Você não podia ter dito coisa pior comigo. Até aqui eu suportei tudo o que você fez e disse a mim e de mim.Nunca esqueci o dia em que você copiou a minha prova e disse à professora que eu tinha colado de você. A professora acreditou. Levei zero.Pediu meu canivete emprestado e não devolveu. Me deu um golpe no treino de luta livre sem avisar para eu ficar em guarda. Aproveitou que eu estava no gol, deu um nó na minha camisa e mijou em cima. Fez não sei quantas camas-de-gato quando eu estava distraído, conversando com a turma.Depois você disse a seu pai que eu tinha emprestado a revista que você levou para o banheiro. Ele me proibiu de ir na sua casa e ainda contou pro meu pai. Não apanhei, mas fiquei de castigo.Mais tarde você foi dizer à minha primeira namorada que eu tinha contado tudo que tinha feito com ela no cinema. Ela nem falou comigo. Acabou o namoro com um recado.Há pouco tempo, pediu para eu fazer um empréstimo e não me pagou, sujando meu nome no Serasa. Depois eu vi você pagando uma rodada de cerveja para um bando de vagabundos.Cantou minha mulher, vomitou no meu sofá bateu com o meu carro. De tudo isso eu desculpei você. Mas você não podia ter dito ou feito coisa pior comigo. Me chamar de irmão é um insulto que eu não agüento.
Ronaldo Monte. Clube do Conto, 27.09.07
Ilustração obtida em portal.educ.ar
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