quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Joana Belarmino (Cartum + Conto)

JOANA BELARMINO é paraibana, jornalista, professora do curso de comunicação da UFPB e doutora em comunicação e Semiótica. Membro ativo do clube do conto, já publicou livros de literatura infantojuvenil: "O Patinho Criança" (1979); "Dartanham, Um Gato com gosto de Pinto" (Editora Moderna, 1983-1988); "Era Uma Vez uma Vírgula" (Editora Idéia, 1997). Mantém o blog barrados no braille, no endereço www.joanabelarmino.zip.net.

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ASSALTO A MÃO ARMADA

Eu nunca havia experimentado essa sensação, de ter uma arma pressionando minha testa. Como se esse aperto surrupiasse de mim um monte de lembranças, e me apetrechasse com uma única pergunta: Aonde começa a vida? Pisei no seu pé? Desculpe. Antes de tudo, até a gente chegar lá, deixe eu lhe contar a história de onde começou minha vida. Não. Não foi propriamente minha vida que começou ali, mas, ali começou uma rota provável que gerou todos os acontecimentos que culminaram com ela. Você sabe, agora que penso nisso, me dou conta de que faz muito tempo  que esse pensamento anda agarrado comigo, como um alicate, como  o cano dessa arma, agora firmado na minha testa. Minha vida começou com um ato de violência. Isso, afrouxe um pouco, não vou fugir. Como eu dizia, minha vida começou com um ato de violência. Meu pai tinha doze anos quando sua madrasta o açoitou, violentamente, só porque ele tinha ido na dispensa pegar um pedaço de rapadura. O pai dele? Fez o que todo pai faz. Apoiou a madrasta. Meu pai então fugiu de casa, com aquele desgosto açucarado pingando dos dentes da alma. Fugiu de casa, trabalhou, foi à feira de quarta-feira e um dia viu minha mãe. Arma no coldre, meu pai decidiu que era tempo de casar, ter uma dispensa onde pudesse guardar sua rapadura. Apertado aqui, não? A senha? Juntei a minha idade e a do meu marido, somos da mesma idade. Depois as idades dos meninos. Não, digitou errado. A do menino mais novo vem primeiro. Eu sei, um pequeno embuste tolo. Minha vida acaba como começou, mas pelo menos você tem agora uma história em que pensar, além do meu saldo. O grande mistério é não haver mistério. Tudo o que começa, sempre acaba. Isso, desça um pouco mais para perto dos olhos, Ai!

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