono eterno dos defuntos, pousando às bordas dos narizes de alguns finados. Para completar o clima, André resolveu acender uma vela no meio da mesa, em pleno cafezinho. Não sabíamos se ríamos com a vela de André ou se chorávamos penalizados com tantas viuvas, órfãos e outros desprezados da sorte.Enquanto isso, as negociações com Almeida prosseguiam acerca de um lugar mais sossegado para os encontros da galera. Onde? Mas, ainda não seria naquele dia que teríamos a definição. Valéria e Mariano se empenhariam mais nesse sentido. O grupo se animava. Aécio é um amigo de Mariano que mais pareceu um meteoro. Apareceu apressado e, com a mesma pressa, sumiu até hoje.Ah, e o próximo tema? Huuummmm... Escatologia! As mentes perversamente iluminadas dos contistas já elaboravam idéias acerca do possível objeto de cena.
QUINTO CAPÍTULO - Um tema difícil
Huuummmm... Escatologia! Que tema imundo. A turma sapateou em cima de catarro, vômito, merda, sangue se derramando, borbulhando, saindo de jugular afora. Eu preferiria não citar nomes, mas não posso deixar de citar Regina, se revelando, já bem integrada ao grupo, falando de sebozeiras, assim desenvolta, sem a menor cerimônia. Se eu não me engano Rona falou de mosca em defunto. O bicho é seboso, quando quer ser. E ainda fala de mim.Mas, vamos ao que interessa: Eu levei o objeto de cena, desfilei com ele de shopping adentro até chegar à mesa do cafezinho, onde já estavam reunidos Barreto, Zezé Limeira, André, acho que Simone Maldonado, Regina Behar, Valéria se eu não me engano. Ah, Dira também estava, e registrou tudo com sua máquina indiscreta. Ronaldo Monte também chegou junto. Me desculpem os que foram esquecidos, sinto muito. Faz parte.O objeto de cena era um imenso penico de alumínio com um bolo inglês dentro (massa pronta). O bolo estava desarrumado, todo troncho, com uma cobertura marrom escura de chocolate, gosmenta, desarranjada. Misturados àquela cobertura gosmenta, havia pedaços de papel higiênico, sujos de chocolate. Parecia que alguém com diarréia braba tinha usado o penico, tinha se limpado e jogado o papel lá dentro. E assim, inspirados nesse cenário, íamos lendo nossos contos. Tinha gente que se contorcia de tanto rir. Como ainda estávamos usando o espaço do cafezinho, os passantes olhavam, detinham-se um pouco e nada entendiam. As paquerinhas de André que passavam por ali devem ter ficado horrorizadas. Vale ressaltar que, à época, Veruska ainda não tinha pintado no pedaço.Ao término das leituras dos contos escatológicos, foi a hora do lanche. Todos comeram da sebozeira que estava dentro do penico. Aliás, uma delícia. Só quem não comeu foi Barreto. "Quero comer essa porcaria, não!!!", dizia ele. Mas, que cabra besta.Parece que foi nesse dia que Assis Almeida nos deu a notícia de que teríamos o espaço por trás da livraria à disposição pros nossos encontros. Cadeiras e mesas estariam disponibilizadas por cortesia da Associação dos Lojistas do shopping. Assim, no sábado seguinte, ocupamos o novo espaço, com faixa fixada na parede e tudo. E se chovesse?Muito obrigada, Laudelino, por ter se manifestado a favor da continuidade dessa história verídica, científica, factual. Com alguns respingos de ficção.
SEXTO E ÚLTIMO CAPÍTULO – Novas gentes, novo espaço, novas idéias.
Acomodados, descortinando o estacionamento externo e as pessoas passantes na rua, dispondo de três mesas, doze ou quinze cadeiras, inauguramos o novo espaço. Por coincidência, esses tempos de mudanças trouxeram João Batista B. de Brito e Carlos Cartaxo ao convívio dos sábados à tardinha. Excelente aquisição. Já no novo espaço, enquanto conversamos, lemos textos e sorrimos, as pessoas na rua nos olham com certa curiosidade, uns achando que estamos em algum cursinho, outros pensam que fazemos estudo bíblico, outros indagam se estamos em reuniao da paz pela paz. Um menino que toma conta dos carros falou para Mariano: “Já vai para a aula, professor?” Um senhor bastante idoso, quando me dirigi ao carro após uma das reuniões, perguntou se qualquer pessoa pode participar “nesse tal de clube do conto”, se existe limite de idade, se é de graça, o que precisa para participar, se precisa se cadastrar. Às vezes as pessoas se intrigam e, querendo saber do que se trata, resolvem se aproximar, sentar e participar, nem que seja meteoricamente. Uma das coisas boas daquele espaço é que fica às margens de um pequeno jardim, a grama muito verde. Do local das reuniões dá para se ver toda a extensão da frente e da lateral da casa de Valéria.Assis da livraria Almeida mandou fazer uma faixa grande e mandou colocar no alto da parede, escrito assim na faixa: “Clube do Conto da Paraíba”. Fábio, do Cafezinho, se dispôs a segurar a infraestrutura de cafezinho, chocolate, água e outras coisas que a gente por ventura venha a precisar.Claro que nem tudo são apenas jardinzinho e grama verde, cafezinho e chocolate, contos e capítulos de romances. É verdade que às vezes passa um trio elétrico em frente ao clube, no meio da rua a gritar fazendo propagandas de lojas, lanchonetes, peças de teatro besteirol, etc. Mas, são coisas passageiras, e fazem parte.Lembro-me de que um dos primeiros temas já no espaço novo foi exatamente “celular”, aproveitando o mote de uma companheira cujo celular não parava de disparar: era a filha. No sábado seguinte, antes de iniciarmos as leituras, decidimos juntar todos os celulares no centro da mesa e deixar que tocassem sem que ninguém atendesse. Seria o objeto de cena para as leituras dos textos. Dira fotografou, por sinal ficou ótima a fotografia daquele monte de celulares amontoados no meio da mesa, uma das melhores fotos. Ainda guardo em meus arquivos.As semanas foram se passando. Um grupo de pessoas mais entusiasmadas sentiu necessidade de maior divulgação do grupo. Daí surgiu a idéia de Barreto de André de editar as “Atas do Clube do Conto”, que deveriam ser espalhadas onde fosse possível espalhar como forma de divulgação de nossos trabalhos. O primeiro número trouxe os textos em torno do tema “Teias”, e gerou comentários no Correio das Artes e uma certa polemica. Tudo bem. Foi bom, porque nos divulgou.Mais gente chegava. Uma onda de jovens começou a invadir. Alexandre, o mais novo, 16 anos, Raonix, 21 anos, Laudelino, 22 anos, e um rapaz que de vez em quando aparece: Eduardo, 20 anos. Gente muito participativa e curiosa, querendo fazer, escrever, aprender. Raonix é excelente chargista, além de contista e pretende fazer as charges de todos os participantes. já fez a minha e a de Mariano, por sinal, muito boas.Agora, há a perspectiva de publicaçao de antologias do Clube do Conto - "Histórias de sábado" -, caso o BNB aprove nosso projeto. E a FUNJOPE de João Pessoa só está esperando que lhe entreguemos a seleção de contos para lançar outra antologia do Clube. Tomara.Assim tem sido a história de uma idéia nova – a concepção do Clube do Conto. Muito simples, esta idéia tem se mostrado charmosa, atraindo gente de várias faixas etárias que interagem, criam, desafiam, aceitam desafios. Sem hierarquia, sem exigências de diplomas nem currículos, sem academicismos ou doutorados, a coisa tende a se renovar.Encerro aqui este meu trabalho. Mas a história não se esgotou. São muitas e muitas as nuances, muitas e muitas as facetas. Admito que exagerei no factual, mas essa era minha proposta.
Dôra Limeira
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