REGINA LOPES MACIEL é mineira, tem 51 anos, formada em medicina, mas há muito tempo fez a opção por exercer diversas atividades artísticas: canto, teatro, escrita, paisagismo, desenho e bordado. Escreve desde 1999 e atualmente mora em João Pessoa, onde faz parte do Clube do Conto da Paraíba.
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CAMINHO
Já era tempo de subir o rio. Eu estava madura, no entanto, inexperiente: era a minha primeira vez. Despedi-me dos mais jovens e juntei-me ao grupo adulto feminino, com o qual aprenderia todos os rituais da viagem.
Durante os preparativos, tudo era festa e ríamos à toa: os salpicos da chuva nos provocavam cócegas, os pequenos girinos, que faziam a corte aos nossos pés, pareciam zonzos e desorientados, os seixos massageavam nossos corpos e nós nos deleitávamos com aquelas sensações. O grupo masculino olhava de longe, pensavam que ríamos deles e, um pouco emburrados - acho até que enciumados com nossa alegria - faziam as provisões necessárias.
Em janeiro, o rio estava suficientemente cheio para a partida e todos nós, prontos para a viagem.
No início da jornada ainda se pode conversar, trocar ideias, falar dos planos e sonhos futuros. Mas aos poucos, toda a energia precisa ser economizada e toda a atenção dirigida ao rumo a ser tomado. A resistência da água é forte, o percurso extenuante e há uma imensidão que não se sabe onde vai dar. Surgem imprevistos como barragens enormes a serem transpostas e trechos extremamente poluídos. Vez ou outra alguém desaparece do campo de visão e não há como saber se foi pego por alguma correnteza mais forte, se achou uma passagem de mais fácil acesso, se desistiu e voltou atrás ou, até mesmo, se morreu.
Por fim, chegamos à nascente do rio e ali fizemos o que tínhamos que fazer: desovamos.
Hoje, que refiz este percurso diversas vezes, ainda não posso compreender porque a placa, afixada na primeira curva do rio, alerta-nos para não se nadar contra a correnteza. Nadamos sempre contra a correnteza, e este é o nosso caminho.
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