quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Maria Romarta (Cartum + Conto)

MARIA ROMARTA nasceu em 09 de Março de 1991, em Santana do Ipanema, cidade do Sertão de Alagoas. Começou a escrever e a compor aos nove anos. Há algum tempo veio morar na Cidade de João pessoa. Faz teatro, é aluna de Comunicação Social - Jornalismo da UFPB e membro do Clube do Conto da Paraíba.

***

QUANDO AS PALAVRAS SOMEM

Quando avistei a porta, olhei por segundos aquele número: 513. Pensei em escapar, descer apressadamente as escadas até que a distância pudesse me consumir, mas, meu coração adiantou-se e fez com que meus pés me pusessem praticamente colado à porta. Senti o cheiro do verniz.

Eu não fugi, não podia, mas também não tive coragem de tocar aquela campainha, me sentia envergonhado, por quê? Eu estava ali não estava? Havia me reorganizado para cumprir com o que devia, não havia?

Bati. A mãe de Thaís atendeu, pediu que eu entrasse, pôs para mim um chá e falou que ele estava dormindo.

- Quer vê-lo? - Perguntou-me.

- Não. Eu quero vê-lo sim, mas agora não, o deixe dormir, depois...

- Tudo bem!

- Daqui a pouco... Sabe?

-Veja bem, como era desejo de Thaís, que o menino te conhecesse e que fosse morar com você, darei também meu consentimento. Mas caso não fosse isto, ele ficaria comigo, só comigo. Então...

- O que ela disse mais?

-Como eu ia dizendo... O menino inicialmente passa o final de semana com você e a semana comigo, até que se acostume com você, se por acaso acostumar. Depois a situação se inverte então ele passa a...

Juro que me senti mal com toda aquela conversa, queria chorar, deixar cair aquela xícara no chão, não por causa do menino, a questão era que eu estava deslocado, me sentia um estranho no mundo, um sem nenhum valor, um tanto faz. Eu queria fazê-la parar de falar, então disse:

- Eu sei, entendi.

E ela calou-se, e se pôs a fitar o chão. Notei que ela lacrimejava. E a entendi, aquele menino era para ela, uma extensão de Thaís e ela não queria perder Thaís pela segunda vez. Mas, e perderia?

Logo, o silêncio feito por nós mostrou-me as fotos de Thaís espalhadas pela sala em porta retratos. Ela estava feliz e linda. Olhando-as, meu mal estar sumiu, mas foi também olhando para elas que tornei a pensar naquilo que me tirava o sono há dias: Por que ela quis me entregar o menino? Para provar que sou orgulhoso? Fazer-me lembrar que eu os abandonei? Ou isto era uma prova de amor e ela sabia que eu seria um ótimo pai? Ora! Thaís, não foi você que pediu para eu ir?

- O que ela disse mais?

- De você? Mais nada.

-Ela falava que não, mas guardava mágoas de mim.

-(...)

- Não era?

- Achava um covarde, infantil!

-Tinha razão...

- Não. Eu que te achava um moleque covarde, cheguei a jurar que você não vinha. Eu vou chamar o garoto, afinal, vocês têm um voo para pegar, não é?

-É sim...

- Ah! Mas olhe ele aí.

O quê? Como assim? Naquele instante meu coração subiu até a garganta!

- Esse moço aí é seu pai. Lembra? Aquele que sua mãe mostrava pela cam.

Ele então veio me abraçar e eu aceitei todo desajeitado e, de emoção, chorei, mansinho, para não assustá-lo. E nem quis imaginar quantas palavras severas ele me diria se soubesse me julgar. E nem quis explicar nada, pois já não havia palavras. E eis a primeira coisa que aprendi dele: Quando as palavras somem, se transformam em abraço.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, Romarta. Mas... essa caricatura não seria de Regina Behar?
Dôra Limeira

RoMaRta disse...

Oi Dora, é minha, mas eu também sempre achei parecida...acho que por causa dos cabelos cacheados...

Romarta