LAUDELINO MENEZES é contoclubista, recifense e pessoense, torcedor do Sport e professor de matemática. Vez ou outra faz um conto e pensa em escrever um romance. Já publicou uns quadrinhos na revista Subversos, participou da antologia do Clube do Conto e produziu um zine extinto chamado Histórias pra boi dormir.
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DÚVIDA
Levantou-se, aproveitou o fogo do isqueiro e acendeu um cigarro, fumou perambulando pelo quarto. Lembrou-se do dia em que o marido a traiu. Tudo bem, estavam quites, também o traiu. Mas, sentiu na pele como era ser traída e não gostou, em breve o divorcio chegaria, os advogados estavam preparando os papeis. Terminou o cigarro, não queria queimar outro, pensava em queimar a casa, um ritual de passagem para apagar todos os momentos conjugais. Pegou uma garrafa vazia que estava no chão e, a pé, dirigiu-se ao posto de gasolina mais próximo. - Moço, completa! - Acabou a gasolina do carro, dona? - Não, vou tocar fogo na casa mesmo. - Tem seguro? - Tenho sim. - E se descobrem que o incêndio foi intencional? - Tanto faz, isso é apenas um conto escrito por Laudelino Menezes intitulado Dúvida. - E se não for um conto, for a vida real, como é que fica? Um silêncio interrompeu o diálogo. Pegou os dois litros de gasolina, pagou o frentista e voltou para casa murmurando consigo mesma. - E se o frentista estiver certo e isto não for um conto? Onde irei morar com a casa reduzida a cinzas? Que se dane, vou apenas tocar fogo no colchão. Chegando no quarto, despejou os dois litros de gasolina no colchão, jogou a garrafa no chão e acendeu o isqueiro. De joelhos, na iminência de atear fogo no colchão, viu a imagem do marido no lado oposto da cama com um sorriso estampado no rosto. Fechou os olhos, sacudiu a cabeça e, quando olhou novamente para o lado oposto da cama, nada, foi aí que ficou em dúvida. Levantou-se, aproveitou o fogo do isqueiro e acendeu um cigarro, fumou perambulando pelo quarto. Lembrou-se do dia em que o marido a traiu. Tudo bem, estavam quites, também o traiu. Mas, sentiu na pele como era ser traída e não gostou, em breve o divorcio chegaria, os advogados estavam preparando os papeis. Terminou o cigarro, não queria queimar outro, pensava em queimar a casa, um ritual de passagem para apagar todos os momentos conjugais. Pegou uma garrafa vazia que estava no chão e, a pé, dirigiu-se ao posto de gasolina mais próximo. - Moço, completa! - De novo, dona? - De novo o quê? - Já é a segunda vez que você vem aqui. - Não é não, é a primeira. - Você vai me dizer que vai tocar fogo no casa e que isso é apenas um conto. - Pois é, tava pensando nisso mesmo. - E se não for um conto, for a vida real, como é que fica? Um silêncio interrompeu o diálogo. Pegou os dois litros de gasolina, pagou o frentista e voltou para casa murmurando consigo mesma. - E se o frentista estiver certo e isto não for um conto? E se eu estiver ficando doida, repetindo meus atos inumeras vezes sem perceber? Que se dane, vou apenas tocar fogo no colchão. Chegando no quarto, despejou os dois litros de gasolina no colchão, jogou a garrafa no chão, acendeu o isqueiro. De joelhos, na iminência de atear fogo no colchão, viu a imagem do marido no lado oposto da cama com um sorriso estampado no rosto. Fechou os olhos, sacudiu a cabeça e, quando olhou novamente para o lado oposto da cama, nada, foi aí que ficou pensativa.
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